Há muitos textos históricos que pouco falam em seus registros
sobre a escravidão, e em se tratando da escravidão das fronteiras gaúchas,
menos ainda; as informações que se obtinha a respeito do assunto vinham dos
registros policiais ou de depoimentos de viajantes pelo qual relatavam a
truculência da policia institucionalizada através dos trabalhos servis desta
província meridional constituída pelos ditos “urbanos” e os escravos.
A história
gaucha é contada com orgulho, mas ainda peca quando se trata da participação do
escravo (negro) e sua arquitetura urbanística, o autor tenta em sua obra
mostrar a luta desta classe tão oprimida, revelando a crueldade pelo qual foram
submetidos aos olhos das elites e como historiador, tenta mostrar através da
arquitetura como os escravos faziam parte deste cotidiano.
Outros
historiadores também participaram dos relatos da história dos negros e da
arquitetura colonial no que diz respeito à realidade gaúcha da época, como Francisco
Riopardense e Günter Weimer, sobre as transformações do lado sul das fronteiras
meridionais, Maestri por sua vez, opta pelo estilo neoclássico urbano no final
do período imperial a nova realidade que esta por vir; o autor procura mostrar
como esses escravos viviam nas ruas e povoados e sua relação com a arquitetura.
Os escravos se
dividiam em urbanos (“domésticos”) e os rurais, nas residências mais ricas
existiam escravos para realizar todos os tipos de serviço, isso havia virado
prática nas casas da elite provinciana gaúcha, eles eram os pés e mãos dos seus
senhores. Dentre as atividades, as mais freqüentes era a de pegar água,
enterrar lixo, limpar a casa, fabricavam sabão, velas, cigarros, manteiga,
preparavam as carnes, com a farinha de mandioca preparavam a goma para as
roupas dos patrões, além de seus banhos.
Os dejetos
inicialmente eram jogados no rio Guaíba e eram carregados pelos “tigres”,
escravos carregadores de fezes através de recipientes de ferro chamados de cabungos; os “cabungueiros” eram
açoitados se derramassem o material no chão, no final da década de 1870, eles
foram substituídos por carroças puxadas por burros. Posteriormente, por causa
do lixo abandonado nas vias públicas, o governo gaúcho criou uma lei que
obrigava os donos dessas casas a enterrarem o lixo em seus quintais,
proibindo-os de jogarem em locais de circulação de pessoas.
A polícia local
somente permitiria aos negros terem seus negócios se não fossem fixos, ou seja,
eles tinham que ser ambulantes, pois não era permitido que negociassem longe de
seus senhores, somente poderiam fazer isso com a autorização do mesmo ou sob
ordem judicial, eles jamais poderiam comercisalizar à noite, pois sua presença
era proibida depois de determinadas horas. As municipalidades ditavam como o
negro deveria se comportar perante a sociedade, proibindo sua aglomeração em
casas de negocio, tabernas, botequins, armazéns, etc... A polícia proibia ainda
festas e lazer entre eles como os fandangos, batuques e “zungus” (dança de
negros), a impressão que se tinha era de que essas autoridades locais eram
ignorantes em relação às festas profanas e religiosas dos escravos gaúchos.
Outra atividade da policia era pagar os “capitães do mato” na captura dos
negros fujões.
Caminhos e descaminhos de uma disciplina: A colonização brasileira
ditou a sociedade colonial deste 1532 até 1888, isso pode ser visto na obra de
Gilberto Freire em Sobrados e mucambos, nesta obra o autor revela o
relacionamento dessas moradias pelos escravos. Posteriormente nos anos sessenta
do século XX apareceram mais obras que tratassem da escravidão brasileira,
infelizmente o mesmo não aconteceu com estudos sobre a arquitetura. Na época tudo
era voltada para o modernismo, como a nova capital Brasília.
Falava-se menos
ainda sobre as artes em ambientes escolares, essas disciplinas eram vistas como
marginalizadas, o mercado imobiliário foi outro fator que reduziu a
participação do governo em preservar antigos casarões por causa da expansão
imobiliária, na verdade tudo isso fazia parte de um plano econômico inexpressivo
do governo que não tinha interesse em preservar o legado arquitetônico
histórico.
A nova ordem era
preservar as fachadas, seus interiores ficariam ao bel prazer de quem fosse
proprietário desses imóveis para fazer as transformações que quisessem; os
fatos políticos sempre falaram mais alto do que os urbanísticos por exemplo.
Do colonial neoclássico - um estilo para os
escravistas: Durante três séculos o Brasil foi um país escravista, havendo
basicamente os senhores e os trabalhadores escravos, para essa ordem existir,
era necessário uma rigidez por parte desses proprietários em relação aos
negros, isso se estendeu até 1888 com a abolição da escravatura. Os hábitos
negreiros foram introduzidos também na vida domestica de seus senhores, a
partir de 1808 com a vinda da família real ao Brasil, nesse ínterim, ocorreram
mudanças nas esferas da então colônia; em 1831 com a abdicação de D. Pedro I,
essas transformações sociais e ideológicas foram ainda mais presentes na
sociedade brasileira que caminhava para a construção do novo Estado brasileiro.
