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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Os holandeses no Nordeste Brasileiro

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" não existe pecado do lado debaixo do Equador" - Gaspar Barleus
A Holanda no século XVII sem sombra de duvida foi o exemplo de esplendor para a liberdade e progresso, diferente da realidade européia em que se encontravam a economia e as artes, essa “alavancada” só foi possível graças ao capitalismo moderno proporcionado pela burguesia, sendo a holandesa a mais promissora por causa das Cia das Índias, responsável esta pela maioria do comercio entre oriente e ocidente.

O Brasil saiu ganhando de certa maneira com a presença de Mauricio de Nassau, ao ser o regente do Brasil por um breve tempo, essa vantagem deu-se no campo das artes, afinal ele era um apaixonado pela cultura artística. Com ele vieram uma comitiva formada pelos mais altos e gabaritados da época, como comerciantes, artistas, urbanistas, cidadãos alemães e holandeses. Foi o príncipe Nassau que tomou a dianteira em introduzir na colônia como, por exemplo, a tolerância religiosa a ponto de irritar até mesmo os próprios calvinistas. 
Este holandês foi o responsável pela modernização da produção brasileira em vários setores da economia, transformando-a de monocultura para policultura e foi na cidade do Recife que essas mudanças foram mais sentidas, pois o domínio nessa região era predominantemente judeu, e em terras brasileiras, o solo era “fértil” para eles. 

A vantagem desses judeus era por tradição serem excelentes negociantes, isso era visto com o tratamento dado ao comercio com a Cia das Índias, essa presença judia era tão forte que Recife foi o primeiro lugar no Brasil a contar com a presença de um rabino. A administração de Nassau modernizou o país com a criação de hospitais, ajuda assistencialista e técnica as aldeias, bem como deram inicio a urbanização da cidade.

Mesmo com todo esse progresso em andamento, as mazelas do progresso acompanhavam tudo isso, como doenças e epidemias, bordeis, pragas, pestes, tudo relacionado à sujeira, pouca infra estrutura higiênica. Outro destaque que diferenciava os holandeses dos portugueses era de que eles dependiam exclusivamente da metrópole holandesa para sobreviver, ao contrario dos portugueses que já retiravam dos produtos da colônia a sua sobrevivência.

Palácio de Vrijburg
O açúcar era o único desejo dos batavos, não a sua produção; outro ponto negativo que contava contra eles eram os ataques sofridos sorrateiramente por táticas que lembravam em muito as guerrilhas, isso impedia o avanço deles no interior nordestino. A presença de Nassau foi indubitavelmente vantajosa para as artes e a pintura foi à privilegiada, pois sua reputação era de um homem culto, adorador das artes e por causa de seu bom gosto mandou construir a sua própria residência, o palácio de Vrijburg e a ponto de quando a Cia das Índias não tinha lhes repassava o patrocínio para os projetos, ele mesmo “desembolsava” o dinheiro para dar continuidade aos seus projetos artísticos e arquitetônicos.

Fora considerado um homem a frente de seu tempo pela audácia e pelos projetos ecológicos, urbanos, culturais. Era criticado em pleno solo holandês por seus compatriotas, mas ele revidava dizendo que eles eram homens de pouca visão, pois pensavam somente em curto prazo. A “sede” portuguesa, porém era maior em recuperar o que era seu por direito ainda mais quando se tratava de dar a revanche à inimiga histórica Espanha. Sua “epopéia” brasileira findaria em 1694, com o seu retorno a Holanda. O cenário brasileiro agora era de disputas e isso ficou ainda mais evidente com a baixa do preço do açúcar no mercado internacional a ponto de em 1648 eclodir a guerra dos Guararapes onde os portugueses sairiam em vantagem e em 1654 os holandeses tomaram o caminho de volta para a Holanda.

Os pintores holandeses em Pernambuco.
Dentre os mais notáveis, destacaram-se Frans Post e Albert Eckout, sendo responsável num período de 24 anos a introdução das artes no nordeste brasileiro, a ponto de se destacarem internacionalmente pela magnífica documentação do rico patrimônio natural, de seu povo, as organizações urbanas, os registros da economia, fauna e flora.

