A história Presente

A história Presente
História na veia

Seguidores

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Arquitetura da destruição.


As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha.” Adolf Hitler

Um fato para é inegável, Hitler apesar de ser o que foi e o que representou, mudou definitivamtne o século XX, sua presença foi um marco divisor a política mundial daquele período; não estou defendendo, pelo contrario, abomino suas atitudes, mas quero ressaltar o que foi feito durante e depois de sua passagem do comando alemão e as conseqüências para o dito mundo moderno. Na guerra tendemos a ser solidários com os oprimidos, e o que se passava então na cabeça do Fuher? Por que tanto ódio? O que motivou ele a ser tão desprezível pela vida humana? São perguntas que ele tentou a sua medida responde-las com atitudes, não as mais corretas, mas sob seu ponto de vista as necessárias para corrigir um passado amargurado e desprezado para um futuro belo e glorioso.

Peter Cohen
Este trabalho foi obra de Peter Cohen, produzido com o intuito de mostrar através de uma mente doentia, porém poderosa os vários rumos que uma administração seja ela para o bem ou para o mal pode seguir, neste caso o filme foi produzido com cunho propagandista de uma Alemanha gloriosa através da arte clássica com um sonho segundo seu realizador “utópico”, mas que para as circunstancias do memento era tão real quanto à guerra que estaria por vir. Foi uma obra produzida pela propaganda nazista a fim de mostrar como seria uma sociedade “perfeita”, sem as mazelas da vida normal, sem doenças, nem miscigenações, apenas o belo representado pela saúde física e mental de um povo sob a égide da beleza grega e romana.

O trabalho mostra ao expectador como seria a Alemanha ideal, a Alemanha forte, quem assiste ao filme segundo seus realizadores deveria compreender que esforços são necessários para se atingir a perfeição, e se necessário, medidas extremas devem ser tomadas para atingir os objetivos almejados, portanto, o expectador que assistisse ao filma, sairia deveras encantado com as belezas que são mostradas no filme, implicitamente ele também deveria saber que toda a “sujeira” varrida deveria ir para algum lugar.

O que o diretor fez foi ajudar o espectador a entender como foi formado o contexto da ideologia nazista, dando particular atenção ao raciocínio alemão na sua jornada contra os judeus e a Europa, Cohen argumentaria que o nazismo é uma ideologia ligada intrinsecamente a estética, baseado nisso, ele foi além do objetivo desejado, pois, conseguiu mostrar através do documentário o que um homem e sua personificação pode fazer com o poder em mãos, Cohen mostrou através de sua capacidade ao produzir esta obra a sagacidade de um sujeito disposto a tudo, malogrando ele que esse desejo pode destruir quem o cerca bem como destruir a ele mesmo.

O texto trabalha o uso da arte e da estética pela Alemanha nazista, sua intenção foi mostrar um homem com sonhos ardilosos e como o faz para realizá-los, apoiado a uma máquina de propaganda ideal e com outras mentes tão insanas quanto, ele conseguiu produzir efeitos sobre as massas através de “verdades”, conquistando assim, a simpatia de uma nação destroçada pela guerra e que se encontrava e se considerava injustiçada, sedenta então de vingança, Hitler se mostrou condescendente com seu povo, abraçou a causa e pode colocar seus planos em pratica se portando como um líder braço de ferro, agora tudo o que fosse contra de encontro a sua ideologia seria automaticamente eliminado.

Aos que assistirem o filme, a reflexão é pertinente para que não deixem uma mente doentia fazer o que fez e que não haja ninguém que o impeça, dever ser visto por pessoas com poder de decisões sábias a respeito da vida para que não cometa os mesmos erros em escalas menores, pois indiferente do ato cometido, não se deve eliminar o outro como um animal em nome de um proveito maior ou beneficio a si somente.

É um filme que não dever ser visto por pessoas com mentes pequenas que não enxerguem além de seu umbigo, visto que, justamente por que são pessoas desprovidas de humanidade, são pessoas que não respeitam as diferenças, as opções sexuais, não respeitam religiões, culturas, etnias, gostos. Este filme não dever ser visto por gente preconceituosa, racista, fundamentalista, radical, pois seria uma violação a maneira deles pensarem sobre o que é certo e errado para eles. Como diria Mario Quintana, são pessoas deficientes de alma e espírito.
Arquitetura da destruição.

O diretor Peter Cohen teve como objetivo mostrar através da linearidade os passos de Hitler e seus colaboradores com relação à paixão pelas artes, isso foi possível a ascensão do partido nazista que se tornava poderoso e poderia propiciar o desejo deles a partir desse momento. Desde os primeiros rabiscos até projetos elaborados o nazismo se concentraria em tornar o mundo inicialmente alemão “menos feio”. Seu mentor, o Fuher era um apreciador de artes, sendo inicialmente arquiteto e pintor, consideravam-no um medíocre frustrado, a ponto de não ser aceito na Academia de Artes de Viena, sua ira então foi potencializada o que o fez seguir para o partido nazista, este sim apreciaria os projetos artisticos e arquitetonicos, propiciando uma nova era as cidades urbanas.

Hitler teria elaborado algumas exposições de arte, dentre essas exposições estava o verdadeiro sentido que era dar inicio ao plano de exterminio dos judeus, por isso divilgaria a "arte sadia", relacionada com os ideais estéticos da raça ariana, e a exposição alternativa, mostraria uma "arte degenerada", mostrando ao povo alemão como era a arte que eles não deveriam apreciar. Todo esse contexto começou mudar quando os nazistas começaram questionar esse tipo de arte, questionando-a e relacionando-a ao que era considerado bruto como os judeus e o bolchevismo russo.

Mas como inicialmente o chanceler alemão daria ênfase a seu plano? Ele o faria através da teatralidade cujo objetivo era promover o nacionalismo em toda a população alemã; logo após dominar a França, o chanceler visita a capital parisiense e o local onde se situava a Ópera de Paris, logo após o Arco do Triunfo, posteriormente faria o mesmo nos países baixos, sua fixação era explicita pela arquitetura dessas construções. Um fato interessante foi o de que a cada país invadido, ele faria sucessivas pilhagens dessas obras de arte, aumentando o acervo artístico gigantescamente.

