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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Caminhos e descaminhos de uma disciplina

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“Aqueles que negam a liberdade aos outros, não a merecem para si mesmos. ” Abraham Lincoln


O sobrado e o cativo.


Há muitos textos históricos que pouco falam em seus registros sobre a escravidão, e em se tratando da escravidão das fronteiras gaúchas, menos ainda; as informações que se obtinha a respeito do assunto vinham dos registros policiais ou de depoimentos de viajantes pelo qual relatavam a truculência da policia institucionalizada através dos trabalhos servis desta província meridional constituída pelos ditos “urbanos” e os escravos.



A história gaucha é contada com orgulho, mas ainda peca quando se trata da participação do escravo (negro) e sua arquitetura urbanística, o autor tenta em sua obra mostrar a luta desta classe tão oprimida, revelando a crueldade pelo qual foram submetidos aos olhos das elites e como historiador, tenta mostrar através da arquitetura como os escravos faziam parte deste cotidiano. Outros historiadores também participaram dos relatos da história dos negros e da arquitetura colonial no que diz respeito à realidade gaúcha da época, como Francisco Riopardense e Günter Weimer, sobre as transformações do lado sul das fronteiras meridionais, Maestri por sua vez, opta pelo estilo neoclássico urbano no final do período imperial a nova realidade que esta por vir; o autor procura mostrar como esses escravos viviam nas ruas e povoados e sua relação com a arquitetura.

Os escravos se dividiam em urbanos (“domésticos”) e os rurais, nas residências mais ricas existiam escravos para realizar todos os tipos de serviço, isso havia virado prática nas casas da elite provinciana gaúcha, eles eram os pés e mãos dos seus senhores. Dentre as atividades, as mais freqüentes era a de pegar água, enterrar lixo, limpar a casa, fabricavam sabão, velas, cigarros, manteiga, preparavam as carnes, com a farinha de mandioca preparavam a goma para as roupas dos patrões, além de seus banhos.

Os dejetos inicialmente eram jogados no rio Guaíba e eram carregados pelos “tigres”, escravos carregadores de fezes através de recipientes de ferro chamados de cabungos; os “cabungueiros” eram açoitados se derramassem o material no chão, no final da década de 1870, eles foram substituídos por carroças puxadas por burros. Posteriormente, por causa do lixo abandonado nas vias públicas, o governo gaúcho criou uma lei que obrigava os donos dessas casas a enterrarem o lixo em seus quintais, proibindo-os de jogarem em locais de circulação de pessoas.

A polícia local somente permitiria aos negros terem seus negócios se não fossem fixos, ou seja, eles tinham que ser ambulantes, pois não era permitido que negociassem longe de seus senhores, somente poderiam fazer isso com a autorização do mesmo ou sob ordem judicial, eles jamais poderiam comercisalizar à noite, pois sua presença era proibida depois de determinadas horas. As municipalidades ditavam como o negro deveria se comportar perante a sociedade, proibindo sua aglomeração em casas de negocio, tabernas, botequins, armazéns, etc... 


A polícia proibia ainda festas e lazer entre eles como os fandangos, batuques e “zungus” (dança de negros), a impressão que se tinha era de que essas autoridades locais eram ignorantes em relação às festas profanas e religiosas dos escravos gaúchos. Outra atividade da policia era pagar os “capitães do mato” na captura dos negros fujões.


Introdução

A colonização brasileira ditou a sociedade colonial deste 1532 até 1888, isso pode ser visto na obra de Gilberto Freire em Sobrados e mucambos, nesta obra o autor revela o relacionamento dessas moradias pelos escravos. Posteriormente nos anos sessenta do século XX apareceram mais obras que tratassem da escravidão brasileira, infelizmente o mesmo não aconteceu com estudos sobre a arquitetura. Na época tudo era voltada para o modernismo, como a nova capital Brasília.

Falava-se menos ainda sobre as artes em ambientes escolares, essas disciplinas eram vistas como marginalizadas, o mercado imobiliário foi outro fator que reduziu a participação do governo em preservar antigos casarões por causa da expansão imobiliária, na verdade tudo isso fazia parte de um plano econômico inexpressivo do governo que não tinha interesse em preservar o legado arquitetônico histórico.

A nova ordem era preservar as fachadas, seus interiores ficariam ao bel prazer de quem fosse proprietário desses imóveis para fazer as transformações que quisessem; os fatos políticos sempre falaram mais alto do que os urbanísticos por exemplo.


Durante três séculos o Brasil foi um país escravista, havendo basicamente os senhores e os trabalhadores escravos, para essa ordem existir, era necessário uma rigidez por parte desses proprietários em relação aos negros, isso se estendeu até 1888 com a abolição da escravatura. Os hábitos negreiros foram introduzidos também na vida domestica de seus senhores, a partir de 1808 com a vinda da família real ao Brasil, nesse ínterim, ocorreram mudanças nas esferas da então colônia; em 1831 com a abdicação de D. Pedro I, essas transformações sociais e ideológicas foram ainda mais presentes na sociedade brasileira que caminhava para a construção do novo Estado brasileiro.

