“Eu sempre
desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à
mesa sem apetite são os que mais comem.” Getúlio Vargas
Revolução de
1930 marca a chegada de Vargas ao poder determinando o Estado Novo com o
autoritarismo.
Tese do
vazio do poder: com a chegada de Vargas,
preenche esse vazio. Não havia um projeto coeso, com esse vazio, o Estado assume
esse poder para batalhar o direito dessas classes; pela sua incapacidade de
apresentar projetos políticos em nome de uma burguesia agro exportadora, o
Estado não via saída em assumir o preenchimento dessa classe fragilizada. A
representação desse poder estatal foi consolidada por Vargas fazendo uma alusão
a Napoleão Bonaparte, assim o Estado forte, cria um compromisso com as classes
representando-o, sem esperar confrontos, conflitos, guerras civis, além de
consolidar as leis trabalhistas, previdenciárias.
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Nelson Werneck |
Nelson
Werneck: A revolução de 30 foi uma
revolução burguesa, mas não havia uma burguesia e proletariado e coeso, pelo
fato da burguesia não estar desenvolvida, não foi ela a propulsora da revolução
de 30. Com esse suposto compromisso, o Estado começa “podar” os direitos civis.
A burguesia na verdade, estava por trás desse Estado forte; esse vazio de poder
estava vinculado limitada a hegemonia dessa classe burguês-proletariado, ainda
não constituído, pois não apresentavam projeto algum para chegar ao poder. A
classe media urbana não apresentava uma identidade sócio histórica definida, ou
seja, o Estado forte que alavancaria o desenvolvimento do Brasil. Assim o
Estado cumpriria com essa tarefa, encarando as situações como nação, o sujeito
histórico agora seria o Brasil, por isso, os tenentes entrariam em cena
incorporando esse aparato burocrático, tentando reorganizar a sociedade a seus
moldes; era uma revolução não feita pelas classes, pois vinha do alto da
sociedade. O Estado não reoxigena essas relações, apenas faz a manutenção desse
poder, Vargas então coloca os tenentes com a intenção de organizar o Estado
Brasileiro.
Tese da
modernização do Estado: para alguns houve a ruptura do Estado a ponto dele se
modernizar, os estados passaram a ser mais industrializados, com uma
centralização do poder central por parte do Estado através da leitura política,
mas até que ponto houve essa modernização? Pode-se dizer que a sociedade
brasileira teve inicio na década de 30, pois se iniciou a modernização do país.
É necessário ter cuidado quando se faz afirmações convictas, pois tudo corre
linearmente; a grande contribuição para o Estado moderno foi à legislação
trabalhista e a providenciaria, pois essas eram metas comprometidas com a
modernização do Brasil. A burguesia tenta se consolidar com seu moderno
democrático liberal, colocando no poder um representante nosso, ao invés de dar
espaço aos comunistas, socialistas; por esse viés, eles tomariam o poder frente
as classes operariadas; essa burguesia era a mesma de 1920. Há uma modificação
de bloco de poder, democracia não era só ter eleição, as classes estavam
realmente a margem da sociedade, havia modernização sim, mas com limites.
Tese da
construção do fato: entendiam outras forma de
atuação, resistências das classes subalternas, há agora idéias de ruptura, do
antes e depois, dizendo que não houve essa ruptura citada em 1930. A burguesia
industrial atuou contra o BOC (Bloco Operariado de Classe) representada pela
CIESP, assim a burguesia tinha um projeto nacional; a burguesia percebendo essa
organização dos trabalhadores derruba esse movimento trazendo um representante
para eles colocando um Estado forte como aliado. A burguesia precisava de um
Estado autoritário, por isso precisava da policia conter essa nova ordem de
movimentação de projeto de representação dos operários; na verdade há um
equivoco de chamar a revolução de 30 de revolução e sim um movimento, a
burguesia começava a se antecipar mostrando seus projetos com a finalidade de
acabar com esses movimentos “perigosos”, afinal o proletariado não poderia ser
visto como produtor de “mão de obra” entre a relação do operário e o Estado.