Todo tipo de
mudança era debatido nas mesas de negociação, ironicamente o mesmo não ocorria
quando o assunto era a expressão arquitetônica, esse novo estilo neoclássico
era visto como uma arma de modernidade para se livrar de uma vez por todas do
jugo português, ocorria à ruptura da arquitetura colonial. O estilo colonial
segundo Werneck Sodré representaria o rude, o imperfeito, por relembrar o
estilo semicolonial dos ditames europeus.
Razões profundas: A missão francesa contribuiu com sua influência para
o estilo neoclássico do Brasil colonial, essas transformações aconteceram nas
esferas ideológicas e estéticas, explicadas posteriormente pelo contexto
econômico, e político. A arquitetura brasileira passou por duas grandes
tendências: a continuidade da estrutura escravista e as transformações depois
da independência.
Residências secundárias: Na colônia a administração
urbana era feita pelos portugueses com seus estilos, sobre tudo o senhorial,
através da sua hegemonia rural, para isso era necessário um política rígida
social e austera; as principais residências se encontravam no campo, essa
representação espacial era mais importante do que se tivessem casas na cidade,
pois sua residência no campo era tida como símbolo de poder. A arquitetura
açucareira era desenvolvida para a época, afinal apresentava casas de até
quatro pisos, com varias salas (6) e muitos quartos (22); eram tão refinadas
que esse tipo de luxo só era encontrado em edifícios e repartições públicas.
Algumas obras
públicas como o Palácio dos Governadores, em Ouro Preto , o Paço do
Rio de Janeiro, o Paço Municipal e a Cadeia de Ouro Preto foram influenciadas
pelo iluminismo português, na America hispânica, isso se fez presente nas obras
arquitetônicas publicas representando o domínio ibérico sobre as classes astecas,
incas e maias, produtoras também de uma magnífica arquitetura monumental. Na
America portuguesa as primeiras construções ocorreram com os jesuítas, o
colégio Inaciano da Bahia tinha oitenta cubículos, por exemplo, eram
inicialmente construções sem imaginação, pouco arejadas, com uma arquitetura
carregada.
Confronto arquitetônico: Esse estilo pesado,
monolítico, da sociedade colonial era intencional, pois através desse estilo de
arquitetura era revelada a imponência do senhor do local, isso significava o
poder despótico dele sobre tudo e todos.
Fortalezas escravistas: A diferença entre as residências dava-se pela quantidade e não pela qualidade, os sobrados dos ricos falavam por si, os menores igualmente por causa de suas precariedades. A maioria das construções giravam em torno da praça central e da igreja ou ao lado desses sobrados, todas as construções tendiam a serem pobres esteticamente e visualmente, eram técnicas que denotavam a rusticidade patronal, isso se fazia também no estilo decorativo dos sobrados coloniais, sendo sóbrias, tendo como enfeites alguns cachorros nas partes mais pesadas do telhado.
As construções
do meio da quadra da praça central possuíam telhado de duas águas, as de
esquina tinham três ou quatro águas, tudo era muito rústico, esses telhados
eram de madeira ou de ripas de galhos de coqueiro, o assoalho era feito de
tabuão largo, todo essa arquitetura foi chamada de colonial brasileira.
Com a vinda da
família real, o Rio de Janeiro passa a ser a capital do império lusitano, com
isso ocorreram mudanças na estrutura social da cidade, mudando o antigo estilo
colonial para o novo estilo moderno da família; residências foram reformadas,
prédios construídos, ergueram a Capela Real, a Real Biblioteca, o Real Museu, o
Horto Real, o Observatório Astronômico, a Academia Real, etc. Mesmo o estilo
português ser considerado um dos mais atrasados da Europa, para o Brasil isso
significou o inicio de uma arquitetura moderna e refinada.
Fim do colonialismo: A permanência da família
real no Brasil ditava uma nova realidade, onde as rendas não mais eram
destinadas a capital Lisboa, mas permaneceriam aqui, com essa mudança toda a
estrutura colonial mudou novos imobiliários, objetos, materiais de construção
deram um novo significado a realidade vigente. Muitos desses materiais vinham
da Europa, ao chegarem aqui, eram redistribuídos para o resto do território, no
Rio Grande do Sul eram descarregados pelo porto da cidade de Rio Grande,
manufaturas como sal, telhas, caibros para a fixação de ripas, fechaduras,
piche, vidros, etc.
Muitas
tecnologias da época foram ocupando o lugar de tecnologias obsoletas como
treliças, balcões, rótulas e muxarabis (treliças de madeira
que serviam para suavizar a claridade). Essa inovações faziam parte do projeto
de Marques de Pombal de modernizar e padronizar o império luso cinqüenta anos
antes. O vidro era a representatividade plena dessa modernidade, pois
substituiu as fracas velas e lampiões, com isso a vida libertava-se da ditadura
do nascer e pôr do sol.