Em 1941 quando dominou a capital grega, proibiu qualquer tipo de ataque sobre a cidade para não destruir as obras de artes naturais de Atenas que concentrava naturalmente o belo e o clássico em suas construções milenares. Para atingir tal perfeição, Hitler negaria a arte moderna, desprezada por ele, para respaldar essa ojeriza ao moderno, ele se utilizaria da beleza como sinônimo de saúde e perfeição, assim, qualquer doença que deformasse o corpo deveria ser “curada”, como se cura uma doença? Matando-a. A medicina nazista é então colocada em pratica, onde valorizaria o sadio, puro e belo, e utilizaria todos os meios para erradicar os males que pudessem afetar essa “obra de arte natural” o ariano puro.

Socialmente falando, esse embelezamento era ligado à limpeza em todos os seus significados, assim a medicina alemã garantiria a seu povo saúde e limpeza para trabalhar, assim, eles sairiam da condição de proletários e se tornariam burgueses felizes, eliminando, portanto a luta de classes. O grande mal para o Fuher na época eram os judeus, pois para ele, os descendentes de Abraão eram mais unidos do que o povo alemão, e por viverem do lucro dos negócios, a mãe alemã estava em crise, pois eles haviam ser proliferado mais do ratos de esgotos, contaminando assim a grande mãe Alemanha; a medida necessária para mudar essa realidade foi então a perseguição inicialmente dos judeus e posteriormente a sua eliminação como parte dessa limpeza étnica. A pátria alemã agora deveria se ver livre dessa praga que tanto prejudicava o corpo e a alma do alemão.

Tratando-os verdadeiramente como pragas, os alemães então usavam literalmente os mesmos produtos utilizados em plantações e lavouras para matar essa “desgraça”, inicialmente começaram dar sumiço a essa pessoas raptando-as e levando-as para praticar a eutanásia, foi “bom no começo”, mas era uma medida paliativa para resolver o problema depois o morticídio passou para a fase dos fuzilamentos, também não resolveu, pois se tinha custos com a munição “desperdiçada” tornando-se também ineficiente, era considerada uma alternativa “suja”, pois o sangue dos fuzilados emporcalharia o local onde eram executados, criou-se então para isto, um programa de assassinatos por gás letal.

O Programa T4, essa seria uma alternativas, em seguida vieram as câmeras de gás onde utilizavam o desinsetizante zyclon-b, aparentemente pareceu ser um processo mais limpo, mas também tinha problemas de logística, os judeus demoravam demais para morrer, a solução final foi então a cremação dos corpos, pois esta desapareceria com qualquer vestígio. O detalhe que como as fornalhas não davam conta da queima de fornos, o pó dos corpos carbonizados começaram a produzir uma intensa “fuligem” e os alemães das cercanias começaram a estranhar tanto pó, a solução final e a mais eficiente foi então a construção de campos de extermínio em Auschwitz, Treblinka, Subibor, entre dezenas de campos de extermínios, essa medidas corretivas seriam necessárias para o fruto da necessidade de limpeza.

Posteriormente os nazistas usariam o discurso da estética e da biologia para justificar suas ações, sendo os hospícios os primeiros lugares de purificação, esses locais eram cheios de gente “feia”, subversiva naturais, porém tinham todos os cuidados necessários que os arianos puros não tinham; o que o nazismo passava para a população alemã era de que esses loucos viviam cercadas de luxo e beleza sem capacidade de administração ou de contemplação, já os alemães propriamente ditos viviam em condições miseráveis, de pobreza extrema, assim iniciar se iam as perseguições nos diversos grupos da sociedade contra esses “desprovidos de beleza”, a limpeza começou principalmente as pessoas deficiêntes depois os judeus, tratando-os como se fossem bactérias ou vírus, o verdadeiro mal a ser erradicado da Alemanha.

Os judeus eram associados aos ratos, pois, além de transmitir doenças, neste caso eles adoeceriam a alma alemã), eles se multiplicavam rapidamente e só trariam prejuízos e não trariam nada de bom. Sob o respaldo de uma nação sã, foi colocado em pratica teorias médicas responsáveis pelas políticas raciais, cujo objetivo era a higiene racial, inicialmente foi autorizado sem a população saber o uso da eugenia nazista, ocorriam as primeiras esterilizaçoes de doentes mentais, depois foi a morte de crianças que apresentassem defeitos de má formação, com o advento da Segunda Guerra Mundial isso tudo foi banalizado e tiveram que adotar medidas mais eficientes. O médico nazista a partir do momento que passou a se utilizar dos método de extermínio, não fazia mais parte da classe responsável pela preservação da vida, mas de alguém que, para preservar a beleza, eliminaria os fracos e deformados.

O inicio desta caçada desencadeou uma insanidade coletiva de gente “apta” contra os “defeituosos”, a ponto da matança se tornar tão usual quanto dar um “guten morgen”, isso era visto diariamente, enquanto guerra, com o exterminio dos judeus na chamada “solução final”. O detalhe desta limpeza que ela não ocorria somente com os desafetos nazistas, ou seja, os judeus, ela ocorria agora também com crianças e soldados alemães considerados inaptos para defender a grande nação germânica, essa prática foi vista como forma de domínio alternativo. Para Hitler ter êxito em sua nova “empreitada”, era necessário ele se tornar popular para ter o apoio do povo para embelezar sua administração, para isso ele contou com uma eficiente maquina de propaganda, sendo a responsavel pelo sucesso nazista em todo territorio alemão. 




Paul Joseph Goebbel
Nesse mecanismo midiatico baseado no rádio, seu ministro da propaganda Paul Joseph Goebbels fora designado para a tarefa, desempenhando um excelente trabalho propagandista, quanto mais a Alemanha percebia a derrota se aproximar, mais ele intensificava sua campanha ao povo alemão para que lutassem até o fim e se necessario morressem pela pátria. Era nítida a vontade do Führer se tornar o porta voz do povo, por isso a necessidade dele se intitular seu porta voz, o fato foi que ele se utilizava de sua postura ditatorial e totalitária com um discurso “encantador e mágico” que conquistaria qualquer um, mas o público alvo era os militares para levantar sua moral diante das dificuldades e depois sim a população civil, suas frases causavam emoção e histeria coletiva nos discursos. 

Por isso a importância dele conquistar um Estado belo através da arte que seria imposta, expurgando de uma vez por toda o lixo da arte moderna, que tinha o intuito de degenerar, depravar o espírito da sociedade alemã, bem como o resto do mundo. Na propaganda nazista a meta era criar uma mentalidade anti-semita, logrando assim, a grande nação superior, a nação ariana sem mistura, constituída ela 100% de puro sangue alemão, mas para isso, antes era preciso dar exemplos deste projeto, e nada melhor do que o controle do Estado sobre a opera, por exemplo, que compreenderia o controle do Estado sob todas as formas de arte. 