Percebiam-se
pequenas resistências entre dominados e dominantes, havia projetos de blocos
operários, porém, não eram partidos; a historia vista de baixo (Thompson/De
Decca) fazia agora parte da historiografia com seu momento historiografico,
trazendo novas construções e complementações sobre esses fatos, trazendo assim,
a memória dos vencidos, fazendo das classes sociais fortes e não débeis, eles
eram sujeitos privilegiados de projeto como construção histórica. A burguesia
organizada conseguiu desestruturar o movimento operariado através da
neutralização de suas bandeiras; o
proletariado por sua vez não queria
“representações”, eles se representavam por si só. A “revolução de 30” apagou a
memória dos vencidos e construiu um novo mundo sob a visão dos vencedores,
elaborando um novo projeto autoritário no Brasil.
O PCB, a
ANL e as Insurreições de novembro de 1935.
Nossa história
passou por diversos períodos conturbados, dentre eles pode-se citar o período
de 1935 através dos agitos da ANL (Aliança Nacional Libertadora), o PCB
(Partido Comunista Brasileiro) e os levantes do mesmo ano, foram momentos onde
a participação do PCB e os tenentes mais se fizeram presentes nos agitos de
nossa história brasileira. As rebeliões tenentistas já datavam o período de
1920 e finalmente sua eclosão em 1930, onde a sociedade brasileira se viu
seguir por novas trilhas, legitimada agora pelas forças armadas com o intuito
de transformações e o inicio da revolução intensificada pela efervescência
política pelo qual o país atravessava.
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AIB |
A sociedade da
época sofria pelo fato de ser considerada atrasada culturalmente bem como os
grupos que a representavam, citados diretamente como aqueles ligados as camadas
que tiveram conhecimento superior, profissionais liberais, estudantes e os
tenentes representantes do grupo armado; a classe operaria também tinha sua
representatividade através dos movimentos sindicais. Os partidos até existentes
eram o PCB fundado em março de 1922 e a AIB (Ação Integralista Brasileira)
fundada em outubro de 1932; o tenentismo começa a se fazer presente a partir da
rebelião do Forte de Copacabana, aos 5 de julho de 1922, o ano de 1924 foi
marcado pelo seu fortalecimento com os levantes paulista (Isidoro Dias Lopes) e
gaúcho (Luis Carlos Prestes), a união desses dois movimentos originou a Coluna
Prestes.
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Luiz Carlos Prestes |
Com a candidatura
de Vargas nos idos de 1930, o movimento tenentista sofreu uma cisão, de um lado
ficou o general da coluna Luiz Carlos Prestes defendendo o socialismo como a
única solução capaz de responder pela sociedade de forma justa e do outro lado
ficaram os tenentes revolucionários simpatizantes de Getulio Vargas. Nesse
ínterim, os tenentes foram eleitos os representantes da sociedade brasileira,
mas eram deficitários em apresentar um plano de transformação social, afinal,
eles representavam a democratização da vida política e social, bem como as
transformações tão sonhadas pela população, ao passo que eram tidas como
moralistas.
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Partido Republicano Paulista |
Os tenentes se
destacavam por serem os únicos a serem aceitos pela sociedade que tinha sede de
transformações políticas principalmente quando se referiam aos rumos em que a
Republica andava; os principais desejos da população eram contra o trabalho
escravo, e contra os avanços econômicos capitalistas, responsáveis pela
dominação imperial-escravista em que o país se encontrava. O fato era que o
Brasil ainda apresentava ranços da antiga sociedade escravocrata e por isso
mesmo, não havia histórico de lutas de classes, a tão sonhada cidadania estava
mais para utopia do que para realidade; isso começou a mudar a partir de 1930
quando a revolução contava agora com a presença maciça da população que nesse
momento quebrava a hegemonia oligárquica cafeeira, representada pelos paulistas
através do Partido Republicano Paulista.
Vargas era
visto como a possível “solução para esses problemas”, onde, através da
reestruturação do poder, tentava uma aproximação com os grupos derrotados pela
revolução. A sociedade brasileira ainda “cheirava” a escravidão, isso era
sentido através do autoritarismo, da tradição, eram elementos que pesavam no
ideário de termos sido uma sociedade que partilhou da escravatura por mais de
quatrocentos anos, não seria diferente agora as classes dominantes alegarem a
tutela do povo para representá-los como forma de enganá-los alegando serem
pobres e ignorantes, por isso a suas presença para ajudá-los a evoluir. A
classe dominante do período de 1930 apesar de ser um movimento elitista, não
apresentava bases de transformações significantes em seu ideário, as mudanças
ocorridas, pouco ou nada fizeram para resolver os problemas existentes, não
importando se eles eram econômicos ou democráticos. Getulio apresentaria uma
nova proposta de mudança frente a esses engodos.