Todo tipo de mudança era debatido nas mesas de negociação, ironicamente o mesmo não ocorria quando o assunto era a expressão arquitetônica, esse novo estilo neoclássico era visto como uma arma de modernidade para se livrar de uma vez por todas do jugo português, ocorria à ruptura da arquitetura colonial. O estilo colonial segundo Werneck Sodré representaria o rude, o imperfeito, por relembrar o estilo semicolonial dos ditames europeus.

A missão francesa contribuiu com sua influência para o estilo neoclássico do Brasil colonial, essas transformações aconteceram nas esferas ideológicas e estéticas, explicadas posteriormente pelo contexto econômico, e político. A arquitetura brasileira passou por duas grandes tendências: a continuidade da estrutura escravista e as transformações depois da independência.

Na colônia a administração urbana era feita pelos portugueses com seus estilos, sobre tudo o senhorial, através da sua hegemonia rural, para isso era necessário um política rígida social e austera; as principais residências se encontravam no campo, essa representação espacial era mais importante do que se tivessem casas na cidade, pois sua residência no campo era tida como símbolo de poder. A arquitetura açucareira era desenvolvida para a época, afinal apresentava casas de até quatro pisos, com varias salas (6) e muitos quartos (22); eram tão refinadas que esse tipo de luxo só era encontrado em edifícios e repartições públicas.

Algumas obras públicas como o Palácio dos Governadores, em Ouro Preto, o Paço do Rio de Janeiro, o Paço Municipal e a Cadeia de Ouro Preto foram influenciadas pelo iluminismo português, na America hispânica, isso se fez presente nas obras arquitetônicas publicas representando o domínio ibérico sobre as classes astecas, incas e maias, produtoras também de uma magnífica arquitetura monumental. Na America portuguesa as primeiras construções ocorreram com os jesuítas, o colégio Inaciano da Bahia tinha oitenta cubículos, por exemplo, eram inicialmente construções sem imaginação, pouco arejadas, com uma arquitetura carregada.




Esse estilo pesado, monolítico, da sociedade colonial era intencional, pois através desse estilo de arquitetura era revelada a imponência do senhor do local, isso significava o poder despótico dele sobre tudo e todos.

Fortalezas escravistas.
A diferença entre as residências dava-se pela quantidade e não pela qualidade, os sobrados dos ricos falavam por si, os menores igualmente por causa de suas precariedades. A maioria das construções giravam em torno da praça central e da igreja ou ao lado desses sobrados, todas as construções tendiam a serem pobres esteticamente e visualmente, eram técnicas que denotavam a rusticidade patronal, isso se fazia também no estilo decorativo dos sobrados coloniais, sendo sóbrias, tendo como enfeites alguns cachorros nas partes mais pesadas do telhado.  

As construções do meio da quadra da praça central possuíam telhado de duas águas, as de esquina tinham três ou quatro águas, tudo era muito rústico, esses telhados eram de madeira ou de ripas de galhos de coqueiro, o assoalho era feito de tabuão largo, todo essa arquitetura foi chamada de colonial brasileira.

Com a vinda da família real, o Rio de Janeiro passa a ser a capital do império lusitano, com isso ocorreram mudanças na estrutura social da cidade, mudando o antigo estilo colonial para o novo estilo moderno da família; residências foram reformadas, prédios construídos, ergueram a Capela Real, a Real Biblioteca, o Real Museu, o Horto Real, o Observatório Astronômico, a Academia Real, etc. Mesmo o estilo português ser considerado um dos mais atrasados da Europa, para o Brasil isso significou o inicio de uma arquitetura moderna e refinada.

A permanência da família real no Brasil ditava uma nova realidade, onde as rendas não mais eram destinadas a capital Lisboa, mas permaneceriam aqui, com essa mudança toda a estrutura colonial mudou novos imobiliários, objetos, materiais de construção deram um novo significado a realidade vigente. Muitos desses materiais vinham da Europa, ao chegarem aqui, eram redistribuídos para o resto do território, no Rio Grande do Sul eram descarregados pelo porto da cidade de Rio Grande, manufaturas como sal, telhas, caibros para a fixação de ripas, fechaduras, piche, vidros, etc.

Muitas tecnologias da época foram ocupando o lugar de tecnologias obsoletas como treliças, balcões, rótulas e muxarabis (treliças de madeira que serviam para suavizar a claridade). Essa inovações faziam parte do projeto de Marques de Pombal de modernizar e padronizar o império luso cinqüenta anos antes. O vidro era a representatividade plena dessa modernidade, pois substituiu as fracas velas e lampiões, com isso a vida libertava-se da ditadura do nascer e pôr do sol.