O Partido Nacional Socialista Alemão tinha como intenção ainda, dentro da estrutura da propaganda nazista dar exemplos dessa arte classica atraves das pinturas de Hitler quando morava em Viena atraves das inspiraçoes de Richard Wagner. Essa nova estética seria possível através da Antigüidade Clássica tida para o Führer como o ápice da manifestação artística humana. Esta forma de propaganda foi influenciada fortemente pelo romantismo alemão da segunda metade do século XIX baseado em questões de ordem médica. A arte propagandista idealizada por Hitler tinha como ícones a antiguidade greco-romana onde os corpos nus perfeitos mostrariam como deveria ser a nova nação alemã, baseada em princípios familiares com paisagens ao fundo onde as famílias celebrariam a vida felizes.

O “pacote vendido por Hitler”  era de uma Berlim remodelada e esta faria da capital alemã "uma sombra" de  Paris. A idolatria pelos povos antigos era tanta que a propaganda de guerra era moderna com objetivos antigos, pois, como os romanos dizimaram por completo a cidade de Cartago, Hitler faria o mesmo com a capital russa, em sua megalomania ele pretendia construir uma represa que inundasse a cidade toda. Sua obsessão pela antiguidade greco-romana era tamanha que ele inseriria a escravização e a submeteria aos povos eslavos. Na verdade a propaganda nazista tinha objetivos políticos e estéticos, e em nome desta visão de mundo, ele não mediria esforços para eliminadas quem não se enquadrasse no ideal de beleza nazista. 

Seu desejo era buscar a perfeição racial como uma condição indispensável para a sobrevivência de sua gente, por isso a negação da cultura bolchevique e judia através da propaganda culminaria no Know how do aperfeiçoamento de planos para eliminar com os judeus da face da terra. Em suma, o filme mostrou de maneira inteligente e simples o papel da mídia e seu poderio, bem como o que ela é capaz de fazer quando bem aplicada e combinada com técnicas adequadas. O Füher sabia disso e se utilizou desse mecanismo midiático de forma genial, pois sabia como fazê-lo, fato esse comprovado na “quase realização de seus objetivos”. 

Por causa de seu assessoramento técnico e de persuasão, ele mudou a mentalidade de uma época onde convenceu quase a nação toda de que os judeus não poderiam ter o controle de suas finanças em terra alemãs, não poderiam residir em casas belas, enquanto a maioria dos alemães puros, de raça superior ficavam por baixo, morando em casebres, a solução: terminar inicialmente com seu poder de dominação, tirando-lhes o motivo deles viverem na Alemanha, seu poder financeiro, depois a liberdade e finalmente a vida.

A maneira como ele o fez foi brilhante, pois conseguiu mudar a mentalidade de seus compatriotas fazendo com que pensassem através de sua teatralidade que os judeus eram através da mistura de raças uma mutação genética e isso estava contaminando o país, a mídia foi a grande responsável pelo seu sucesso propagandístico, pois, os influenciados só o foram por causa das técnicas de comunicação bem empregadas; a publicidade nazista foi utilizada como ferramenta para vender uma idéia, um estilo de vida, um ideal. 

Adolf Hitler por ser um simpatizante do contratou a cineasta alemã Leni Riefenstahl para realizar filmes de propaganda nazista sobre o III Reich, a cineasta produziu o considerado até então seu maior clássico, o documentário mundial: O Triunfo da Vontade de 1935, nesse projeto, ela mostrava convenção anual do partido nazista em Nurembergue no ano de 1934, por causa das técnicas utilizadas para a elaboração desse filme, o cinema se tornou admirável do ponto de vista estético, exaltando o ponto de vista ideológico e humanitário.








Referência:
COHEN, Peter. Arquitetura da Destruição. Titulo Original: Undergångens arkitektur. Direção: Peter Cohen. Suécia 1992 - 121 minutos.

Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão. TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RECONHECIDOS.


Mr. reader, all images were taken from the Google search site, do not feel offended if perchance, one of the images posted are your, the blog´s intentions is to illustrate didactically the text and not plagiarize images. Thank you for understanding. ALL RECOGNIZED COPYRIGHT.





quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

1930: Estado e sociedade – uma polemica historiográfica e o PCB, a ANL e as Insurreições de novembro de 1935.


“Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem.” Getúlio Vargas

Revolução de 1930 marca a chegada de Vargas ao poder determinando o Estado Novo com o autoritarismo.

Tese do vazio do poder: com a chegada de Vargas, preenche esse vazio. Não havia um projeto coeso, com esse vazio, o Estado assume esse poder para batalhar o direito dessas classes; pela sua incapacidade de apresentar projetos políticos em nome de uma burguesia agro exportadora, o Estado não via saída em assumir o preenchimento dessa classe fragilizada. A representação desse poder estatal foi consolidada por Vargas fazendo uma alusão a Napoleão Bonaparte, assim o Estado forte, cria um compromisso com as classes representando-o, sem esperar confrontos, conflitos, guerras civis, além de consolidar as leis trabalhistas, previdenciárias.

Nelson Werneck
Nelson Werneck: A revolução de 30 foi uma revolução burguesa, mas não havia uma burguesia e proletariado e coeso, pelo fato da burguesia não estar desenvolvida, não foi ela a propulsora da revolução de 30. Com esse suposto compromisso, o Estado começa “podar” os direitos civis. A burguesia na verdade, estava por trás desse Estado forte; esse vazio de poder estava vinculado limitada a hegemonia dessa classe burguês-proletariado, ainda não constituído, pois não apresentavam projeto algum para chegar ao poder. A classe media urbana não apresentava uma identidade sócio histórica definida, ou seja, o Estado forte que alavancaria o desenvolvimento do Brasil. Assim o Estado cumpriria com essa tarefa, encarando as situações como nação, o sujeito histórico agora seria o Brasil, por isso, os tenentes entrariam em cena incorporando esse aparato burocrático, tentando reorganizar a sociedade a seus moldes; era uma revolução não feita pelas classes, pois vinha do alto da sociedade. O Estado não reoxigena essas relações, apenas faz a manutenção desse poder, Vargas então coloca os tenentes com a intenção de organizar o Estado Brasileiro.