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CF/1934 |
Ele
trabalharia para ter a classe operaria de seu lado, remodelaria a forma de
gerencia estatal, mas não mexeria nas estruturas produtivas nem nas relações
sociais, deixando a desejar a aqueles que almejavam mudanças mais presentes; em
1934 com a aprovação da Constituição, seu governo provisório deixa de existir,
mas a realidade política continuava efervescente, sendo a insatisfação
sentimento da maioria, por causa disso, Vargas ficou contra a Constituição que
acabara de promulgar. Situação parecida havia ocorrido um ano antes na Alemanha
nazista sob o comando de Hitler, cujo intuito era levar o país germânico a
líder mundial, no país vizinho Itália, Mussolini prometia os mesmos “milagres”.
Eram Estados fortes caracterizados pelo autoritarismo tidos como os promissores
a resolver suas crises internas representadas pela democracia moderna liberal e
do capitalismo de livre concorrência surgido com o crash da bolsa de Nova Iorque
em 1929.
A AIB (Ação
Integralista Brasileira) em outubro de 1932 foi fundada pela simpatia do
fascismo internacional, a representatividade do autoritarismo se espalhava pelo
mundo contemporâneo com fortes ligações no Brasil, graças aos séculos de
escravidão pelo qual havíamos passado. O ideário nazifascista se propagou
rapidamente, agregando muitos simpatizantes, até mesmo nas camadas médias
urbanas dentro da classe operaria, bem como a elite dominante e dos altos
escalões militares. A tão sonhada democracia citada por eles era o respaldo que
a elite almejava para governar em nome do povo e para o povo, sendo que eles
não teriam direito a participar dessa governança. Por isso, a luta da hegemonia
política como episódios relevantes para os fatos que ocorreram em novembro de
1935, por causa da presença dos dois principais partidos o PCB e a ANL.
Como dito
anteriormente, o PCB era composto por uma minoria de militantes oriundos do
anarco-sindicalismo, sendo seu lema a Revolução Socialista Russa, assim, os comunistas
brasileiros logo se tornaram membros da Internacional Comunista (IC). A 3ª IC
(Kominter: Komunististcheskaia internacional) de 1919 foi fundada pelo próprio
Lênin. A representatividade da IC se fazia através dos comunistas, socialistas,
trabalhistas e simpatizantes dos partidos de esquerda que deveriam obedecer as
diretrizes do partido (21 ao todo) para a seu ingresso que agora se
transformara num partido comunista internacional.
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Arthur Bernardes |
O item 12
dessa diretriz dizia respeito a obrigatoriedade da centralização democrática,
ou seja, a decisão seria tomada pela maioria dos participantes, os outros
teriam que acatá-las através das decisões tomadas pelas diversas seções dos
partidos comunistas nacionais. O estado socialista então era fortalecido por
causas dos partidos comunistas terem fracassado na tentativa de tomar o poder
em vários países europeus; na America Latina a IC ocorreu em 1929, pois o
conhecimento que se tinha dessa região era precário e simplista. O PC obedecia
as diretrizes da IC, entre 1922 e 1924 não participou inicialmente das revoltas
militares, 1930 declarou que a luta era do imperialismo inglês contra os Yankes
e que eles nada tinham a ver com essas disputas. Mesmo sendo um partido
pequeno, ele tentava relacionar-se com a política nacional com o objetivo de
representar a classe operaria através da política eleitoral, onde mesmo
utopicamente defendia o trabalho agrícola versus o trabalho industrial com o
intuito de defender o país contra o capital inglês agrário representado por
Arthur Bernardes e contra o capital norte americano representado pela pequena
burguesia evidenciando a figura dos tenentes.
O VI
Congresso da Internacional Comunista.
Esse congresso
significou muito para os brasileiros simpatizantes do comunismo para a época,
fato esse notado até aproximadamente 1935, tendo como as principais idéias
vindas do partido vindas desse congresso e posteriormente ao congresso de
Buenos Aires em 1929; dentre as resoluções tomadas pela IC, o mundo seria
dividido em três tipos de nações. Inicialmente os países que apresentassem o
capitalismo evoluído em seu território, deveriam lutar pela ditadura do
proletariado e o socialismo, depois viriam em segundo lugar os países com o
desenvolvimento no estagio médio, onde deveriam conquistar a democracia
burguesa para ingressar no socialismo e por fim a terceira divisão, as
colônias, semicolonias e países dependentes, inclui-se o Brasil nessa
designação, deveria haver um espaço temporal entre a revolução democrática
burguesa e democrática.
