|
Eric Hobsbawm |
Eric Hobsbawm é um famoso
historiador inglês, muito conhecido no Brasil, tendo como legado uma vasta
bibliografia com temas concernentes a historiografia baseado na síntese social,
político e cultural que procuram responder ao rigor documental e metodologia
precisa; sua formação é marxista, mas estudou ainda antropologia, economia,
ciências humanas e políticas. Seus temas trabalhados compreendiam o banditismo
social, campesinato, política teórica e metodológica, relações intenacionais e
as grandes revoluções liberais da Europa do século XIX.
Por interesse na America Latina,
visitou o Brasil varias vezes a convite de instituições acadêmicas para
conhecer de perto nossa historia e seus problemas. A entrevista aconteceu em
fevereiro de 1989, onde o assunto foi sua formação acadêmica discutindo os
problemas historiográficos, voltados para as relações históricas e as ciências
sociais.
Hobsbawm é questionado sobre
quando começou seu interesse por historia, ele diz que isso ocorreu na
universidade, “namorando temas abordados por Marx”, desde os tempos da escola
de Berlim antes de ir morar na Inglaterra, leu também Engels, frisando seu
interesse pela concepção materialista; reclama do ensino alemão e apesar desse
ensino antiquado, conheceu um professor entusiasta que lhe emprestou alguns
livros e sugeriu eu ele se candidatasse a uma bolsa de estudos em Cambridge,
ganhou a bolsa e lá foi estudar.
Em seguida foi questionado sobre
as tendências ensinadas e quais as pesquisas históricas ensinadas naquele tempo
em Cambridge, ele diz que naquele tempo não havia uma corrente clara, havia sim
uma revolta contra o modo que as aulas eram ministradas, o que se ensinava era
a historia da Inglaterra através dos triunfos da democracia e liberdade, não
havia quase nada que tratasse da historia européia ou d álem mar.
|
Michael Postan |
Ele fala de um professor seu de
economia, Michael Postan, um professor russo com uma infância radical,
considerado antimarxista, era um dos únicos na universidade com escritos e
conhecimento sobre Marx, historia marxista e teoria social marxista na Rússia;
ele diz que aprendeu muito com esse professor que por sua vez procurava os
jovens brilhantes da época. Na verdade o que aconteceu com esses jovens naquele
período foi um programa de auto educação que colocava a disposição livros,
revistas, fontes históricas a sua disposição.
Além disso, foi questionado se
houve outro campo histórico em que ele havia se interessado, ele diz que
estudou ainda História constitucional (do sistema político britânico) além da
história política e institucional da Europa. Depois perguntam-lhe quando
ocorreu a mudança dos estudos com temática inglesa para a nova historia?
Hobsbawm diz que isso ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, antes da guerra
seu interesse era por economia, mas como historiador ele já tinha estabelecido
os horizontes a serem seguidos, a mudança ocorreu realmente nos idos de 50,
quando seus amigos se tornaram pesquisadores e professores.
|
Lawrence Stone |
Depois ele foi solicitado se
possível a mencionar nomes e influencias que motivaram essas mudanças, ele
menciona Lawrence Stone em Oxford, depois ele diz que foi influenciado pelo
fato de nunca ter conseguido entender direito a História Antiga Clássica de
Roma e Grécia, e ainda pelo fato de atrair pessoas com interesses variados,
sendo até mesmo marxistas, depois da guerra a disciplina História esteve nas
mãos de historiadores sócias bastantes criativos, isso não aconteceu antes da
guerra. Foi influenciado ainda pela revista Past and present nos anos de 50 e
60, o contexto internacional também ajudou, visto que depois da guerra o
contexto histórico foi dominado pelos annales franceses.
Ato contínuo, questionaram a
ele se haveria semelhanças entre a história social e econômica da Inglaterra e
França no sentido desenvolvimentista e colaboracionista entre historiadores
marxistas e não marxistas, Hobsbawm diz que havia diferenças, na França os
historiadores marxistas não apresentavam relevância pelos papeis que
representavam, não se sabia se eles eram marxistas ou comunistas, na esquerda
britânica isso ocorreu antes dos annales parecido com a francesa, no caso
inglês isso ocorreu com Marc Bloch e na França com Le Roy Ladurie.
