Eric Hobsbawm |
Por interesse na America Latina, visitou o Brasil varias vezes a convite de instituições acadêmicas para conhecer de perto nossa historia e seus problemas. A entrevista aconteceu em fevereiro de 1989, onde o assunto foi sua formação acadêmica discutindo os problemas historiográficos, voltados para as relações históricas e as ciências sociais.
Hobsbawm é questionado sobre quando começou seu interesse por historia, ele diz que isso ocorreu na universidade, “namorando temas abordados por Marx”, desde os tempos da escola de Berlim antes de ir morar na Inglaterra, leu também Engels, frisando seu interesse pela concepção materialista; reclama do ensino alemão e apesar desse ensino antiquado, conheceu um professor entusiasta que lhe emprestou alguns livros e sugeriu eu ele se candidatasse a uma bolsa de estudos em Cambridge, ganhou a bolsa e lá foi estudar.
Em seguida foi questionado sobre as tendências ensinadas e quais as pesquisas históricas ensinadas naquele tempo em Cambridge, ele diz que naquele tempo não havia uma corrente clara, havia sim uma revolta contra o modo que as aulas eram ministradas, o que se ensinava era a historia da Inglaterra através dos triunfos da democracia e liberdade, não havia quase nada que tratasse da historia européia ou d álem mar.
Michael Postan |
Além disso, foi questionado se houve outro campo histórico em que ele havia se interessado, ele diz que estudou ainda História constitucional (do sistema político britânico) além da história política e institucional da Europa. Depois perguntam-lhe quando ocorreu a mudança dos estudos com temática inglesa para a nova historia? Hobsbawm diz que isso ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, antes da guerra seu interesse era por economia, mas como historiador ele já tinha estabelecido os horizontes a serem seguidos, a mudança ocorreu realmente nos idos de 50, quando seus amigos se tornaram pesquisadores e professores.
Lawrence Stone |
Ato contínuo, questionaram a ele se haveria semelhanças entre a história social e econômica da Inglaterra e França no sentido desenvolvimentista e colaboracionista entre historiadores marxistas e não marxistas, Hobsbawm diz que havia diferenças, na França os historiadores marxistas não apresentavam relevância pelos papeis que representavam, não se sabia se eles eram marxistas ou comunistas, na esquerda britânica isso ocorreu antes dos annales parecido com a francesa, no caso inglês isso ocorreu com Marc Bloch e na França com Le Roy Ladurie.
Em seguida foi perguntado qual a relação e contribuição das ciências sociais ao trabalho do historiador, ele respondeu que inicialmente a historia estava enraizada nas ciências sociais e se beneficiou delas, mas a historia é tida como uma disciplina generalizante as explicações; a historia não pode generalizar e tratar somente de fatos específicos, pessoas, não havendo um padrão que afirme a evolução disso. Os cientistas da década de 90 assim como ele pensavam dessa maneira por causa da generalização das ciências sociais.
Adiante, Hobsbawm foi perguntado se a climetrics ainda exercia influência nos EUA, ele respondeu que já não era tão forte assim, afinal a tecnologia agora era quantitativa e qualificativa, ou seja, tudo girava em torno do método e não os conteúdos em torno da teoria. Havia também a sociologia, mas como modernizante não era útil, embora houvessem tendências até mesmo na filosofia e outras ciências que negavam a existência de uma realidade objetiva, traduzindo em termos objetivos, essa tendência ganhava terreno na antropologia social.
Depois foi perguntado sobre um artigo onde ele disse que deveriam usar técnicas de outras ciências já desenvolvidas, bem como procedimentos estatísticos observando em profundidade aos métodos psicanalíticos, ele responde que toda técnica usada teria sua relevância e deveria ser tentada; na antropologia o conceito de sociedade era complexo e interativo, tudo estava interligado na reprodução da sociedade atual visando a próxima geração.
Posteriormente falou-se da antropologia dizer que o conceito de etnicidade, comunidade e cultura era resultante justamente desse impacto, foi questionado se isso era correto, o detalhe era saber se estavam falando de palavras ou modelos, sabendo que as comunidades eram importantes para o lugarejo onde se encontravam e se destacavam por ser extremamente organizadas.