Frans Post – sua fama lhe valeu pelas pinturas oficias ao governo holandês junto da Cia das Índias pelas suas obras gráficas e pictóricas com relação às paisagens. Sua forma de trabalhar obedecia a certos ditames padronais como o ponto no horizonte, os planos abertos e fechados, diagonais que remetiam aos rios e caminhos que ligavam o primeiro plano ao plano de fundo. O destaque iria para o horizonte que se enquadraria a um terço do quadro. Dentre as suas obras de maior destaque encontram- se Vista de Itamaracá, Vista de Antonio Vaz e quatro pinturas que foram oferecidas ao rei Luis XIV, bem como outras obras não menos importantes como Rio São Francisco, Forte Mauritius, Carro de Bois, Forte dos Reis Magos e Paisagens das Cercanias de Porto Calvo.

Na sua magnificência, Post utilizava vários métodos de pintura, dentre os quais se destacava o uso de paletas de cores onde retrataria o nosso tropicalismo de forma sóbria e simplificada, dando destaque para a atmosfera local e suas peculiaridades. Todas as obras produzidas no Brasil obedeciam aos padrões propostos pelo equilíbrio lírico. As características desse período destacavam-se pelo seu exotismo, agora com elementos da fauna e flora pintados com certo aumento, mas que ficaria em primeiro plano, visto que nem sempre faziam uso do modo “padrão” referido as pinturas da época. Muito se utilizava nessas técnicas, como por exemplo, o recurso da incidência de luzes em planos longínquos e próximos, priorizando as características das vestes em particular as cores brancas na pele dos negros.

Albert Eckout – junto com Frans Post se apaixonou pela fauna e flora brasileira, priorizando o homem na natureza morta; esse artista pintou de desenhou dezenas de obras com destaque como citado para painéis onde apareciam as aves daquele período. Com infortúnio, suas obras perderam-se com o tempo causado pelas guerras européias, principalmente as guerras do século passado. Somente no século XX suas obras adquiririam o verdadeiro valor com destaque para o estilo utilizado nelas como o renascentista italiano utilizado pelos mestres holandeses.

Esse destaque era percebido pelo realismo ao naturismo e sua precisão objetiva dos detalhes, por causa disso, suas obras eram usadas como referencia para futuras pesquisas por causa da riqueza dos detalhes na plantas, frutas e animais, mesmo sendo rica em informações, eram consideradas obras sem emoções. Posteriormente através de pesquisas, chegou-se a conclusão de que essas obras apresentavam sim toda uma sensibilidade à natureza morta, pois essa transmitia além de emoções, o lirismo impactante do visual estético, a ponto de se imaginar o perfume das flores pintadas por ele. Todas essas obras remetiam ao renascimento, sob a influencia italiana em relação à natureza. Outro destaque de suas obras eram as chamadas artes de sugestões de ilusões, enriquecidas pelo conjunto de luzes, cores, perspectivas e planos.                     

Os índios também eram pintados com sua devida relevância, sobre tudo os tupis e tapuias, no seu cotidiano de guerra, convivência com o branco e em cerimoniais de antropofagia; por causa desse contato com o branco, o índio foi paulatinamente perdendo seus traços culturais a mercê da própria colônia. Uns poucos ainda conservavam suas características primitivas, mas a maioria já estava em contato com o europeu. Nas pinturas indígenas, era retratado com destaque o corpo dos índios, sua excelência se fazia presente pelo realismo e fidelidade das pinturas, isso ocorria por que o pensamento europeu daquela época remetia a formosura e beleza dos corpos e rostos, mesmo a realidade não sendo condizente com as pinturas, o padrão de beleza estético era mantido pelos europeus.

As índias também eram retratadas por Eckout, aparecendo em cenas de antropofagia com pedaços de membros de seus oponentes como “souvenir”, não só as índias eram representadas, mas toda uma gama étnica como os negros já fazia parte de seu repertório. Para a humanidade coube guardar seu legado de pinturas étnicas ao lado de índios, negros e mulatos, com uma forte predisposição a não retratar o europeu nesse ínterim; esses arquivos em forma de desenho representam o cenário antropológico das cores e sua mistura cultural, graças à corte de Nassau, foram compostos os novos repertórios de gênero combinado com a natureza morta.

Todo desenho é carregado de uma significância, e isso era notório em quadros como as representações do marfim nos pés dos negros e a mandioca para o índio tupi ou a cana de açúcar para o mulato. Essas obras representavam o cotidiano e as mudanças que o branco havia promovido, como por exemplo, os negros portando espadas e lanças; foram muitas as obras em que mulatos agora estão paramentados com armas de fogo exclusiva de brancos, tudo isso girava em torno da política de dominação ou de alianças contra os inimigos, no caso os holandeses.                                                       

Zacharias Wagener (1614 – 1668): era um pintor alemão que se destacou dentro da Cia das Índias Ocidentais e Orientais, suas obras destacavam-se pela habilidade, se for levado em conta de que ele não era considerado um pintor profissional, e elas faziam forte alusão a tradição religiosa. Sua maneira de produzir baseava-se na naturalidade e objetividade relativo ao movimento, ambientação, cor, brilho e textura.

