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Com os novos rumos da política brasileira, os coronéis foram paulatinamente perdendo partes do poder que tinham inicialmente, nessas mudanças políticas seu poder judiciário, o alistamento eleitoral e apuração perderam as funções administrativas por causa das novas administrações e instituições reformadas, mesmo padecendo por processos parecidos pelos mesmos vícios, eles indiretamente estavam subordinados ao mandonismo local e pouco a pouco se libertariam principalmente em regiões ricas e urbanizadas.
'' Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem
bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as
dos jantares em que sou brindado''. Machado de Assis
O coronelismo numa
interpretação sociológica
Esta prática de política ocorreu no período da Primeira República, tendo como origem o ranço do império português, esse sistema de mandonismo funcionou como uma grande intensidade após a proclamação da republica e persistiu por décadas através do controle do voto; a constituição de 1981 instituiu o voto a todo brasileiro que fosse alfabetizado com o objetivo de fazer desaparecer as antigas barreiras econômicas e políticas, pelo menos na pratica, eles poderiam exprimir suas escolhas através do voto.
Esta prática de política ocorreu no período da Primeira República, tendo como origem o ranço do império português, esse sistema de mandonismo funcionou como uma grande intensidade após a proclamação da republica e persistiu por décadas através do controle do voto; a constituição de 1981 instituiu o voto a todo brasileiro que fosse alfabetizado com o objetivo de fazer desaparecer as antigas barreiras econômicas e políticas, pelo menos na pratica, eles poderiam exprimir suas escolhas através do voto.
Essa antiga base eleitoral ocorria através dos chefes
políticos locais e regionais e estas continuaram as mesmas até depois das
mudanças políticas do país, elegendo através das câmaras os representantes do
Estado, Senado através dos parentes e aliados. Essa prática persistia através
das figuras dos coronéis com origem na extinta Guarda Nacional criada para
defender a constituição e auxiliar a manutenção contra os revoltosos, por isso
a necessidade de um policiamento regional.
Essa guarda nacional no interior funcionava como um poder
paralelo de controle a estrutura sócio econômica da região em que se
encontrava, mesmo extinta oficialmente com a republica, essa pratica continuou
aos antigos e os novos donos do poder. A figura do coronel servia como
referencia a distribuição social do individuo no espaço social, era tido como o
elemento chave nas linhas das políticas divisórias entre grupos e subgrupos da
estrutura tradicional brasileira.
A estrutura do
coronelismo como uma estrutura de clientela política
O coronel era definido pelo seu poder político através dos eleitores pelo qual ele controlava para ele, isso era tido como uma forma de proteger os eleitores e seus votos do local onde habitavam; a hierarquia subdividia-se em três níveis, os coronéis, abaixo deles os cabos eleitorais e na base política os eleitores. Segundo Jean Blondel, o coronel fortificava-se nesta estrutura através do domínio do sistema organizado dos cabos eleitorais que transmitiam aos eleitores as ordens de como eles deveriam agir no dia da eleição.
O coronel era definido pelo seu poder político através dos eleitores pelo qual ele controlava para ele, isso era tido como uma forma de proteger os eleitores e seus votos do local onde habitavam; a hierarquia subdividia-se em três níveis, os coronéis, abaixo deles os cabos eleitorais e na base política os eleitores. Segundo Jean Blondel, o coronel fortificava-se nesta estrutura através do domínio do sistema organizado dos cabos eleitorais que transmitiam aos eleitores as ordens de como eles deveriam agir no dia da eleição.
Em seguida o chefe político dominava os indivíduos através
do turno de forma indireta através do cargo mais elevado que o dele, pois ele
não sabe se ele recolhera todos os votos. Existe ainda a dominação colegial
onde cada membro da família domina a sua zona eleitora, fato este que se
distingue por não haver um chefe propriamente dito, então o controle é mais
aristocrático do que monárquico.
Quando esse controle do coronel é absoluto sobre os
eleitores, ele tem domínio total da situação e do resultado da eleição, para
entender como essa sistemática funcionava, é necessário entender qual era o
grau de comando nas famílias e como funcionava o esquema de defesa dos
eleitores, mas segundo o autor, havia casos em que o “pau mandado” nem sempre
era submetido a esse poderio todo.