Os historiadores econômicos e sociais estudam os problemas do campesinato e suas mudanças na modernidade, mas isso foi aprendido com os cientistas sociais e antropólogos nos trabalhos de campo; era necessário visualizar as ciências voltadas para o mesmo tipo de questionamento a partir de outros ângulos.
Thompson era o exemplo disso, pois ele próprio havia sido lido por sociólogos e antropólogos, por isso a questão era de ligá-las a si pelas próprias questões. Depois Hobsbawm foi questionado dos problemas históricos e as ciências sociais em estudar o futuro, isso seria possível? A resposta foi de que o que estava em questão era a maneira como o problema deveria ser enfrentado, isso ocorria nas outras ciências, pois deveria haver esse confronto do conhecimento e da evolução global, isso ocorre na sociedade moderna, pois cada um sabe o seu lugar no contexto bem como essa hegemonia não ocorrer da mesma maneira. O mundo precisa segundo Hobsbawm ser conquistado a partir de uma base regional precisa, buscando respostas aos problemas nas questões propostas pelos antropólogos, sociólogos e economistas, por exemplo.
Hobsbawm é questionado sobre os campos e subcampos da história social, percebendo-se uma ausência institucional nas próprias áreas desses campos, perguntam a ele qual é a opinião dele a respeito disso, ele responde que a profissionalização é uma premissa dessa área e cresce a cada dia, pois é preciso publicar ou perecer, ou seja, tem-se a necessidade de publicar periódicos de tempos em tempos para ser notado.
Depois ele é interrogado a respeito de que modo surgiriam problemas decorrentes dessa especialização histórico social, mais uma vez ele responde que existe uma razão para ser critico em relação a especialização crescente na historia social, sendo que existem dois conceitos distintos nesse campo da história social, um estuda os aspectos particulares da vida e o outro estuda a história da sociedade, com particular interesse em saber como a sociedade muda e qual a sua origem, para saber diferenciá-la do passado.
O entrevistador diz que isso está mais para uma questão de filosofia, em relação aos temas importantes ou não, ele então cita o exemplo do campesinato no Brasil, dizendo que há 15 anos isso não seria a realidade atual é diferente? A resposta dada é que os tempos mudam e o que tem que acontecer acontece por um motivo exatamente no seu devido tempo, fato esse da história ter se desenvolvido tão rapidamente, como no exemplo, das classes operarias, eles tinham consciência dessas mudanças.
Ele diz que o assunto escolhido é feito pela razão de sua dificuldade em entendê-lo, por isso a objetividade em compreender o assunto e enxergar nele a existência da proposta escolhida. O entrevistador em seguida pede a ele para fazer uma relação entre o conceito “pré-polêmico” em relação ao campesinato da atualidade, Hobsbawm diz que as pessoas não são de modo políticas, mas eram políticas antes da invenção da terminologia: institucionalidade política, do cenário moderno, do teatro, do drama, esses termos praticamente não existiam antes do século XVII até as grandes revoluções; como não existia um padrão e cada política operava de maneira diferente e limitada.
Ele pensa que as pessoas devem se explicar mais, em relação a comportamento, em relação do por que delas serem e agirem assim, qual o motivo delas pensarem desse ou daquele jeito, bem como suas limitações de pensamento e ideologias; ele cita os indígenas andinos sobre o mito da volta de seu império, o que motiva eles a terem esse pensamento? Poder-se-ia simplesmente dizer que eles são assim e que não se esquecerem de seu antigo império. É como a devoção do que um santo representa para o crente da sua localidade, se a pessoa possuir algum problema, rezará para resolvê-lo, com o problema solucionado, o penitente fará o sacrifício de maneira especifica e compensatória como forma de agradecimento, como explicar essa crença então?
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Referência:
Hobsbawm, Eric. Entrevista em Estudos Históricos nº 06, Rio de Janeiro. 1990.
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