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batalha da Praça da Sé |
Os “devaneios”
pareciam fazer parte desse contexto, a ponto da IC declarar que somente os
operários e filhos de operários deveriam fazer parte das filiações do partido, tendo
na sua maioria a base formada por comunistas, foi um desastre; entre o período
de dois anos (1933 – 1934) no auge da proletariezação, o PCB se absteve a
pedido de Prestes no ingresso do partido a IC, afinal, os comunistas atacavam
Prestes chamando-lhe de caudilho burguês. O subjetivismo era visto como ameaça
ao dogmatismo e mecanicismo. Em 1933, por causa da política proletarista, o PCB
foi dissolvido, cabendo a IC intervir no Brasil para que o partido fosse
reestruturado e reorganizado, esse fato ocorreu sem a simpatia da esquerda,
pois o intuito era criar um governo de sovietes, operários, camponeses,
soldados e marinheiros. Com o fechamento do cerco entre antifascistas e
antiintegralistas, o partido seguia as ordens vindas da IC, onde seus militantes
obedeciam na pratica as diretivas com as forças democráticas pelas ruas contra
os integralistas. Na tentativa
de comemorar os dois anos de fundação da AIB em 1934, os integralistas foram
barrados pelos fascistas, essa batalha de rua ficou conhecida como “batalha da
Praça da Sé”, desse confronto, a esquerda saiu fortalecida.
Luis Carlos
Prestes e a Conferencia de Moscou.
Após romper
com os tenentes revolucionários, que na maioria apoiava Vargas, Prestes aderiu
ao comunismo em 1930, enfrentou algumas crises pessoais e por causa disso em
1931 se mudou para a capital soviética onde exerceu funções como engenheiro,
depois se tornaria assessor da IC, solidificou sua relação com o comunismo,
tendo em vista sempre a sua admissão no PCB sem êxito, essa realidade mudou em
1934 quando a IC praticamente obrigou o partido a aceitá-lo como membro. Na
ocasião, Miranda (Antonio Maciel Bonfim) passou dados não condizentes com a
realidade brasileira ao Kominter sobre uma revolução prestes a eclodir no
Brasil, sendo que o PCB teria condições de comandar essa revolução, dizia ainda
que as revoltas eram de âmbito nacional, especialmente nas forças armadas.
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Dimitri Manuilski |
No território
moscovita, as reuniões foram imprescindíveis para o levantem em novembro de
1935, tendo a frente da delegação brasileira Miranda, onde sem escrúpulos
algum, mentiu insistentemente querendo ser notado pela sua audácia e vaidade.
Dimitri Manuilski ficou encantado com as “verdades” proferidas por Miranda,
como era representante da IC na América Latina ficou a mercê das mentiras do
colega sobre a realidade brasileira “revolucionaria”. Dentre os “contos”,
Dimitri ouvia avidamente ele contar sobre a adesão de Lampião ao PCB, frente a
um governo inexpressivo e fraco que seria facilmente derrubado, cabia ao
partido então organizar em todo território brasileiro ofensivas comunistas
desde a capital até a mais longínqua cidade do interior, agilizar o movimento
guerrilheiro. O fato era que em 1935 a cultura tenentista fazia parte da
realidade brasileira, bem como a não adesão da IC nos movimentos
revolucionários que aqui aconteciam.
Manuilski foi
alvo de especulações sobre as supostas ordem em 1934 aos levantes que o país
atravessava, foi visto algo como insignificante e banal, fora isso, as
declarações era vagas e simplórias. O russo estudou em todos os sentidos o que
estava acontecendo no Brasil, baseado nas mentiras incontestáveis de Miranda, a
respeito da revolução e isso seria usado como exemplo aos demais países latinos
tendo o Brasil como um país forte e centralizador. Posteriormente percebeu que
não havia muito que fazer no Brasil, apesar das dificuldades vigentes, concluiu
que o partido era jovem e bom, mas não era suficiente para iniciar uma
revolução democrática burguesa e para uma revolução socialista era demasiado
insuficiente, a verdadeira prova de fogo ocorreria quando o partido se
transformasse num partido bolchevique com capacidade de manobra.