Posteriormente foi questionado a
respeito dos intelectuais franceses quando deixaram o partido comunista,
ocorreram algumas crises, o mesmo teria acontecido com a Inglaterra? Hobsbawm
responde que no território inglês, isso não ocorreu de maneira significativa,
mesmo os que deixaram o partido, eles continuaram sendo esquerdistas, já na
França isso foi diferente, pessoas que eram militantes simpatizantes de Stalin
mudaram de ideologia ao viés da história, na Inglaterra a maioria dos
historiadores marxistas se tornaram anti marxistas.
Em seguida foi perguntado qual a
relação e contribuição das ciências sociais ao trabalho do historiador, ele
respondeu que inicialmente a historia estava enraizada nas ciências sociais e
se beneficiou delas, mas a historia é tida como uma disciplina generalizante as
explicações; a historia não pode generalizar e tratar somente de fatos
específicos, pessoas, não havendo um padrão que afirme a evolução disso. Os
cientistas da década de 90 assim como ele pensavam dessa maneira por causa da
generalização das ciências sociais.
Adiante, Hobsbawm foi perguntado
se a climetrics ainda exercia influência nos EUA, ele respondeu que já não era
tão forte assim, afinal a tecnologia agora era quantitativa e qualificativa, ou
seja, tudo girava em torno do método e não os conteúdos em torno da teoria.
Havia também a sociologia, mas como modernizante não era útil, embora houvessem
tendências até mesmo na filosofia e outras ciências que negavam a existência de
uma realidade objetiva, traduzindo em termos objetivos, essa tendência ganhava
terreno na antropologia social.
Depois foi perguntado se poderia
além de idéias métodos e técnicas que derivassem das ciências sociais, ele
respondeu que sim, elas poderiam prover idéias e modelos, porém ocorreriam
mudanças na evolução histórica mundial não sendo isso autoria dos historiadores
pois, eles se especializaram e ficaram ansiosos em ter que sair de sua
especialidade; os modelos surgiram de pessoas não oriundas de historiadores
profissionais, mas cientistas sociais.
Depois foi perguntado sobre um
artigo onde ele disse que deveriam usar técnicas de outras ciências já
desenvolvidas, bem como procedimentos estatísticos observando em profundidade
aos métodos psicanalíticos, ele responde que toda técnica usada teria sua
relevância e deveria ser tentada; na antropologia o conceito de sociedade era
complexo e interativo, tudo estava interligado na reprodução da sociedade atual
visando a próxima geração.
Posteriormente falou-se da
antropologia dizer que o conceito de etnicidade, comunidade e cultura era
resultante justamente desse impacto, foi questionado se isso era correto, o
detalhe era saber se estavam falando de palavras ou modelos, sabendo que as
comunidades eram importantes para o lugarejo onde se encontravam e se
destacavam por ser extremamente organizadas.
Os historiadores econômicos e
sociais estudam os problemas do campesinato e suas mudanças na modernidade, mas
isso foi aprendido com os cientistas sociais e antropólogos nos trabalhos de
campo; era necessário visualizar as ciências voltadas para o mesmo tipo de
questionamento a partir de outros ângulos.
|
|
Thompson era o exemplo disso,
pois ele próprio havia sido lido por sociólogos e antropólogos, por isso a
questão era de ligá-las a si pelas próprias questões. Depois Hobsbawm foi
questionado dos problemas históricos e as ciências sociais em estudar o futuro,
isso seria possível? A resposta foi de que o que estava em questão era a
maneira como o problema deveria ser enfrentado, isso ocorria nas outras
ciências, pois deveria haver esse confronto do conhecimento e da evolução
global, isso ocorre na sociedade moderna, pois cada um sabe o seu lugar no
contexto bem como essa hegemonia não ocorrer da mesma maneira. O mundo precisa
segundo Hobsbawm ser conquistado a partir de uma base regional precisa,
buscando respostas aos problemas nas questões propostas pelos antropólogos,
sociólogos e economistas, por exemplo.
Hobsbawm é questionado sobre os
campos e subcampos da história social, percebendo-se uma ausência institucional
nas próprias áreas desses campos, perguntam a ele qual é a opinião dele a
respeito disso, ele responde que a profissionalização é uma premissa dessa área
e cresce a cada dia, pois é preciso publicar ou perecer, ou seja, tem-se a
necessidade de publicar periódicos de tempos em tempos para ser notado.
Depois ele é interrogado a
respeito de que modo surgiriam problemas decorrentes dessa especialização
histórico social, mais uma vez ele responde que existe uma razão para ser
critico em relação a especialização crescente na historia social, sendo que
existem dois conceitos distintos nesse campo da história social, um estuda os
aspectos particulares da vida e o outro estuda a história da sociedade, com
particular interesse em saber como a sociedade muda e qual a sua origem, para
saber diferenciá-la do passado.
