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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Os Escribas



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"Quando os escribas morrem, eles se transformam nos seus livros, o que pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação."   Jorge Luiz Borges


OS ESCRIBAS

Segundo os documentos sacros, escriba era o responsável por transformar em lei o que não esta na escrita, principalmente quando se tratava de textos religiosos, pois eram os únicos com conhecimentos técnicos capazes de transcrever para a escrita o universo complexo que era a lingüística, revelando-se exímios doutores da arte; possuíam o dom de colocar em documentos as idéias e pensamentos de forma mágica como a expressão dos fonemas e a semântica da língua pronunciada, colaborando mais e mais para a já avançadíssima civilização egípcia; era um ofício exclusivamente masculino, e gozavam do privilégio de serem isentos de impostos.

Os cargos desempenhados pelos escribas além de administrativo, garantiam uma posição de classe social privilegiada, e todos os que a possuíam, era uma importante vantagem sobre os outros, porém eles eram escribas de postos de contagem da pecuária, do departamento de documentos, inspetores das áreas burocráticas e representantes do Egito no exterior; tinham como exercício diário da profissão administrar a quantidade de papiro a ser usada, o rompimento e colocação de selos oficiais em decretos régios, redigir atas, abrir cofres; anotavam todos os acontecimentos da vida cotidiana, a contagem dos grãos, os níveis de cheia do Nilo, calculavam impostos, faziam contratos além de toda contabilidade das riquezas que o rei possuía, ou seja, eram os secretários executivos da época.

Todas as cidades possuíam pelo menos um escriba que além de tudo, tinha que ser inteligente para a total compreensão em que iria trabalhar, tinha grande conhecimento para agir com precaução, dentro da profissão existiam as subdivisões dos escribas, sendo que os redatores dos arquivos de teor religioso necessitavam ser altamente qualificado para exercer tal trabalho, diferenciando-se dos outros, se destacavam os Djati responsáveis pelos segredos das escritas secretas dos arquivos e palavras sagradas, os Ti responsáveis pelos hieróglifos sagrados, os Neter – Ptahuash – Kaenra e os Ptahotep responsáveis pelos rolos divinos, sendo todos eles também sacerdotes e leitores, possuíam o título de encarregado dos segredos.  Os iniciantes do conhecimento dos ritos e mitos aprendiam com o escriba da vida e o sacerdote leitor os segredos do embalsamento.

Para cada época, os escribas desempenhavam atividades que acompanhavam as mudanças junto com seus faraós; no período Menfita que correspondia ao 3° milênio, foi criada a escrita iconográfica, ou seja, eram imagens através de desenhos e se faziam de maneira que os escribas permanecessem sentados no chão ou de joelhos cruzados (posição de lótus) com a coluna reta, um pedaço de papiro desenrolado no chão e um pincel, geralmente eles eram destros para não manchar as escritas com borrões.

Outra particularidade dos escribas, é que eles serviam de intérpretes aos analfabetos, pois a grande maioria do povo não sabia ler, estima-se que um escriba representaria de 20 a 30 pessoas, fazendo deles além de inventor da escrita e de textos: oradores; isso despertava a cobiça dos administradores, especializando-os nas atividades setoriais para que os outros escribas se equiparassem aos funcionários reais; tal cardo exigia noção de escrita ou seja, saber como usar o pincel, tinham que saber ler. 


Esse aprendizado começava na infância, pois necessitavam ter a habilidade das mãos, e ter os dedos limpos, faziam parte das exigências que fossem rígidos e caprichosos, não se estranhavam crianças de 3 ou 4 anos aprendendo a reproduzir frases, esses treinamentos começavam com pedaços de lascas ou pedra e o material usado posteriormente eram uma palheta de madeira com um furo para guardar o caniço, usado como pincel para escrever, ,quando eles praticavam a escrita, esmagavam os pigmentos no pilão e depois transferiam a tinta para o tinteiro, na qual possuíam duas cavidades, uma para a tinta vermelha e outra para a tinta preta;  escreviam umedecendo os pincéis que ficavam em bolsas de couro.

Esse treinamento era inicialmente disponível somente na capital e posteriormente as outras cidades, eram necessário que as famílias dos aprendizes também se interessassem pela cultura perpetuando assim uma hegemonia entre classes economicamente favorecidas. Cada desenho representava uma imagem, tinha um som fonético e ao ser pronunciado juntavam os sons pronunciados formavam palavras mais complicadas, sendo que suas representações eram ricas em detalhes; essas técnicas elevaram o conhecimento das escritas á níveis nunca vistos antes, avançando nas áreas da pintura e dos desenhos, foram desenvolvidos técnicas, ferramentas, bastões, cordéis e pedaços de carvão, de fácil manuseio, tudo usado para o aperfeiçoamento das artes e escritas, sendo na sua maioria os traçados feitos na parede um quadrado como referência, baseado em medidas de suas subdivisões.

As pinturas eram feitas de perfil com braços e corpo de frente, aproveitando em muito a utilização da perspectiva da aparência, em geral a parte que mais se destacava nos desenhos eram o nariz e o toucado, os olhos, braços e tronco eram desenhados de frente. Com o Novo Império surgiram escribas que eram também compositores e sua forma de trabalhar foi inicialmente através do discurso; era prática da época os mortos importantes seres sepultados com escritas em seus sarcófagos ostentando todo o seu poder, descrevendo quem eles foram e acreditam que quando voltassem reaveriam todo seu tesouro através das escritas nos sarcófagos e nas paredes de onde se encontravam;  Existia um lugar próprio para os livros ao ensinar,conservar e copiar, se chamava “ casa da vida” e ficava perto da casa dos livros, local das raridades e relíquias antigas onde seu estado de conservação era cuidadosamente trabalhado e se alguma avaria nos objetos fosse constatada, era catalogado como: “encontrado com defeito”.