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Olga Benário |
Coube a
Prestes destacar o papel da revolucionária e companheira de partido Olga
Benário na sua luta, pois era tida como guerreira, experiente e uma jovem
corajosa; aos tenentes restou o ideário que culminou no levante de novembro de
1935 em terras cariocas, visto que a maioria esmagadora era de militares que
participaram do movimento, aparentemente sem ligações com o PCB. O gosto de
vingança que pairava no ar era para fazer memória a revolução de 1930
considerada traída, por isso era necessário “lavar a honra”, nem que para isso
tivessem que abrir caminho através das forças armadas planejadas nos quartéis
tendo a frente como “cabeça pensante” o tenente Luiz Carlos Prestes.
A ANL –
Aliança Nacional Libertadora.
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Carlos Lacerda |
Em Moscou
estava reunida toda a diretoria do PCB, no Brasil estava surgindo um movimento
antifascista e antiintegralista, isso por que havia tenentes descontentes com
os rumos que haviam sido tomados a partir da revolução de 1930, por isso as
lutas democráticas e repressão contra elas, em especial a repressão policial do
I Congresso Nacional contra a Guerra Imperialista e o Fascismo em 1924 no Rio
de Janeiro. O comitê começou articular grupos de forças e instituições
democráticas originando a ANL, tendo seu lançamento em 1935 no comício
realizado no Rio de Janeiro, tendo como nome indicado a presidência Luiz Carlos
Prestes e o parta voz Carlos Lacerda. A proposta desse novo partido era de unir
interesses particulares e coletivos, defendendo a liberdade, bem como a
emancipação nacional e social brasileira; uniria ainda os partidos políticos,
sindicatos, centros estudantis, profissionais, sindicatos e militares.
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Os tenentistas |
Apesar dos
comunistas e os tenentes partilharem algumas mesmas ideologias, suas lutas
tinham teores diferentes na maneira de lutar, principalmente se isso se
referisse ao poder; ao comunistas defendiam a tomada do poder a favor de um
governo popular, os tenentistas não compartilhavam essa idéia e a luta
democrática soava como distante, principalmente se o foco fosse a moral dos
costumes políticos. A ANL e o PCB também divergiam em relação ao programa de
caráter aliancista, cuja plataforma era a união de classes e não a luta entre
elas, situação presente no comunismo.
Os tenentes viam sua luta com prioridade
na defesa da nação, nem que para isso o país mergulhasse numa ditadura tanto de
direita como de esquerda. A aliança começou assustar o governo, por causa
disso, o Estado aprovou a Lei de Segurança Nacional, paralelo a esse fato, o
mesmo governo procurava semelhanças da ANL com o PCB, como forma de separá-la e
lutar contra ela, assim teriam maior eficácia. Para Prestes e os tenentes, a
revolução se aproximava cada vez mais, na sua maioria, os tenentes e comunistas
viam-na como inevitável frente a luta armada para obter o desejado.
Com a
realidade política, social e econômica conturbada, Vargas começou a se
contestado até mesmo pelos ditos aliados, nas Forças Armadas isso ficou
evidente através do descontentamento, enquanto as greves assolavam o país por
reivindicações salariais através dos sindicatos. As conspirações militares
surgiam paulatinamente desde o inicio de 1935, pois alguns oficiais simpatizavam
com a ANL e o PCB. As greves começaram a ameaçar a segurança da nação,
desestabilizando o governo, tudo conspirava contra, dando a impressão de que o
Estado vigente seria destituído através da ditadura militar, ou outro regime
parecido. O fato era que o país estava mergulhado numa rede de conspirações, o
principal pedido era o reajuste de salário dos militares, ou o país, sentiria
na pele a derrubada do governo. Havia ainda provocações das forças
democráticas, enquanto a esquerda aumentava, esse fato foi evidenciado no
episodio onde Prestes foi injuriado pelo jornal A Ofensiva, chamando-o de
“Cavaleiro da Triste Figura”, em oposição ao “Cavaleiro da Esperança”, esse
fato revoltou os militares aliancistas que logo em seguida organizaram um
comício em defesa de Prestes, na sua maioria, os militares estavam fardados e
faziam saudações a Prestes. O ministro da guerra por sua vez não gostou nada da
atitude e como retaliação, expulsou quem havia participado da marcha e prendeu
vários oficiais.