O autor percebeu que para cada
pequena parcela pesquisada, a problemática era articulada com seus problemas na
historia, isso não quer dizer que era alto inútil, segundo Hobsbawm, mas
estabeleceria no seu campo de estudo os fatos que lhes fossem de seu interesse,
assim, tentaria explica-los. Pela resposta dada, o entrevistador pergunta se
essa não seria a tendência atual, ele responde que não, a tendência
especializada era crescente, mas se contrapunha a interdisciplinaridade, cada
campo tem a sua especialização, todas as áreas podem se comunicar e desse
encontro pode haver as respostas para as perguntas relativas a cada área de estudo
em questão.
O entrevistador diz que isso está
mais para uma questão de filosofia, em relação aos temas importantes ou não,
ele então cita o exemplo do campesinato no Brasil, dizendo que há 15 anos isso
não seria a realidade atual é diferente? A resposta dada é que os tempos mudam
e o que tem que acontecer acontece por um motivo exatamente no seu devido
tempo, fato esse da história ter se desenvolvido tão rapidamente, como no
exemplo, das classes operarias, eles tinham consciência dessas mudanças.
Ele diz que o assunto escolhido é
feito pela razão de sua dificuldade em entendê-lo, por isso a objetividade em
compreender o assunto e enxergar nele a existência da proposta escolhida. O
entrevistador em seguida pede a ele para fazer uma relação entre o conceito
“pré-polêmico” em relação ao campesinato da atualidade, Hobsbawm diz que as
pessoas não são de modo políticas, mas eram políticas antes da invenção da
terminologia: institucionalidade política, do cenário moderno, do teatro, do
drama, esses termos praticamente não existiam antes do século XVII até as
grandes revoluções; como não existia um padrão e cada política operava de
maneira diferente e limitada.
Posteriormente foi indagado se o
período “pré-político” significava político de outra maneira, a resposta foi
afirmativa pelo fato do assunto ser controverso, Hobsbawm diz que a cultura tem
a sua utilidade no campo antropológico no sentido de totalidade de idéias,
valores e comportamentos, já a mentalidade não necessariamente, salvo os casos
em que ela se aproxima da antropologia no sentido cultural, pois assim o termo
parecera descritivo.
Ele pensa que as pessoas devem se
explicar mais, em relação a comportamento, em relação do por que delas serem e
agirem assim, qual o motivo delas pensarem desse ou daquele jeito, bem como
suas limitações de pensamento e ideologias; ele cita os indígenas andinos sobre
o mito da volta de seu império, o que motiva eles a terem esse pensamento?
Poder-se-ia simplesmente dizer que eles são assim e que não se esquecerem de seu
antigo império. É como a devoção do que um santo representa para o crente da
sua localidade, se a pessoa possuir algum problema, rezará para resolvê-lo, com
o problema solucionado, o penitente fará o sacrifício de maneira especifica e
compensatória como forma de agradecimento, como explicar essa crença então?
Para finalizar a entrevista,
perguntam a Hobsbawm como ele acompanhava o crescimento do marxismo em
universidades americanas e a crise do mesmo na Europa Ocidental, ele responde
que isso é um subproduto da radicalização dos estudantes e intelectuais do fim
da década de 60 do século passado, pois, alguns deles mesmo com o declínio do
movimento, foram para a universidade e continuaram atuantes naquele espaço, por
isso que a nova geração vem introduzindo o marxismo nas universidades
americanas. A crise na Europa Ocidental é produto da própria crise, pois esta
acontecendo há muito tempo, afinal o marxismo foi tido como teologia oficial e
o pensamento de Marx originalmente não seguia esse tipo de idéia, por isso dele
não ser mais tão eficaz e competente como proposto inicialmente.
Senhor leitor, todas as imagens foram
retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma
das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os
textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão. TODOS OS DIREITOS
AUTORAIS RECONHECIDOS.
Mr. reader, all images were taken from
the Google search site, do not feel offended if perchance, one of the images
posted are your, the blog´s intentions is to illustrate didactically the text
and not plagiarize images. Thank you for understanding. ALL RECOGNIZED
COPYRIGHT.
Referência:
Hobsbawm, Eric. Entrevista em Estudos Históricos
nº 06, Rio de Janeiro. 1990.