Tese da modernização do Estado: para alguns houve a ruptura do Estado a ponto dele se modernizar, os estados passaram a ser mais industrializados, com uma centralização do poder central por parte do Estado através da leitura política, mas até que ponto houve essa modernização? Pode-se dizer que a sociedade brasileira teve inicio na década de 30, pois se iniciou a modernização do país. É necessário ter cuidado quando se faz afirmações convictas, pois tudo corre linearmente; a grande contribuição para o Estado moderno foi à legislação trabalhista e a providenciaria, pois essas eram metas comprometidas com a modernização do Brasil. A burguesia tenta se consolidar com seu moderno democrático liberal, colocando no poder um representante nosso, ao invés de dar espaço aos comunistas, socialistas; por esse viés, eles tomariam o poder frente as classes operariadas; essa burguesia era a mesma de 1920. Há uma modificação de bloco de poder, democracia não era só ter eleição, as classes estavam realmente a margem da sociedade, havia modernização sim, mas com limites.

Tese da construção do fato: entendiam outras forma de atuação, resistências das classes subalternas, há agora idéias de ruptura, do antes e depois, dizendo que não houve essa ruptura citada em 1930. A burguesia industrial atuou contra o BOC (Bloco Operariado de Classe) representada pela CIESP, assim a burguesia tinha um projeto nacional; a burguesia percebendo essa organização dos trabalhadores derruba esse movimento trazendo um representante para eles colocando um Estado forte como aliado. A burguesia precisava de um Estado autoritário, por isso precisava da policia conter essa nova ordem de movimentação de projeto de representação dos operários; na verdade há um equivoco de chamar a revolução de 30 de revolução e sim um movimento, a burguesia começava a se antecipar mostrando seus projetos com a finalidade de acabar com esses movimentos “perigosos”, afinal o proletariado não poderia ser visto como produtor de “mão de obra” entre a relação do operário e o Estado.

Percebiam-se pequenas resistências entre dominados e dominantes, havia projetos de blocos operários, porém, não eram partidos; a historia vista de baixo (Thompson/De Decca) fazia agora parte da historiografia com seu momento historiografico, trazendo novas construções e complementações sobre esses fatos, trazendo assim, a memória dos vencidos, fazendo das classes sociais fortes e não débeis, eles eram sujeitos privilegiados de projeto como construção histórica. A burguesia organizada conseguiu desestruturar o movimento operariado através da neutralização de suas  bandeiras; o proletariado  por sua vez não queria “representações”, eles se representavam por si só. A “revolução de 30” apagou a memória dos vencidos e construiu um novo mundo sob a visão dos vencedores, elaborando um novo projeto autoritário no Brasil.

O PCB, a ANL e as Insurreições de novembro de 1935.
Nossa história passou por diversos períodos conturbados, dentre eles pode-se citar o período de 1935 através dos agitos da ANL (Aliança Nacional Libertadora), o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e os levantes do mesmo ano, foram momentos onde a participação do PCB e os tenentes mais se fizeram presentes nos agitos de nossa história brasileira. As rebeliões tenentistas já datavam o período de 1920 e finalmente sua eclosão em 1930, onde a sociedade brasileira se viu seguir por novas trilhas, legitimada agora pelas forças armadas com o intuito de transformações e o inicio da revolução intensificada pela efervescência política pelo qual o país atravessava.

AIB
A sociedade da época sofria pelo fato de ser considerada atrasada culturalmente bem como os grupos que a representavam, citados diretamente como aqueles ligados as camadas que tiveram conhecimento superior, profissionais liberais, estudantes e os tenentes representantes do grupo armado; a classe operaria também tinha sua representatividade através dos movimentos sindicais. Os partidos até existentes eram o PCB fundado em março de 1922 e a AIB (Ação Integralista Brasileira) fundada em outubro de 1932; o tenentismo começa a se fazer presente a partir da rebelião do Forte de Copacabana, aos 5 de julho de 1922, o ano de 1924 foi marcado pelo seu fortalecimento com os levantes paulista (Isidoro Dias Lopes) e gaúcho (Luis Carlos Prestes), a união desses dois movimentos originou a Coluna Prestes.

Luiz Carlos Prestes
Com a candidatura de Vargas nos idos de 1930, o movimento tenentista sofreu uma cisão, de um lado ficou o general da coluna Luiz Carlos Prestes defendendo o socialismo como a única solução capaz de responder pela sociedade de forma justa e do outro lado ficaram os tenentes revolucionários simpatizantes de Getulio Vargas. Nesse ínterim, os tenentes foram eleitos os representantes da sociedade brasileira, mas eram deficitários em apresentar um plano de transformação social, afinal, eles representavam a democratização da vida política e social, bem como as transformações tão sonhadas pela população, ao passo que eram tidas como moralistas.




Partido Republicano Paulista
Os tenentes se destacavam por serem os únicos a serem aceitos pela sociedade que tinha sede de transformações políticas principalmente quando se referiam aos rumos em que a Republica andava; os principais desejos da população eram contra o trabalho escravo, e contra os avanços econômicos capitalistas, responsáveis pela dominação imperial-escravista em que o país se encontrava. O fato era que o Brasil ainda apresentava ranços da antiga sociedade escravocrata e por isso mesmo, não havia histórico de lutas de classes, a tão sonhada cidadania estava mais para utopia do que para realidade; isso começou a mudar a partir de 1930 quando a revolução contava agora com a presença maciça da população que nesse momento quebrava a hegemonia oligárquica cafeeira, representada pelos paulistas através do Partido Republicano Paulista.

Vargas era visto como a possível “solução para esses problemas”, onde, através da reestruturação do poder, tentava uma aproximação com os grupos derrotados pela revolução. A sociedade brasileira ainda “cheirava” a escravidão, isso era sentido através do autoritarismo, da tradição, eram elementos que pesavam no ideário de termos sido uma sociedade que partilhou da escravatura por mais de quatrocentos anos, não seria diferente agora as classes dominantes alegarem a tutela do povo para representá-los como forma de enganá-los alegando serem pobres e ignorantes, por isso a suas presença para ajudá-los a evoluir. A classe dominante do período de 1930 apesar de ser um movimento elitista, não apresentava bases de transformações significantes em seu ideário, as mudanças ocorridas, pouco ou nada fizeram para resolver os problemas existentes, não importando se eles eram econômicos ou democráticos. Getulio apresentaria uma nova proposta de mudança frente a esses engodos.