Sob um olhar
analítico, percebeu-se que o país ainda “engatinhava” em questões de
amadurecimento revolucionário, os movimentos e suas conseqüências, as lutas que
ocorriam tinham como ideário as tradições republica, positivismo nas figuras
dos jacobinos florianistas, bem como a Coluna Prestes e a ANL, com especial
confiança de que o exercito aderisse ao golpe dos militares. Por cauda desses
fatos, o governo decide extinguir a ANL. O jornal O Globo também teve sua
participação nessa historia de “inverdades”, publicando na sua primeira
manchete de capa um “plano subversivo” vindo de Moscou para a ocupação
comunista soviética no Brasil, horas depois publicava que eles já estavam aqui,
isso fazia parte de um plano para desencadear a revolução vermelha em pais das
cercanias dos países que faziam fronteira com o sul brasileiro, onde as ações
deveriam ser “rápidas e violentas”. Assassinatos seriam evidentes nesse tipo de
tomada, suas principais diretrizes eram: fuzilamento de oficiais não comunistas
em suas casas ou domicílios, assim, iniciou-se uma onda de prisões contra
comunistas, lideres sindicais, militantes democratas, cujo principal lema era
morte aos assassinos e seus planos.
Em 1935
Prestes era um tenente e pregava bravuras aos bravos companheiros na luta
contra a resistência fascista do governo, por causa disso, o governo usou-o
como pretexto para fechar a ANL, sua presença agora era clandestina e
inexpressiva, afinal, todo movimento de massa era considerado ilegal e passível
de prisões; com a aliança vazia, Prestes e o PCB aproveitaram para dominar o
espaço deixado. As disputas estavam acirradas em todas as esferas da sociedade,
o governo se sentia ameaçado, os integralistas transformavam as ruas em campo
de batalha contra os anticomunistas, boatos de golpes chegavam a todo o momento
a Vargas ameaçando-o de golpe, bem como as inúmeras greves que assolavam o
país.
Os
levantes.
A Intentona
Comunista acontecera no Rio de Janeiro em 27 de novembro, era o levante do 3º
Regimento de Infantaria (RI) e da Escola de Aviação Militar (EAM),
posteriormente ocorreram levantes no 21º Batalhão de Caçadores (BC) em Natal e
no 29º BC de Recife.
O movimento
no Rio Grande do Norte.
O movimento
foi provocado por causa das eleições de outubro quando o governo eleito
dissolveu a Guarda Civil, criada pelo governo anterior, derrotado nas eleições
vigentes, com isso, a situação ficou pior do que já estava; o PC de Natal não
descartava a idéia de levantes. Dias depois, soldados do 21º BC assaltaram um
bonde de passageiros, a reação foi imediata, foram presos e expulsos do
exercito, os militares subalternos do quartel ficaram indignados e procuraram a
direção do Partido Comunista (PC) para dizer que o 21º BC se rebelaria ao
anoitecer, a direção inicialmente foi contraria, mas depois por insistência dos
militares apoiou a decisão de tomada do quartel. No mesmo momento da tomada do
quartel, o governo esta numa festa de formatura, quando foram informados dos
fatos, o chefe da policia foi averiguar e percebeu que havia caído em uma
armadilha, acabando sendo aquartelado no local onde se encontrava. Os oficiais
não reagiram ao motim, pelo contrario, a maioria escondeu-se ou estavam com
medo.
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Viva Prestes |
Os rebeldes
por sua vez, agiam em total desorganização, visto que no dia 24 a elite da
cidade soube dos levantes no 21º BC, em Recife acreditaram que a revolução
nacional libertadora estava acontecendo em todo o país. Mesmo assim, o comitê
requisitou armas, transportes, mantimentos e quantias em dinheiro para
distribuir ao povo indiscriminadamente, sem critério algum. O povo foi o grande
beneficiado com pão de graça e transporte gratuito, havia festa nas ruas, tudo
isso foi proporcionado pela tomada do 21º BC e pela queda de um governo
impopular, onde o povo dizia que não queria trabalhar e eles só gritavam: “Viva
Prestes”. O destaque da capital potiguar foi de que o Estado se destacou pelo
fato da rebelião também ter se estendido para as cidades do interior. De fato o
que ocorria, era que se de um lado havia o apoio para o aquartelamento ou não
com a ajuda dos anarquistas, de outro lado, o movimento transformava-se num
orquestramento comandado por Moscou, fato esse justificador da não presença das
autoridades que fugiam do Estado bem como a falta de resistência do oficialato
da 21ª BC. Mesmo sem um quadro de organização, Natal ficaria quatro dias sob o
comando dos rebeldes, mas isso não significava os comunistas haviam aderido ao
golpe pelo fato de não haver um programa governamental, fato explicado pelos
integrantes que nem ao menos sabiam pelo que estavam lutando.
