História de classe ou história do povo? – Déa Fenelon
Dea Fenelon inicia seu trabalho com questões sobre a realidade social incompreendidas pela construção das perspectivas das transformações tidas como capazes de orientar através da pratica social, o que percebe-se é o desencantamento, desesperança e cansaço, pois são anos que a sociedade brasileira atravessa para chegar à chamada transição democrática; a sensação é de que os brasileiros vivem suas agruras lentas e angustiantes do tempo para o forjamento dessa constituição, que a todo o momento sofre ataques como, por exemplo, o arrocho salarial, desemprego, inflação, tão complicada que já não há mais tentativas de tentar compreende-la.
Esses fatos nos colocam diante da crise da modernidade ou do rompimento utópico, tem-se a impressão de vivermos sob uma ruptura que nos é revelada como um mal estar da modernidade, pois ela trata de algo indefinível, pois não traz evidencias de uma realidade concreta. Segundo Walter Benjamin, é preciso criar um conceito sobre o presente para que ele preencha o conceito histórico, nesse sentido, haverá a inversão da relação passada e presente, assim, os problemas, lutas e experiências históricas de outros momentos politizarão a historia transmitida e produzida.
Há uma definição de presente que permite atribuir ao passado uma direção, orientando-o ao futuro que ser quer construir, por isso a importância da historia e seu desempenho em produzir conhecimento ora pela difusão, ora pela transmissão. Sempre que fazemos uma critica a produção, esta é feita sob o prisma da ultima apresentação, por sua vez, nos reservamos nesta, o ensino da historia como atividade paralela ou secundaria, pois, a reclamação segundo Dea, é a angustia sofrida pelos professores através das discussões diárias nas escolas, diante da precariedade assustadora do contexto escolar, e da falta de experiência para esses profissionais lidarem com a realidade da instituição e do ensino a ser ministrado.
As intenções e objetivos escolares ainda estão por assim dizer turvos, não há uma clareza de quem ensina historia em relação a sua pratica social e o compromisso a ser desempenhado. A pratica com o trabalho é um desafia a ser cumprido, sendo justamente essa adversidade a força propulsora que se atingir o objetivo, assim se faz presente a todo o momento que se repense o desejo real em relação aos problemas que por ventura surjam, sendo na sua maioria das vezes incompreendidos formalmente, desqualificando assim o profissional, e prejudicando o grupo como um todo. A intenção é tornar o dialogo sadio, e aberto as posições naturais, debatendo a troca de experiência, que ainda não é consenso entre os historiadores, assim percebe-se o desejo e realização da pratica docente.
Existem historiadores que não falam de suas teorias e concepções, e quando isso acontece, buscam nas dificuldades conceituais o fato, questionando-o, mas nunca se baseando em pressupostos documentais; ao término dos estudos, produz-se a historia organizada, linear e dialética, baseada na contradição do conflito, visando objetivar o resultado da transformação do verdadeiro conhecimento. Fenelon destaca ainda, o ensino e a aprendizagem de História como exercício de pensar o desenvolvimento num todo das qualidades e capacidades cognitivas para contestar valores e perceber o que se pode mudar naturalmente, justificando essa mudança; por isso a necessidade do ensino ser fundamental quando acompanhada de uma posição presente as concepções fundamentadas para produzir história e delas criar novas abordagens.
As diferenças também devem ser destacadas, sendo importante reconhecer que ninguém deve deter o monopólio do conhecimento, pois o caminho a ser percorrido para a construção e transformação deve ser trilhado por todos, isto quer dizer, um projeto baseado na construção democrática e social. Fenelon cita ainda Hobsbawn, pois ele diante de indagações desenvolvia impasses que dirigiriam interesses a temática trabalhada em todos os seus desdobramentos na formação histórica e social brasileira por exemplo. Existe entre os historiadores, os que vivem fazendo currículos escolares, para o publico, isto torna-se relevante, mas pode ocorrer confusão no mundo acadêmico, além das áreas sociais; cabe perguntar-se então se a historia praticada tem contribuído ou distanciado a população, mesmo preservando e conservando a sua memória.
Para os historiadores, o objetivo é a transformação, a mudança, o movimento e perceber isso, saber como acontece, ter conhecimento do por que disso a partindo dessa premissa, dar novas direções as mudanças ocorridas. A historia tem feito seu papel em relação ao tema, abrindo caminho aos historiadores nas suas diversas abordagens e concepções, apesar das dificuldades do esforço de tornar isso claro, mas ela contribuí para alargar o campo das atividades que serão estudadas, objetivando assim, a compreensão e articulação das temáticas sociais, mesmo sendo um objeto de pouco estudo, mesmo restritos, esses objetos nos revelam questões da Historia Social como experiências vivenciadas.
A tradição da luta operaria das classes, por exemplo, foi um movimento que caracterizou por muito tempo a produção historiográfica para os historiadores sociais simpatizantes do marxismo, porém isso acabou por distorcer a experiência dos diversos grupos formadores dessas classes; o proletariado brasileiro também identificou-se com o mito da historiografia, identificando-se fortemente com a mão de obra imigrante, por isso a perda de elementos formadores do mercado assalariado.