CF/1934
Ele trabalharia para ter a classe operaria de seu lado, remodelaria a forma de gerencia estatal, mas não mexeria nas estruturas produtivas nem nas relações sociais, deixando a desejar a aqueles que almejavam mudanças mais presentes; em 1934 com a aprovação da Constituição, seu governo provisório deixa de existir, mas a realidade política continuava efervescente, sendo a insatisfação sentimento da maioria, por causa disso, Vargas ficou contra a Constituição que acabara de promulgar. Situação parecida havia ocorrido um ano antes na Alemanha nazista sob o comando de Hitler, cujo intuito era levar o país germânico a líder mundial, no país vizinho Itália, Mussolini prometia os mesmos “milagres”. Eram Estados fortes caracterizados pelo autoritarismo tidos como os promissores a resolver suas crises internas representadas pela democracia moderna liberal e do capitalismo de livre concorrência surgido com o crash da bolsa de Nova Iorque em 1929.

A AIB (Ação Integralista Brasileira) em outubro de 1932 foi fundada pela simpatia do fascismo internacional, a representatividade do autoritarismo se espalhava pelo mundo contemporâneo com fortes ligações no Brasil, graças aos séculos de escravidão pelo qual havíamos passado. O ideário nazifascista se propagou rapidamente, agregando muitos simpatizantes, até mesmo nas camadas médias urbanas dentro da classe operaria, bem como a elite dominante e dos altos escalões militares. A tão sonhada democracia citada por eles era o respaldo que a elite almejava para governar em nome do povo e para o povo, sendo que eles não teriam direito a participar dessa governança. Por isso, a luta da hegemonia política como episódios relevantes para os fatos que ocorreram em novembro de 1935, por causa da presença dos dois principais partidos o PCB e a ANL.

Como dito anteriormente, o PCB era composto por uma minoria de militantes oriundos do anarco-sindicalismo, sendo seu lema a Revolução Socialista Russa, assim, os comunistas brasileiros logo se tornaram membros da Internacional Comunista (IC). A 3ª IC (Kominter: Komunististcheskaia internacional) de 1919 foi fundada pelo próprio Lênin. A representatividade da IC se fazia através dos comunistas, socialistas, trabalhistas e simpatizantes dos partidos de esquerda que deveriam obedecer as diretrizes do partido (21 ao todo) para a seu ingresso que agora se transformara num partido comunista internacional.

Arthur Bernardes
O item 12 dessa diretriz dizia respeito a obrigatoriedade da centralização democrática, ou seja, a decisão seria tomada pela maioria dos participantes, os outros teriam que acatá-las através das decisões tomadas pelas diversas seções dos partidos comunistas nacionais. O estado socialista então era fortalecido por causas dos partidos comunistas terem fracassado na tentativa de tomar o poder em vários países europeus; na America Latina a IC ocorreu em 1929, pois o conhecimento que se tinha dessa região era precário e simplista. O PC obedecia as diretrizes da IC, entre 1922 e 1924 não participou inicialmente das revoltas militares, 1930 declarou que a luta era do imperialismo inglês contra os Yankes e que eles nada tinham a ver com essas disputas. Mesmo sendo um partido pequeno, ele tentava relacionar-se com a política nacional com o objetivo de representar a classe operaria através da política eleitoral, onde mesmo utopicamente defendia o trabalho agrícola versus o trabalho industrial com o intuito de defender o país contra o capital inglês agrário representado por Arthur Bernardes e contra o capital norte americano representado pela pequena burguesia evidenciando a figura dos tenentes.

O VI Congresso da Internacional Comunista.
Esse congresso significou muito para os brasileiros simpatizantes do comunismo para a época, fato esse notado até aproximadamente 1935, tendo como as principais idéias vindas do partido vindas desse congresso e posteriormente ao congresso de Buenos Aires em 1929; dentre as resoluções tomadas pela IC, o mundo seria dividido em três tipos de nações. Inicialmente os países que apresentassem o capitalismo evoluído em seu território, deveriam lutar pela ditadura do proletariado e o socialismo, depois viriam em segundo lugar os países com o desenvolvimento no estagio médio, onde deveriam conquistar a democracia burguesa para ingressar no socialismo e por fim a terceira divisão, as colônias, semicolonias e países dependentes, inclui-se o Brasil nessa designação, deveria haver um espaço temporal entre a revolução democrática burguesa e democrática.

batalha da Praça da Sé
Os “devaneios” pareciam fazer parte desse contexto, a ponto da IC declarar que somente os operários e filhos de operários deveriam fazer parte das filiações do partido, tendo na sua maioria a base formada por comunistas, foi um desastre; entre o período de dois anos (1933 – 1934) no auge da proletariezação, o PCB se absteve a pedido de Prestes no ingresso do partido a IC, afinal, os comunistas atacavam Prestes chamando-lhe de caudilho burguês. O subjetivismo era visto como ameaça ao dogmatismo e mecanicismo. Em 1933, por causa da política proletarista, o PCB foi dissolvido, cabendo a IC intervir no Brasil para que o partido fosse reestruturado e reorganizado, esse fato ocorreu sem a simpatia da esquerda, pois o intuito era criar um governo de sovietes, operários, camponeses, soldados e marinheiros. Com o fechamento do cerco entre antifascistas e antiintegralistas, o partido seguia as ordens vindas da IC, onde seus militantes obedeciam na pratica as diretivas com as forças democráticas pelas ruas contra os integralistas. Na tentativa de comemorar os dois anos de fundação da AIB em 1934, os integralistas foram barrados pelos fascistas, essa batalha de rua ficou conhecida como “batalha da Praça da Sé”, desse confronto, a esquerda saiu fortalecida.

Luis Carlos Prestes e a Conferencia de Moscou.
Após romper com os tenentes revolucionários, que na maioria apoiava Vargas, Prestes aderiu ao comunismo em 1930, enfrentou algumas crises pessoais e por causa disso em 1931 se mudou para a capital soviética onde exerceu funções como engenheiro, depois se tornaria assessor da IC, solidificou sua relação com o comunismo, tendo em vista sempre a sua admissão no PCB sem êxito, essa realidade mudou em 1934 quando a IC praticamente obrigou o partido a aceitá-lo como membro. Na ocasião, Miranda (Antonio Maciel Bonfim) passou dados não condizentes com a realidade brasileira ao Kominter sobre uma revolução prestes a eclodir no Brasil, sendo que o PCB teria condições de comandar essa revolução, dizia ainda que as revoltas eram de âmbito nacional, especialmente nas forças armadas.