O movimento
em Recife.
Na capital
pernambucana, estava a sede do secretariado comunista regional, seu corpo era
constituído na sua maioria por membros militares ou ligados a segurança do
governo; a facilidade de tomar o quartel foi igualmente a de Natal, ocorrendo
táticas parecidas de distribuição de armas as pessoas que passavam na
prerrogativa de que elas aderissem ao movimento, mas foi um fato que não
ocorreu. Os integrantes do movimento organizaram-se em dois pelotões, um
tomaria o centro da cidade e o outro tomaria o Largo da Paz, considerado um
ponto estratégico da cidade, seguindo a tomada do local, seriam colocadas duas
metralhadores nas torres da igreja como forma de defesa. Posteriormente eles
foram encurralados pelas tropas legalistas e o plano de “minguou” pelo fato de
não terem recebido ajuda de ninguém, com os rebeldes cercados sob a iminência
de um ataque aéreo, os rebeldes retiraram-se do largo e do quartel e o
movimento fadou o fracasso. Mesmo tendo mais conhecimento, os recifenses também
estavam não entendiam o porquê do levante e dos acontecimentos.
O movimento
no Rio de Janeiro.
Pela maneira
de como os levantes estavam ocorrendo, seria insano dizer que eles estavam
acontecendo por ordens vindas da capital soviética, em Natal o movimento
ocorreria de forma abrupta através da política local e descontentamentos
militares, em Recife foi por causa pelo secretariado do NE demonstrando despreparo
total para o ocorrido. No Rio de Janeiro o PCB e a IC nem imaginavam o que
estava ocorrendo no nordeste brasileiro, isso provaria que o movimento estava
muito aquém do desejado, nem sequer o partido havia aprovado ou fora consultado
sobre qualquer ato de insurreição; Vargas descontente com o rumo que as coisas
haviam tomado enviou tropas federais para o nordeste em regime de prontidão,
prendendo lideres da oposição com o apoio dos integralistas para combater os
rebeldes. Prestes por sua vez apoiaria os militares insurretos no Rio de
Janeiro, assim com seu prestigio convenceu os colegas para apoiá-lo,
argumentando que não poderiam deixar de ajudar e repetir o que havia acontecido
como os colegas nordestinos. Ele imaginava que a IC lhe apoiaria, mas essa fato
não aconteceu, o resultado foi um embate onde o partido estava sem defesa nem
armas alguma para lutarem, pretendiam iniciar uma revolução sem qualquer tipo
de armamento.
No 3º RI.
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3º RI. |
Nas cercanias
da Praia Vermelha ficava a sede do 3º Regimento de Infantaria, sua localização
era estratégica, comportando um total de 1.700 homens, e simpatizantes
aliancistas militares em torno de 30, destes, 11 pertenciam ao partido
comunista, bem como simpatizantes da ANL; a intenção era controlar o Arsenal da
Marinha, o Batalhão Naval, a Policia Militar, Policia Especial, o Palácio do
Catete e Guanabara para depois tomar o quartel general do Exército. Esta missão
estava mais para utópica do que realista e foi o que aconteceu, os rebeldes
foram barrados pelas balas das metralhadoras e mesmo quanto estavam de posse do
quartel, todo o local já estava cercado pelas forças do governo. Nessa disputa,
os militares a favor do governo levaram vantagem, pois, o quartel ficava entre
dois morros e a única saída era pelo mar. Sem ajuda aérea da Escola de Aviação
e da Vila Militar, os rebeldes foram facilmente derrotados, horas depois, o 3°
RI bombardeou definitivamente o quartel, eliminando qualquer traço de
resistência. Embora a EAM tivesse lutado e fosse aliada dos rebeldes, eles
contavam como certa a vitoria, mas enganaram-se e foram rendidos pelas tropas
governistas de Vargas. Tudo conspirava contra os rebeldes, até mesmo a
participação da Marinha e os constantes desentendimentos entre eles, levaram ao
fracasso da missão, e mais uma vez a população não fazia a menor idéia do que
estava acontecendo.
A repressão
aos movimentos.