Georg Marcgraf (1610 – 1644): também alemão, desenvolveu suas artes em mapas cartográficos, escreveu Historia Naturalis Brasiliae, que se destacou pela grande quantidade de espécies da fauna e flora brasileira, grupos étnicos, costumes, anotações de astronomia, estrelas do hemisfério sul, distancias latitudinais e longitudinais. Em nossas terras destacou-se pelo estudo da nossa diversidade ambiental.

Bonaventura
Gillis Peeters e Bonaventura Peeters: eram dois irmãos mestres em obras relacionadas às paisagens marinhas, destacaram-se por primeiro esboçar seus desenhos e posteriormente desenhá-los nas telas. Algumas obras como Vista para o Recife, apresentam características únicas como a visão panorâmica das esquadras navais e as fortificações holandesas. Em outra obra, O Forte dos Reis Magos no Rio Grande do Norte, sobressai-se o jogo de sombras sobre a natureza indomável.   

                

Abraham Willaerts e Casper Schmalkaldem: o primeiro teria sua presença em terras brasileiras por pouco tempo, para depois partir para Angola, sua principal obra Desembarque dos Holandeses num litoral Defendido pelos Espanhóis, ela alude a batalha de São Vicente em meados do século XVII. O segundo pintor permaneceu no Brasil por três anos, e produziu Diário com cento e vinte e oito desenhos. Esses desenhos retratavam a fauna, as urbes, construções e principalmente as reconstruções históricas.

Barleus descreve o Brasil – com a volta de Nassau para a Holanda, Casper Van Baerle produziu a obra Rerum per octennium in Brasília, onde descreve o país em relação ao clima, aos períodos de seca e chuvas, o nascente e poente do sol, que para ela, a nós era mais vertical, fala da luminosidade das noites, nossos nevoeiros, o açúcar e o pau-brasil utilizado no tingimento das roupas. O relato continuava com a descrição de nossos índios andando nus, com suas pinturas corporais, ressaltando a robustez dos corpos e os enfeites utilizados por eles no cotidiano e em cerimônias; curiosamente não faz destaque especial ao que os índios acreditavam ou veneravam como, por exemplo, aos fenômenos naturais, com exceção dos raios e trovoes.

As formas de relacionamento também são registradas, bem como o desconhecimento das horas de se alimentar seguindo os hábitos europeus em relação aos deles, ele descreve como viviam na sua sociedade. A farinha de mandioca recebe um tratamento especial pela forma como era produzida e ingerida. Eram exímios nadadores, além de nadarem com os olhos abertos na água, isso aprimorava suas habilidades de caçar, pescar, bem como o merecimento de sua destreza nessas artes de sobrevivência. Esse era o Brasil visto por esses estrangeiros, bem ou mal, foi uma forma de deixar registrado como eram e como viviam nossos antepassados.   

Referências
SILVA, Raul Mendes. Os holandeses no Nordeste Brasileiro. IN: História da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Rumo Certo Prod. Culturais, 2007.

Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão.

2 comentários:

  1. Olá Renato, teria como você responder a minha duvida desse link?
    http://ahistoriapresente.blogspot.com.br/2013/03/o-coronelismo-numa-interpretacao.html

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  2. Sérgio, o que realmente acontecia nesse período é que ninguém era legalmente livre, a liberdade ocorria só no papel, os negros por exemplo, quando eles trabalhavam para o senhor de engenho, bem ou mal, eles tinham alimentação, lugar para morar, depois da abolição, muitos deles não tinham mais nem isso, estavam a própria sorte; os imigrantes na sua maioria foram enganados, ao chegarem ao Brasil, já estavam endividados, tinham que pagar a passagem, visto que o governo brasileiro falou que pagaria, ao chegarem aqui, muitos deles passaram fome, pois não tinham dinheiro, lugar para viver e tinham adquirido essa divida, não restava outra saida senão trabalhar para esses cafeicultores, de fato o escravismo só mudou de nome, porque na pratica os escravos foram trocados pelos negros africanos. Os habitantes que aqui viviam eram na sua maioria analfabetos, ignorantes, viviam para comer, quase nada podia ser feito devido aos poderes da oligarquia que a própria república apoiava por debaixo dos panos. Em geral, mudaram apenas os nomes, pois as formas de dominação continuavam as mesmas, só que dessa vez escamoteadas.

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