O coronelismo fazia parte de uma política formada pelo
“cartel” dos “mandonistas locais brasileiros” onde eles atingiam a sua plena
expansão e plenitude, essa política era exercida rigidamente e diretamente
sobre seus subordinados, visto que eles por sua vez procuravam satisfazer os
desejos dos eleitores em troca do voto. Era normal em período de eleições os
chefes políticos saírem em carreatas com os cabos eleitorais presentearem os
eleitores com brindes como botinas para os homes e retalhos de tecido para as
mulheres bem como brinquedos para as crianças; entregavam ainda um envelope com
a cédula de voto e dinheiro.
Aos alfabetizados a conquista de escolha implantaria um
sistema que confirmasse a opinião do eleitor, votando aos candidatos que lhes
parecessem mais aptos, ampliando o voto como bem de troca, pois se ele não
havia recebido o beneficio, era garantido que futuramente recebesse; isso era
possível por que a lei de barganha restringia o voto aos analfabetos
indiscriminadamente.
Nas fazendas havia os grupos de capangas que obedeciam aos
coronéis de alto posto, enquanto que os de menor poder obedeciam com o resto
dos analfabetos através de sua lei, estes eram formados por sitiantes das zonas
rurais, pequenos funcionários, vendeiros nos pequenos núcleos dos vilarejos que
constituíam essa camada analfabeta. Os pequenos coronéis muitas vezes se
sentiam “melindrados’ pelos grandes coronéis, por isso era freqüente o abandono
desse coronel maior e se juntar a uma clientela menor por ter seu brio
ofendido.
Essa pratica permitia aos grandes e médios coronéis um
comportamento diplomático e paternalista com seus subordinados. Com os
eleitores menores o voto era um bem de troca, com o cidadão alfabetizado o voto
era expresso pela afirmação pessoal de opinião. Se o coronel fosse da situação,
tinha liberdade para fazer o que quisesse e nada lhes aconteceria se fosse da
oposição, eram perseguidos, maltratados, aprisionados e não raramente mortos,
essa violência era sempre velada. O fato era de que os coronéis se “devoravam” entre si e às
vezes seus apaziguados, eles se embrenhavam em batalhas sangrentas, a primeira
republica se caracteriza muito mais pela opressão desses coronéis do que pela
historia em si.
A origem da estrutura
coronelística: os grupos de parentela
A figura do coronel era mantida ainda pelo apoio dos parentes, formados por indivíduos com grau de parentesco entre si e por laços carnais, espirituais (compadres) e de alianças (casamento). A maioria descendia do mesmo tronco, bem como os vínculos de apadrinhamento através dos afilhados. Essa parentela era formada por núcleos familiares consangüíneos e por grandes famílias que ultrapassavam o grupo pai, mãe, filho, vivendo cada um sua realidade nuclear independente das distancias uma das outras, as distancias não influenciariam os laços e obrigações recíprocas desses integrantes.
A figura do coronel era mantida ainda pelo apoio dos parentes, formados por indivíduos com grau de parentesco entre si e por laços carnais, espirituais (compadres) e de alianças (casamento). A maioria descendia do mesmo tronco, bem como os vínculos de apadrinhamento através dos afilhados. Essa parentela era formada por núcleos familiares consangüíneos e por grandes famílias que ultrapassavam o grupo pai, mãe, filho, vivendo cada um sua realidade nuclear independente das distancias uma das outras, as distancias não influenciariam os laços e obrigações recíprocas desses integrantes.
O lócus desses coronéis eram as vilas onde eles moravam,
nesses locais funcionavam a sede de seu poder político, cercaneando a câmara,
tida como objetivo único das famílias através das disputas das famílias. O
poder desse coronel se estendia não apenas ao individuo com grande soma de
poder econômico, mas também nas camadas superiores de suas parentelas, essas detinham
vantagens econômicas sobre os outros.