Era necessário haver essa distinção entre os escribas, fato que enriqueceria ainda mais a profissão em detalhes, onde o faraó sairia beneficiado com uma riqueza de informações dos servos, portanto o conhecimento de escrever se distinguiria por serem cargos importantes, o saber escrever seguia para uma direção de instrução e não mais por ser uma situação social ou profissional, o escriba era a representação viva e literal dos desejos do faraó; para ser um escriba no Antigo Império era obrigatório saber ler e escrever, isso abrangia partes da sociedade como médicos, arquitetos, engenheiros, para almejar um melhor cargo futuramente, isso queria dizer que se ele necessariamente teria que ser um sábio de outra área, mesmo não sendo a escrita não haveria problemas, pois ele era alfabetizado, explicando por que muitas vezes eles desempenhavam papéis como escritores das divindades ao templo sagrado. Eles não demonstravam muitos interesses em questões filosóficas ou abstratas, sendo a sociedade responsável pelo surgimento da matemática (aritmética e geometria).

Não era possível estabelecer uma relação dos que sabiam escrever e os analfabetos, pois grandes partes dos cátedros se encontravam nos palácios governamentais, ligados a cargos administrativos ou as casas reais. Por volta da I8ª dinastia, o ofício militar que era responsável por alistar e recrutar os homens para o exército, passou a compartilhar com os escribas civis as escritas, assumindo cada vez mais as novas posições; a competência dos escribas militares foi notória a ponto de surgiu à figura do vizir, uma espécie de ministro conselheiro e religioso, garantindo que a hegemonia militar se estabelecesse nas autarquias do poder egípcio, isso acirrou a disputa entre os escribas civis e militares pelos cargos administrativos; no período ramseico, ocorreram mudanças importantes na civilização, à língua falada começou a se contra por com a escrita codificada.

Grande parte dos escritos em papiros, foram encontrados em pedaços de vasos ou estilhaços de calcário chamados óstracos; já no Novo Império, e escriba tinha como  função a desempenhar o papel de intérprete e mediador; o idioma babilônico, hitita, e kurrita eram só mais um dos vários idiomas que eles tinham que ter domínio tanto na escrita como na fala, além de deter o conhecimento em traduzir a escrita cuneiforme, para garantir negociações diplomáticas que a situação requerera.

Amenófis IV
Entre o grande e o pequeno templo na capital Amenófis IV encontrava-se o local onde as escritas eram arquivadas, a descoberta de um fragmento da epopéia de Gilgamesh (o dilúvio de Noé) confirma que a leitura era aprendida por obras literárias com o auxílio geralmente de um acompanhante estrangeiro, para uma transcrição do egípcio às outras línguas, isso exibiria dos escribas o domínio sobre a escrita cuneiforme para poder estabelecer semelhanças com a sua e a partir daí elaborar sugestões. Na 25ª dinastia, os Núbios conquistariam o Egito, e adotaram uma escrita que mesclaria elementos da língua egípcia e sua tradição literária; a escrita demótica da 26ª dinastia perdurou até a época de Ptolomeu, porém a hierática (forma de hieróglifos egípcios) continuava ser usada em textos religiosos e literários, a escrita hieróglifa foi sumindo aos poucos, sendo cultuada ainda no meio sacerdotal, o símbolo hieróglifo mais usado era a “cártula”, e representava o nome do faraó circunscrito dentro de uma corda oval com um nó embaixo. 


A cultura grega passou a fazer parte do dia a dia no Egito com o avanço de Alexandre o grande, e isso influenciou mais uma vez na escrita, enriquecendo-a mais em muito o patrimônio literário e lingüístico, a biblioteca e o museu de Alexandria foram de fundamental importância para o engrandecimento da antiguidade na “casa da vida”. Os escribas faziam parte de elite egípcia sempre sob o olhar astuto do faraó, e acreditava-se que não existia profissão mais vantajosa no Egito que essa; sua época áurea durou até o século IV quando desapareceram quase que por completo com a chegada do cristianismo, mas não desapareceram sem deixar seu legado, especializaram-se nas áreas das ciências e da química onde manipulavam substâncias como o arsênio, cobre, petróleo e sal, na medicina prenderam a manusear as complicadas áreas do cérebro e a fisiologia humana, na astronomia, se baseavam na posição estrelar para a agricultura e as navegações a ponto de elaborar um mapa onde distinguiam claramente as estrelas dos planetas. 


Por causa da astronomia desenvolveram o calendário solar em 365 dias divididos em 12 meses de 30 dias, criando a relação dos astros com o nascimento do indivíduo e suas características pessoais. Eles desenvolveram também as padronizações de pesos e medidas, criaram o sistema numérico de contagem onde consequentemente desenvolveriam as ciências exatas, nas operações criaram a soma, subtração e a divisão, como não conhecerem o zero, desenvolveram o sistema métrico decimal e os cálculos apresentavam uma precisão incrível nas áreas do triângulo, retângulo, trapézio e volume de sólidos, ou seja, graças à maioria das inovações e heranças históricas deixadas por eles no passado, até hoje devemos a esses homens com seus materiais de escrita as transformações do mundo muito além dos domínios do faraó.


REFERÊNCIA

DONADONI, Sérgio. O Homem Egípcio. Lisboa.
Editora: PRESENÇA, 1990 ( tradução: Maria Jorge Vilar de Figueiredo).

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