Quando o Brasil foi elevado a Reino Unido em 1815, a coroa portuguesa solicitou o envio de uma missão cultural francesa chefiada  por Joaquim Le Breton com a tarefa de fundar a Escola Real de Ciências, com ele vieram artistas de primeira ordem para mostrar um Brasil diferente a partir daquele momento.

Com a morte do conde Barca, a missão foi fadada ao fracasso, pois as intrigas contra os franceses aumentariam, dificultando seus projetos arquitetônicos, piorariam ainda mais com a Revolução do Porto em 1822 que iniciaria o processo de independência do Brasil concluída em 1823, ou seja, eram tempos difíceis para construções e para as artes. Em 1835 Montigny assumiria a direção da Escola de Belas Artes (inspirada no neoclassicismo francês), não obteve apoio das elites escravistas, pois era acusado de arruinar os proprietários das residências com os preços que ultrapassavam altos custos orçamentados.

Montigny trabalhou a iluminação em suas obras, arejando cantos e alcovas (pequeno quarto interior onde está o leito), reorientou a localização para a construção dos edifícios, obrigou o recuo das ruas, fez arborizações em logradouros públicos, os primeiros terraços apareceram em sua gestão. Foi no período de sua administração que se formaram diversas gerações de arquitetos, cabe ainda a ele o titulo de um dos principais neoclássisistas do Brasil, estima-se que esse período neoclássico tenha durado de 1810 a 1880. (70 anos)

"Exemplos excelentes."
Dentre a arquitetura do neoclássico brasileiro destacam-se o teatro São João em Salvador e Rio de Janeiro, eles eram a representatividade do teatro lisboeta São Carlos, inspirado no teatro Alla Scalla em Milão. A Associação Comercial Baiana fora inspirada no neoclassicismo inglês sobre tudo no norte de Portugal, em geral, o estilo neoclássico ficou restrito ao acabamento das fachadas dos prédios e casas. Esse estilo foi sendo substituído paulatinamente, no caso das fachadas o que imperava agora eram as platibandas ornamentadas por ânforas, estatuas de louças todo representado por formas mitológicas gregas.

Toda essa nova decoração nada tinha haver com o Brasil, seu povo, sua fauna e flora, nesse sentido havia uma comparação com os senhores de escravos da época com os escravos da antiguidade, eles nada representavam para contribuir arquitetonicamente com esse estilo. Nos EUA, foi adotado o estilo neoclássico inglês no período da independência; no Brasil as fachadas abertas de vergas retilíneas ou arco abatido foram substituídas por janelas e portas de arco pleno, com bandeiras de ferro vazado em estilo de flores.

O que imperava na arquitetura agora eram frontões triangulares sobre as fachadas, utilizavam-se para corrigir a quebra harmônica das fachadas que possuíssem um numero impar de janelas, as pilastras eram delineadas sobre as paredes, o capitel era requintado pelos estilos jônicos, dórios ou coríntios.

Imitações superficiais.
O estilo neoclássico fez bastante sucesso no Brasil imperial por causa da tendência de seus senhores em relação à estética e uniformidade do período, pois eles precisavam impor sua autoridade e através desse estilo eles reafirmavam sua ideologia, senhorialismo, unidade de classe e autonomia nacional.  As paredes de pedra ou tijolo agora eram pintadas e revestidas com cores suaves, as janelas eram enquadradas em pedras aparelhadas em arco pleno com rosáceas e vidros coloridos.

A linguagem artística e arquitetônica era a Greco romana, pois representava paradoxalmente a republica, a democracia e a aristocracia, o mundo grego era democrático e republicano, pois não tinham representantes de sangue nobre, o mundo Greco romano era aristocrático, pois a elite se auto concebia títulos sobre os inferiores, com sua racionalidade superior.

Estética escravista.
O estilo neoclássico representava simbolicamente uma sociedade aristocrática construída por escravos sob o paradigma de uma nação independente; Gilberto Freyre lembrava novamente esse disparate pela forma como essa aristocracia se vestia e pelos objetos utilizados por eles como correntes de ouro, anéis, bengalas, chapéus de sol, etc. De forma geral, o estilo neoclássico se fez presente pelas fachadas frontais que passava para a cidade urbana o seu status social, expressando nelas suas riquezas, poder e refinamento aristocrático dos que podiam ter esse tipo de capricho.

Referência:
MAESTRI, Mario. O sobrado e o cativo: a arquitetura urbana no Brasil: o caso gaúcho/ Mario Maestri. – Editora Passo Fundo: UPF. 2001. Capítulo I Pp: 27 – 156.


Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão.

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