Havia preocupações em acompanhar dentro da linha de trabalho, os feitos das lideranças frente ao proletariado através do exame de vivencia das pessoas, da cultura, família, tradição, festas, das vivencias em torno da sociedade com suas características, definindo-a socialmente através de seus desdobramentos num esforço coletivo de construir elementos hábeis de moradia, alimentação e diversão através das particularidades de cada um, assim o homem se torna “dócil” e “domesticado” frente ao mundo racional e capitalista.
Thompson dizia que a experiência social significava a retomada desses períodos, sempre trabalhando as temáticas relegadas ao esquecimento como forma de repensar a construção das classes. Deve-se ressaltar ainda que a luta de classe, antes de tudo, é percebida culturalmente com o modo de vida desses trabalhadores, definindo-os assim, como o campo de forças na luta de seu discurso.
A historia social acaba lidando assim com elementos que não foram trabalhados por outras especializações, assim, reconhece-se o sentimento e valores dados como não imponderáveis, valorizando reflexões por causa da importância dada a discussão das mudanças sociais, ainda mais quando se refere à moral, pois ela sempre explorará o campo das contradições, segundo Marx, por isso, projetos alternativos de organizar esses valores sociais.
Portanto, a historia social representa a rebeldia de alguns historiadores por ser vista por alguns deles como historia com política deixada de lado, por isso a critica da historia ser construída de cima para baixo, colocando ênfase em outros sujeitos, sendo eles os mais visados reis, políticos e pessoas com cargos “importantes” responsáveis pelos grandes atos históricos, tornando-os assim heróis ou vilões. A idéia proposta é afastar a historia social como supérflua pela fato dela apresentar sua diversidade, tornando-a leve se comparada a historia economia e política, tornando-se, por conseguinte social e menos anticapitalista.
São problemas teóricos e metodológicos a serem combatidos, pois há a questão da teoria explicita e definida como marxista nesse universo social e político, com interesse em reconhecer as diferentes interpretações e superações, até mesmo as criticas destinadas as abordagens dimensionadas da historia social. Na historiografia francesa, a coerência é seguida pela valorização e quantificação de noções totais e estruturais, o resultado disso, é o reforço das idéias estáveis e continuas das tradições que remontam a Escola dos Annales.
A luta pelo desenvolvimento da Historia das Mentalidades caracterizou o desdobramento das perspectivas a passagem justamente dessa nova historia francesa; ocorreram algumas tentativas de historiadores das mentalidades inglesas também interessados nas classes operarias, porém, sua fragilidade teórica incorpora os conceitos sociais como tradicionais e modernos, tendendo a explicações funcionalistas, afastando-se assim das suas abordagens.
A critica existencial ocorre por causa da historia das mentalidades aparentemente não se preocupar com questões teóricas fundamentadas em explicações, negando, por tanto, a idéia do processo de mudança; a historia social não tem como lema buscar modelos elaborados e explicativos, alias, nem outra teoria pode ser pensada como capaz de dispensar a investigação empírica sobre a realidade. Não é a questão de forçar a reflexão não tendo nada a ver com a realidade, nem como algo pronto e acabado para servir como modelo. As correntes teóricas ganham importância pelo fato de atenderem e responderem ao silencio ou inquietação, assim, ela começa a ter valor no seu próprio trabalho teórico, sem ficar parado esperando os fatos acontecerem, por isso a importância fundamental para a Historia Social ser periódica.
A classe se define com sua própria luta, pois convivem com sua historia, sendo ela sua definição possível, no caso dos brasileiros, faltam estudos históricos mais profundos em diversos campos da sociedade como no caso da religião e praticas religiosas, por exemplo, são questões que abordam a configuração religiosa da igreja como instrumento de controle social, principalmente sobre os pobres, despossuídos.
Faltam estudos ainda que trabalhe as divisões espaciais e urbanas, bem como as comunicações do país, a cultura, as diversões, os locais de diversão e outros espaços alternativos, como a questão da criminalidade e os crimes cometidos, esse fato explica a ligação entre criminalidade de organização de mercado de trabalho. Ainda dentro do campo da carência de estudos, pode-se citar o surgimento da burocratização das instituições como a policia, por exemplo, e outras atividades que se faça a necessidade de punição através da vigilância em prisões, asilos, delegacias.
Por isso, a necessidade de se compreender a cultura baseada em experiências e contradições sociais desenvolvidas; o desafio é como entender e enfrentar essas concepções já prontas da cultura popular, portanto, iniciaríamos assim uma tentativa de reproduzir a historia popular ou a historia do povo.
Dea Fenelon coloca ainda que as classes operárias pré industriais eram passivas da adequação aos subprodutos culturais distribuídos “generosamente” pela burguesia como prática de proposta de valores, isso era o reflexo da importância e influencia de como esse processo ocorria, sempre destacando o poder de persuasão da cultura dominante, por isso a necessidade de acompanhar a moralização da classe operária, bem como a desmoralização dos pobres e reeducação do povo.
Toda essa dinâmica gira em torno das relações entre o popular e as classes, não ficando somente na identificação e unificação hegemônica ou até mesmo nas manipulações, mas nas lutas, nas contradições, essas sempre foram questões difíceis de trabalhar, por isso as grandes tentativas de elaborar projetos de dominação para o “bem do povo” assim, através da cultura desses povos, serão construídos os caminhos democráticos para o social.
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REFERÊNCIA:
FENELON, Déa R. O historiador e a Cultura Popular: história de classe ou história do povo?
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