Dimitri Manuilski
No território moscovita, as reuniões foram imprescindíveis para o levantem em novembro de 1935, tendo a frente da delegação brasileira Miranda, onde sem escrúpulos algum, mentiu insistentemente querendo ser notado pela sua audácia e vaidade. Dimitri Manuilski ficou encantado com as “verdades” proferidas por Miranda, como era representante da IC na América Latina ficou a mercê das mentiras do colega sobre a realidade brasileira “revolucionaria”. Dentre os “contos”, Dimitri ouvia avidamente ele contar sobre a adesão de Lampião ao PCB, frente a um governo inexpressivo e fraco que seria facilmente derrubado, cabia ao partido então organizar em todo território brasileiro ofensivas comunistas desde a capital até a mais longínqua cidade do interior, agilizar o movimento guerrilheiro. O fato era que em 1935 a cultura tenentista fazia parte da realidade brasileira, bem como a não adesão da IC nos movimentos revolucionários que aqui aconteciam.

Manuilski foi alvo de especulações sobre as supostas ordem em 1934 aos levantes que o país atravessava, foi visto algo como insignificante e banal, fora isso, as declarações era vagas e simplórias. O russo estudou em todos os sentidos o que estava acontecendo no Brasil, baseado nas mentiras incontestáveis de Miranda, a respeito da revolução e isso seria usado como exemplo aos demais países latinos tendo o Brasil como um país forte e centralizador. Posteriormente percebeu que não havia muito que fazer no Brasil, apesar das dificuldades vigentes, concluiu que o partido era jovem e bom, mas não era suficiente para iniciar uma revolução democrática burguesa e para uma revolução socialista era demasiado insuficiente, a verdadeira prova de fogo ocorreria quando o partido se transformasse num partido bolchevique com capacidade de manobra.

 Olga Benário
Coube a Prestes destacar o papel da revolucionária e companheira de partido Olga Benário na sua luta, pois era tida como guerreira, experiente e uma jovem corajosa; aos tenentes restou o ideário que culminou no levante de novembro de 1935 em terras cariocas, visto que a maioria esmagadora era de militares que participaram do movimento, aparentemente sem ligações com o PCB. O gosto de vingança que pairava no ar era para fazer memória a revolução de 1930 considerada traída, por isso era necessário “lavar a honra”, nem que para isso tivessem que abrir caminho através das forças armadas planejadas nos quartéis tendo a frente como “cabeça pensante” o tenente Luiz Carlos Prestes.

A ANL – Aliança Nacional Libertadora.
Carlos Lacerda
Em Moscou estava reunida toda a diretoria do PCB, no Brasil estava surgindo um movimento antifascista e antiintegralista, isso por que havia tenentes descontentes com os rumos que haviam sido tomados a partir da revolução de 1930, por isso as lutas democráticas e repressão contra elas, em especial a repressão policial do I Congresso Nacional contra a Guerra Imperialista e o Fascismo em 1924 no Rio de Janeiro. O comitê começou articular grupos de forças e instituições democráticas originando a ANL, tendo seu lançamento em 1935 no comício realizado no Rio de Janeiro, tendo como nome indicado a presidência Luiz Carlos Prestes e o parta voz Carlos Lacerda. A proposta desse novo partido era de unir interesses particulares e coletivos, defendendo a liberdade, bem como a emancipação nacional e social brasileira; uniria ainda os partidos políticos, sindicatos, centros estudantis, profissionais, sindicatos e militares.

Os tenentistas
Apesar dos comunistas e os tenentes partilharem algumas mesmas ideologias, suas lutas tinham teores diferentes na maneira de lutar, principalmente se isso se referisse ao poder; ao comunistas defendiam a tomada do poder a favor de um governo popular, os tenentistas não compartilhavam essa idéia e a luta democrática soava como distante, principalmente se o foco fosse a moral dos costumes políticos. A ANL e o PCB também divergiam em relação ao programa de caráter aliancista, cuja plataforma era a união de classes e não a luta entre elas, situação presente no comunismo. 


Os tenentes viam sua luta com prioridade na defesa da nação, nem que para isso o país mergulhasse numa ditadura tanto de direita como de esquerda. A aliança começou assustar o governo, por causa disso, o Estado aprovou a Lei de Segurança Nacional, paralelo a esse fato, o mesmo governo procurava semelhanças da ANL com o PCB, como forma de separá-la e lutar contra ela, assim teriam maior eficácia. Para Prestes e os tenentes, a revolução se aproximava cada vez mais, na sua maioria, os tenentes e comunistas viam-na como inevitável frente a luta armada para obter o desejado.

Com a realidade política, social e econômica conturbada, Vargas começou a se contestado até mesmo pelos ditos aliados, nas Forças Armadas isso ficou evidente através do descontentamento, enquanto as greves assolavam o país por reivindicações salariais através dos sindicatos. As conspirações militares surgiam paulatinamente desde o inicio de 1935, pois alguns oficiais simpatizavam com a ANL e o PCB. As greves começaram a ameaçar a segurança da nação, desestabilizando o governo, tudo conspirava contra, dando a impressão de que o Estado vigente seria destituído através da ditadura militar, ou outro regime parecido. O fato era que o país estava mergulhado numa rede de conspirações, o principal pedido era o reajuste de salário dos militares, ou o país, sentiria na pele a derrubada do governo. Havia ainda provocações das forças democráticas, enquanto a esquerda aumentava, esse fato foi evidenciado no episodio onde Prestes foi injuriado pelo jornal A Ofensiva, chamando-o de “Cavaleiro da Triste Figura”, em oposição ao “Cavaleiro da Esperança”, esse fato revoltou os militares aliancistas que logo em seguida organizaram um comício em defesa de Prestes, na sua maioria, os militares estavam fardados e faziam saudações a Prestes. O ministro da guerra por sua vez não gostou nada da atitude e como retaliação, expulsou quem havia participado da marcha e prendeu vários oficiais.