Cada grupo apresentava características especificas
interligada pelos poderes políticos e econômicos dos parentes, assim a
estrutura econômica e política se diferenciariam das atividades nos outros
setores, dessa maneira, eles garantiriam a sociedade o funcionamento de acordo
com suas características. Essa pratica porem não garantiria a tranqüilidade
entre esses familiares, quando algo sairia “fora do controle”, acabavam
resolvendo suas diferenças na base da violência.
As relações eram baseadas em alianças e laços afetivos pelo
interesse econômico e político, essas praticas denotavam as ambições de mando
ou posse. Entende-se ainda que a ascensão a esse posto não é marcada por
herança, onde o filho do coronel pode substituí-lo dentro desse grupo de
parentes, mas pode variar de acordo com as qualidades dos futuros pretendentes,
desde que eles tenham as mesmas qualidades socioeconômico.
Essa ordem hierárquica não obedece a uma ordem estática e
imóvel, ela pode variar inclusive através de camadas socioeconômicas com
ascensão e descidas, podendo ser constituída por fragmentos de poder, formando
assim dois futuros blocos de inimigos formados por parentes. No interior desses
grupos existem ainda as “pirâmides familiares” baseada através da solidariedade
baseados na independência desses grupos com atividades econômicas determinadas
pela posição social.
Através desses grupos eram determinados as uniões ou
afastamentos por que a maioria dos coronéis tendiam a ser chefes, para isso, eles
defenderiam suas idéias com as convicções de ambições pessoais, econômicas e
políticas e ainda pela lealdade e amizade pela família. As famílias desses
coronéis viviam os extremos dessa política mandatória, sendo necessário o
mínimo de interesse econômico para desencadear conflitos entre pais e filhos.
Essa violência era tida como normal nesse período, na
maioria das vezes tudo era resolvido com ajustes violentos por causa das
modalidades tradicionais, herança da alta e baixa sociedade brasileira; essa pratica
denotava como esses indivíduos agiam e pensavam, a realidade brasileira foi
moldada sobre esse tipo de poder abusivo.
As discórdias entre os parentes e grupos rivais eram usadas
como luta para desencadear o desmantelamento dessas próprias camadas, era raro
uma camada formar-se com outra, pois essas disputas serviam justamente para
desviar esses grupos das camadas inferiores e superiores.Através desses conflitos surgiam novos coronéis e como a
terra no período era vasta, os derrotados se embrenhavam no sertão seguidos de
seus familiares até achar terras e aí poderiam se estabelecer sem serem
incomodados até que formassem novos grupos, essa era a sistemática da sociedade
brasileira colonial.
Solidariedade e conflito faziam parte do dia a dia desses coronéis,
mostrando a mesma face numa moeda, são sentimentos que ditam a ordem desses
senhores paradoxalmente vivem sob a égide da violência que tem por finalidade
destruir o oponente; eram ideais mantidos pela estrutura brasileira dessas
parentelas com base no sistema coronelístico. Com o tempo essa relações eram
fortalecidas acomodando-se sucessivamente na colônia do império e depois
republica, ficando o pensamento da época: “para os amigos tudo, para os
inimigos o rigor da lei”.
O fundamento da
estrutura coronelística: a posse dos bens de fortuna
A principal característica dos coronéis no período da Primeira República era de fazer favores, quanto mais eles praticavam isso, mais prestigio e poder eles tinham na hierarquia política, podendo galgar por cargos nas esferas municipais, estaduais ou federais.
A principal característica dos coronéis no período da Primeira República era de fazer favores, quanto mais eles praticavam isso, mais prestigio e poder eles tinham na hierarquia política, podendo galgar por cargos nas esferas municipais, estaduais ou federais.
Outro dispositivo utilizado pelo coronelato foi o casamento,
eles ocorriam de duas maneiras: poderiam acontecer dentro desses grupos
familiares entre tios e sobrinhas, primos e primas, essa pratica se estendeu
até meados de 1919, essa pratica havia se tornado tão comum que as pessoas
ficavam abismadas e escandalizadas, comparando esse tipo de comportamento ao
reino animal, pois os pais usavam as
próprias filhas para seu objetivo.