Quando
o Brasil foi elevado a Reino Unido em 1815, a coroa portuguesa solicitou o envio de
uma missão cultural francesa chefiada
por Joaquim Le Breton com a tarefa de fundar a Escola Real de Ciências, com
ele vieram artistas de primeira ordem para mostrar um Brasil diferente a partir
daquele momento.
Poucos amigos: Com a morte do conde Barca, a missão foi
fadada ao fracasso, pois as intrigas contra os franceses aumentariam,
dificultando seus projetos arquitetônicos, piorariam ainda mais com a Revolução
do Porto em 1822 que iniciaria o processo de independência do Brasil concluída
em 1823, ou seja, eram tempos difíceis para construções e para as artes. Em
1835 Montigny assumiria a direção da Escola de Belas Artes (inspirada no
neoclassicismo francês), não obteve apoio das elites escravistas, pois era
acusado de arruinar os proprietários das residências com os preços que
ultrapassavam altos custos orçamentados.
Montigny
trabalhou a iluminação em suas obras, arejando cantos e alcovas (pequeno quarto
interior onde está o leito), reorientou a localização para a construção dos
edifícios, obrigou o recuo das ruas, fez arborizações em logradouros públicos,
os primeiros terraços apareceram em sua gestão. Foi no período de sua
administração que se formaram diversas gerações de arquitetos, cabe ainda a ele
o titulo de um dos principais neoclássisistas do Brasil, estima-se que esse
período neoclássico tenha durado de 1810 a 1880. (70 anos)
Exemplos excelentes: Dentre a
arquitetura do neoclássico brasileiro destacam-se o teatro São João em Salvador
e Rio de Janeiro, eles eram a representatividade do teatro lisboeta São Carlos,
inspirado no teatro Alla Scalla em Milão. A Associação
Comercial Baiana fora inspirada no neoclassicismo inglês sobre tudo no norte de
Portugal, em geral, o estilo neoclássico ficou restrito ao acabamento das
fachadas dos prédios e casas. Esse estilo foi sendo substituído paulatinamente,
no caso das fachadas o que imperava agora eram as platibandas ornamentadas por
ânforas, estatuas de louças todo representado por formas mitológicas gregas.
Toda
essa nova decoração nada tinha haver com o Brasil, seu povo, sua fauna e flora,
nesse sentido havia uma comparação com os senhores de escravos da época com os
escravos da antiguidade, eles nada representavam para contribuir
arquitetonicamente com esse estilo. Nos EUA, foi adotado o estilo neoclássico
inglês no período da independência; no Brasil as fachadas abertas de vergas
retilíneas ou arco abatido foram substituídas por janelas e portas de arco
pleno, com bandeiras de ferro vazado em estilo de flores.
O que imperava
na arquitetura agora eram frontões triangulares sobre as fachadas, utilizavam-se
para corrigir a quebra harmônica das fachadas que possuíssem um numero impar de
janelas, as pilastras eram delineadas sobre as paredes, o capitel era
requintado pelos estilos jônicos, dórios ou coríntios.
Imitações superficiais: O estilo neoclássico fez
bastante sucesso no Brasil imperial por causa da tendência de seus senhores em
relação à estética e uniformidade do período, pois eles precisavam impor sua
autoridade e através desse estilo eles reafirmavam sua ideologia,
senhorialismo, unidade de classe e autonomia nacional. As paredes de pedra ou tijolo agora eram
pintadas e revestidas com cores suaves, as janelas eram enquadradas em pedras
aparelhadas em arco pleno com rosáceas e vidros coloridos.
A linguagem artística e arquitetônica era a Greco romana, pois representava paradoxalmente a republica, a democracia e a aristocracia, o mundo grego era democrático e republicano, pois não tinham representantes de sangue nobre, o mundo Greco romano era aristocrático, pois a elite se auto concebia títulos sobre os inferiores, com sua racionalidade superior.
Estética escravista: O estilo neoclássico
representava simbolicamente uma sociedade aristocrática construída por escravos
sob o paradigma de uma nação independente; Gilberto Freyre lembrava novamente
esse disparate pela forma como essa aristocracia se vestia e pelos objetos
utilizados por eles como correntes de ouro, anéis, bengalas, chapéus de sol,
etc. De forma geral, o estilo neoclássico se fez presente pelas fachadas
frontais que passava para a cidade urbana o seu status social, expressando
nelas suas riquezas, poder e refinamento aristocrático dos que podiam ter esse
tipo de capricho.
Referência:
MAESTRI, Mario.
O sobrado e o cativo: a arquitetura urbana no Brasil: o caso gaúcho/ Mario
Maestri. – Editora Passo Fundo: UPF. 2001. Capítulo I Pp: 27 – 156.
Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão.
Mr. reader , all images were taken from the Google search site , do not feel offended if perchance , one of the images posted are your , the blog 's intention is to illustrate didactically the text and not plagiarize images . Thank you for understanding .
Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão.
Mr. reader , all images were taken from the Google search site , do not feel offended if perchance , one of the images posted are your , the blog 's intention is to illustrate didactically the text and not plagiarize images . Thank you for understanding .
Nenhum comentário:
Postar um comentário