Sob um olhar analítico, percebeu-se que o país ainda “engatinhava” em questões de amadurecimento revolucionário, os movimentos e suas conseqüências, as lutas que ocorriam tinham como ideário as tradições republica, positivismo nas figuras dos jacobinos florianistas, bem como a Coluna Prestes e a ANL, com especial confiança de que o exercito aderisse ao golpe dos militares. Por cauda desses fatos, o governo decide extinguir a ANL. O jornal O Globo também teve sua participação nessa historia de “inverdades”, publicando na sua primeira manchete de capa um “plano subversivo” vindo de Moscou para a ocupação comunista soviética no Brasil, horas depois publicava que eles já estavam aqui, isso fazia parte de um plano para desencadear a revolução vermelha em pais das cercanias dos países que faziam fronteira com o sul brasileiro, onde as ações deveriam ser “rápidas e violentas”. Assassinatos seriam evidentes nesse tipo de tomada, suas principais diretrizes eram: fuzilamento de oficiais não comunistas em suas casas ou domicílios, assim, iniciou-se uma onda de prisões contra comunistas, lideres sindicais, militantes democratas, cujo principal lema era morte aos assassinos e seus planos.

Em 1935 Prestes era um tenente e pregava bravuras aos bravos companheiros na luta contra a resistência fascista do governo, por causa disso, o governo usou-o como pretexto para fechar a ANL, sua presença agora era clandestina e inexpressiva, afinal, todo movimento de massa era considerado ilegal e passível de prisões; com a aliança vazia, Prestes e o PCB aproveitaram para dominar o espaço deixado. As disputas estavam acirradas em todas as esferas da sociedade, o governo se sentia ameaçado, os integralistas transformavam as ruas em campo de batalha contra os anticomunistas, boatos de golpes chegavam a todo o momento a Vargas ameaçando-o de golpe, bem como as inúmeras greves que assolavam o país.

Os levantes.
A Intentona Comunista acontecera no Rio de Janeiro em 27 de novembro, era o levante do 3º Regimento de Infantaria (RI) e da Escola de Aviação Militar (EAM), posteriormente ocorreram levantes no 21º Batalhão de Caçadores (BC) em Natal e no 29º BC de Recife.





O movimento no Rio Grande do Norte.
O movimento foi provocado por causa das eleições de outubro quando o governo eleito dissolveu a Guarda Civil, criada pelo governo anterior, derrotado nas eleições vigentes, com isso, a situação ficou pior do que já estava; o PC de Natal não descartava a idéia de levantes. Dias depois, soldados do 21º BC assaltaram um bonde de passageiros, a reação foi imediata, foram presos e expulsos do exercito, os militares subalternos do quartel ficaram indignados e procuraram a direção do Partido Comunista (PC) para dizer que o 21º BC se rebelaria ao anoitecer, a direção inicialmente foi contraria, mas depois por insistência dos militares apoiou a decisão de tomada do quartel. No mesmo momento da tomada do quartel, o governo esta numa festa de formatura, quando foram informados dos fatos, o chefe da policia foi averiguar e percebeu que havia caído em uma armadilha, acabando sendo aquartelado no local onde se encontrava. Os oficiais não reagiram ao motim, pelo contrario, a maioria escondeu-se ou estavam com medo.

Viva Prestes
Os rebeldes por sua vez, agiam em total desorganização, visto que no dia 24 a elite da cidade soube dos levantes no 21º BC, em Recife acreditaram que a revolução nacional libertadora estava acontecendo em todo o país. Mesmo assim, o comitê requisitou armas, transportes, mantimentos e quantias em dinheiro para distribuir ao povo indiscriminadamente, sem critério algum. O povo foi o grande beneficiado com pão de graça e transporte gratuito, havia festa nas ruas, tudo isso foi proporcionado pela tomada do 21º BC e pela queda de um governo impopular, onde o povo dizia que não queria trabalhar e eles só gritavam: “Viva Prestes”. O destaque da capital potiguar foi de que o Estado se destacou pelo fato da rebelião também ter se estendido para as cidades do interior. De fato o que ocorria, era que se de um lado havia o apoio para o aquartelamento ou não com a ajuda dos anarquistas, de outro lado, o movimento transformava-se num orquestramento comandado por Moscou, fato esse justificador da não presença das autoridades que fugiam do Estado bem como a falta de resistência do oficialato da 21ª BC. Mesmo sem um quadro de organização, Natal ficaria quatro dias sob o comando dos rebeldes, mas isso não significava os comunistas haviam aderido ao golpe pelo fato de não haver um programa governamental, fato explicado pelos integrantes que nem ao menos sabiam pelo que estavam lutando.

O movimento em Recife.
Na capital pernambucana, estava a sede do secretariado comunista regional, seu corpo era constituído na sua maioria por membros militares ou ligados a segurança do governo; a facilidade de tomar o quartel foi igualmente a de Natal, ocorrendo táticas parecidas de distribuição de armas as pessoas que passavam na prerrogativa de que elas aderissem ao movimento, mas foi um fato que não ocorreu. Os integrantes do movimento organizaram-se em dois pelotões, um tomaria o centro da cidade e o outro tomaria o Largo da Paz, considerado um ponto estratégico da cidade, seguindo a tomada do local, seriam colocadas duas metralhadores nas torres da igreja como forma de defesa. Posteriormente eles foram encurralados pelas tropas legalistas e o plano de “minguou” pelo fato de não terem recebido ajuda de ninguém, com os rebeldes cercados sob a iminência de um ataque aéreo, os rebeldes retiraram-se do largo e do quartel e o movimento fadou o fracasso. Mesmo tendo mais conhecimento, os recifenses também estavam não entendiam o porquê do levante e dos acontecimentos.

O movimento no Rio de Janeiro.
Pela maneira de como os levantes estavam ocorrendo, seria insano dizer que eles estavam acontecendo por ordens vindas da capital soviética, em Natal o movimento ocorreria de forma abrupta através da política local e descontentamentos militares, em Recife foi por causa pelo secretariado do NE demonstrando despreparo total para o ocorrido. No Rio de Janeiro o PCB e a IC nem imaginavam o que estava ocorrendo no nordeste brasileiro, isso provaria que o movimento estava muito aquém do desejado, nem sequer o partido havia aprovado ou fora consultado sobre qualquer ato de insurreição; Vargas descontente com o rumo que as coisas haviam tomado enviou tropas federais para o nordeste em regime de prontidão, prendendo lideres da oposição com o apoio dos integralistas para combater os rebeldes. Prestes por sua vez apoiaria os militares insurretos no Rio de Janeiro, assim com seu prestigio convenceu os colegas para apoiá-lo, argumentando que não poderiam deixar de ajudar e repetir o que havia acontecido como os colegas nordestinos. Ele imaginava que a IC lhe apoiaria, mas essa fato não aconteceu, o resultado foi um embate onde o partido estava sem defesa nem armas alguma para lutarem, pretendiam iniciar uma revolução sem qualquer tipo de armamento.