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Filinto S. Muller |
A CRC
(Comissão de Repressão ao Comunismo) compostas pelo alto escalão das forças
armadas defendia a idéia de suspensão dos direitos constitucionais civis, para
o aparato governamental suprimisse qualquer movimento de rebeldia; tiveram
apoio do serviço de inteligência inglês e da gestapo alemã, tendo como
“cabeça”, o chefe da policia Filinto S. Muller com poderes total para usar a
força bruta e repreender quem quisesse. Os comunistas seriam seu alvo inicial,
mas depois a repressão se estendeu também aos aliancistas, democratas e a tudo
o que representasse oposição ao governo; em relação ao movimento, nem os
militares simpatizantes cariocas tinham clareza dos motivos da revolta.
Depois da
derrota.
O pensamento
utópico dos revolucionários apesar de todas as investidas do governo em
desmantelá-los continuava imperativo, crente que sua vitoria estaria por
chegar, Prestes por sua vez, estava ciente da truculência de Filinto e do
possível golpe tramado pelos generais das Forças Armadas contra Getulio e seus
“facínoras”. O Serviço Secreto Inglês e a Gestapo se mostraram eficientes no
quesito tortura contra a direção do partido presa em 1935, dentre os presos,
estava Olga Benário, Artur E. Ewert e Berger que foi miseravelmente torturado
dando informações a seu respeito, em 1936 foi a vez de Miranda ser preso. No mesmo
tempo, Rodolfo Ghioldi também foi preso e delatou o paradeiro de Prestes
escondido no Méier e de Olga Benário, posteriormente foi preso Victor Barron
que levou a policia até Prestes, e entregou ainda Rodolfo Ghioldi, este sob os
“aparatos” da verdade, falou quem era e que pertencia a IC, foi torturado e
assassinado logo em seguida Prestes foi preso.
Em 5 de março
Prestes e Olga foram levados ao DOPS, separaram-nos sendo a ultima vez que se
viram, posteriormente em 1936 o governo brasileiro entrega Olga para a Alemanha
nazista onde morreu nos campos de concentração, ela estava esperando um filho
de Prestes. Os movimentos de 1935 são considerados os últimos manifestos
tenentistas, isso se fez presente nos objetivos e na forma como os fatos
ocorreram, tendo como desfecho final sua derrota pelos militares; Prestes agora
socialista faria a ponte entre os tenentes revoltas com o PCB. Essa tradição de
luta remonta os idos de 1922 onde a população desejava novos rumos para a nação
sob a bandeira de novos ideários que não remontassem mais as idéias
ultrapassadas da Velha República.
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21º BC - RN |
Os levantes
ocorridos apresentavam suas peculiaridades, por exemplo, o de Natal ocorreu com
os militares subalternos de 21º BC, em Recife, a mobilização ocorreu pela
direção do PCB, no Rio de Janeiro a missão era flanquear o quartel general do
exercito, a unanimidade nesses levantes foi à presença dos tenentes. As
rebeliões foram tachadas de Intentona ou Intentona Comunista, isto por que o
comunismo era a personificação do mal, infelizmente, a insurreição não ocorreu
da maneira planejada, sem o objetivismo social que se pretendia; os tenentes
lutavam contra a luta de exploração do Brasil e contra o capitalismo
imperialista internacional através da reforma agrária e por uma democracia
marcada por pão, terra e liberdade. Os insurgimentos ocorridos no Rio de
Janeiro se destacaram por serem mais movimentos do que a luta propriamente
dita, esse foi um erro que custaria caro sob o aspecto político, afinal as
lutas travadas em 1935 eram contra as injustiças sociais e do inconformismo de
uma sociedade estática que nada fazia para resolver os problemas sociais. Essa
realidade era o reflexo de uma sociedade inapta e incapaz de resolver suas
mazelas por causa da falta de Cultura na política e nos meios sociais.
O ideário
tenentista era baseado na regeneração dos ideais republicanos, cidadania e uma
nova republica até mesmo os tenentes elitistas da ANL e os simpatizantes do
PCB, era geral o pensamento de cidadania restrito as camadas dominantes, isso
impedia o próprio ideal socialista, não podendo assim, existir a uma nação onde
negava liberdade a sua população, no caso do Brasil, era uma questão de
conquistar a cidadania e não resgatá-la.
Referência.
VIANNA, Marly.
“O PCB, a ANL e as insurreições de novembro de 1935”, IN: DELGADO, Lucilia E
FERREIRA, Jorge. O Brasil Republicano, vol. 2: O tempo do nacional estatismo.
Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2006.
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