No 3º RI.
 3º RI.
Nas cercanias da Praia Vermelha ficava a sede do 3º Regimento de Infantaria, sua localização era estratégica, comportando um total de 1.700 homens, e simpatizantes aliancistas militares em torno de 30, destes, 11 pertenciam ao partido comunista, bem como simpatizantes da ANL; a intenção era controlar o Arsenal da Marinha, o Batalhão Naval, a Policia Militar, Policia Especial, o Palácio do Catete e Guanabara para depois tomar o quartel general do Exército. Esta missão estava mais para utópica do que realista e foi o que aconteceu, os rebeldes foram barrados pelas balas das metralhadoras e mesmo quanto estavam de posse do quartel, todo o local já estava cercado pelas forças do governo. Nessa disputa, os militares a favor do governo levaram vantagem, pois, o quartel ficava entre dois morros e a única saída era pelo mar. Sem ajuda aérea da Escola de Aviação e da Vila Militar, os rebeldes foram facilmente derrotados, horas depois, o 3° RI bombardeou definitivamente o quartel, eliminando qualquer traço de resistência. Embora a EAM tivesse lutado e fosse aliada dos rebeldes, eles contavam como certa a vitoria, mas enganaram-se e foram rendidos pelas tropas governistas de Vargas. Tudo conspirava contra os rebeldes, até mesmo a participação da Marinha e os constantes desentendimentos entre eles, levaram ao fracasso da missão, e mais uma vez a população não fazia a menor idéia do que estava acontecendo.

A repressão aos movimentos.
Filinto S. Muller 
A CRC (Comissão de Repressão ao Comunismo) compostas pelo alto escalão das forças armadas defendia a idéia de suspensão dos direitos constitucionais civis, para o aparato governamental suprimisse qualquer movimento de rebeldia; tiveram apoio do serviço de inteligência inglês e da gestapo alemã, tendo como “cabeça”, o chefe da policia Filinto S. Muller com poderes total para usar a força bruta e repreender quem quisesse. Os comunistas seriam seu alvo inicial, mas depois a repressão se estendeu também aos aliancistas, democratas e a tudo o que representasse oposição ao governo; em relação ao movimento, nem os militares simpatizantes cariocas tinham clareza dos motivos da revolta.

Depois da derrota.
 O pensamento utópico dos revolucionários apesar de todas as investidas do governo em desmantelá-los continuava imperativo, crente que sua vitoria estaria por chegar, Prestes por sua vez, estava ciente da truculência de Filinto e do possível golpe tramado pelos generais das Forças Armadas contra Getulio e seus “facínoras”. O Serviço Secreto Inglês e a Gestapo se mostraram eficientes no quesito tortura contra a direção do partido presa em 1935, dentre os presos, estava Olga Benário, Artur E. Ewert e Berger que foi miseravelmente torturado dando informações a seu respeito, em 1936 foi a vez de Miranda ser preso. No mesmo tempo, Rodolfo Ghioldi também foi preso e delatou o paradeiro de Prestes escondido no Méier e de Olga Benário, posteriormente foi preso Victor Barron que levou a policia até Prestes, e entregou ainda Rodolfo Ghioldi, este sob os “aparatos” da verdade, falou quem era e que pertencia a IC, foi torturado e assassinado logo em seguida Prestes foi preso.

Em 5 de março Prestes e Olga foram levados ao DOPS, separaram-nos sendo a ultima vez que se viram, posteriormente em 1936 o governo brasileiro entrega Olga para a Alemanha nazista onde morreu nos campos de concentração, ela estava esperando um filho de Prestes. Os movimentos de 1935 são considerados os últimos manifestos tenentistas, isso se fez presente nos objetivos e na forma como os fatos ocorreram, tendo como desfecho final sua derrota pelos militares; Prestes agora socialista faria a ponte entre os tenentes revoltas com o PCB. Essa tradição de luta remonta os idos de 1922 onde a população desejava novos rumos para a nação sob a bandeira de novos ideários que não remontassem mais as idéias ultrapassadas da Velha República.



21º BC - RN
Os levantes ocorridos apresentavam suas peculiaridades, por exemplo, o de Natal ocorreu com os militares subalternos de 21º BC, em Recife, a mobilização ocorreu pela direção do PCB, no Rio de Janeiro a missão era flanquear o quartel general do exercito, a unanimidade nesses levantes foi à presença dos tenentes. As rebeliões foram tachadas de Intentona ou Intentona Comunista, isto por que o comunismo era a personificação do mal, infelizmente, a insurreição não ocorreu da maneira planejada, sem o objetivismo social que se pretendia; os tenentes lutavam contra a luta de exploração do Brasil e contra o capitalismo imperialista internacional através da reforma agrária e por uma democracia marcada por pão, terra e liberdade. Os insurgimentos ocorridos no Rio de Janeiro se destacaram por serem mais movimentos do que a luta propriamente dita, esse foi um erro que custaria caro sob o aspecto político, afinal as lutas travadas em 1935 eram contra as injustiças sociais e do inconformismo de uma sociedade estática que nada fazia para resolver os problemas sociais. Essa realidade era o reflexo de uma sociedade inapta e incapaz de resolver suas mazelas por causa da falta de Cultura na política e nos meios sociais.

O ideário tenentista era baseado na regeneração dos ideais republicanos, cidadania e uma nova republica até mesmo os tenentes elitistas da ANL e os simpatizantes do PCB, era geral o pensamento de cidadania restrito as camadas dominantes, isso impedia o próprio ideal socialista, não podendo assim, existir a uma nação onde negava liberdade a sua população, no caso do Brasil, era uma questão de conquistar a cidadania e não resgatá-la.






Referência.
VIANNA, Marly. “O PCB, a ANL e as insurreições de novembro de 1935”, IN: DELGADO, Lucilia E FERREIRA, Jorge. O Brasil Republicano, vol. 2: O tempo do nacional estatismo. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2006.

Senhor leitor, todas as imagens foram retiradas do site de pesquisa Google, não se sinta ofendido se por ventura, uma das imagens postadas for sua, a intenção do blog é ilustrar didaticamente os textos e não plagiar as imagens. Obrigado pela compreensão. TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RECONHECIDOS.

Mr. reader, all images were taken from the Google search site, do not feel offended if perchance, one of the images posted are your, the blog´s intentions is to illustrate didactically the text and not plagiarize images. Thank you for understanding. ALL RECOGNIZED COPYRIGHT.