A segunda maneira era o casamento fora da parentela, assim
os novos membros passavam a ser “parentes”, agora ligados tanto pela economia
como pela política, podendo atingir o status de domínio a soma dessas famílias.
O casamento era uma importante arma para a ascensão social a quem não pertencia
a esse grupo original, podendo ser um forasteiro com destaque.
A distancia geográfica não implicaria em ser problema,
buscar a mulher ou o marido em longas distancias representava manter laços e
possivelmente políticas comerciais em outros lugares. As viagens eram
constantes de uma propriedade rural a outra, ora para fazer negócios, ora para
visitar parentes, assim permitia ao jovem relacionarem-se e propiciar novos
casamentos com parentela alheias criando novos grupos sócio econômicos de outras
regiões.
Mais importante ainda que o próprio casamento fosse à posse
de fortuna, tinha-se a impressão que ocorria mais os negócios do que os
casamentos em si, do que qualquer outra atividade econômica, isso pesou
fortemente nesse tipo de negocio em todos os períodos da historia brasileira.
Os forasteiros que chegassem a esses locais e aí
permanecessem para comercializar mercadorias iniciavam sem saber novos caminhos
para a política local, tendo em mãos uma clientela natural de compradores onde
poderia negociar com eles através do “fiado” desde as pessoas humildes até os
figurões da localidade, assim essas camadas seriam ligadas ao comerciante que
agora ocuparia uma posição política chave servindo facilmente de cabo
eleitoral, ao passo que aumentava sua fortuna e se incluiria na elite dos
coronéis locais. Fortuna, parentela e profissões liberais eram oriundas desde o
período colonial até os dias atuais.
Com os novos rumos da política brasileira, os coronéis foram paulatinamente perdendo partes do poder que tinham inicialmente, nessas mudanças políticas seu poder judiciário, o alistamento eleitoral e apuração perderam as funções administrativas por causa das novas administrações e instituições reformadas, mesmo padecendo por processos parecidos pelos mesmos vícios, eles indiretamente estavam subordinados ao mandonismo local e pouco a pouco se libertariam principalmente em regiões ricas e urbanizadas.
Cada instituição agora era legislada por leis próprias,
afastando cada vez mais os antigos vícios do mandonismo graças ao advento da
independência, toda a dinâmica agora girava em torno do crescimento urbano e da
quantidade de funções e ocupações que essas atividades proporcionariam; a
independência estabeleceu ainda garantias de mobilidade, vitalidade e irredutibilidade
que os juízes federais passariam a gozar e em 1926 estendeu-se aos juízes
federais.
Esses novos cargos não poderiam mais ser ameaçados pelos ou
perseguidos pelos coronéis locais, na tentativa de suprimi-los, expulsá-los ou
expulsá-los aos confins do Estado para serem subjugados pela influencia
demasiada opressora desses figurões mandões.O crescimento demográfico e urbano com o tempo serviu para
minar o poder mandatório, arruinando o poder local desses coronéis, criando
agora um movimento de oposição da sociedade, em suma, seus dias estavam fadados
em um futuro próximo ao desaparecimento ou no mínimo estava selado. Além dos
serviços urbanos como os criados pelas estradas de ferro, bancos e indústrias,
capital estrangeiro e até mesmo a competição com grupos de parentelas rivais,
eles estavam se dirigindo para seu declínio.
No século XX isso piorou por causa das organizações
patronais, patronato agrícola, federação de indústrias e associações de
classes, nesse ínterim, até mesmo os coronéis rivais apareceriam para colaborar
com a nova sociedade que estava se estabelecendo, esse fato foi inédito, pois
havia colocado lado a lado antigos rivais que agora lutavam pelos mesmos ideais
contra seus antigos desafetos.
Em suma, os fatos que contribuíram para a decadência do
coronelismo foram forjados muito tempo ante, não sendo um episodio inédito, e
sim a somatória de vários fatores com menor ou maior intensidade em todo o país
como o crescimento demográfico, a urbanização, industrialização, o processo da
independência e as particularidades de cada região.
A força política dos coronéis atingiu seu ápice, estagnou e
decaiu, esses eventos locais e temporais caminhavam para a nova realidade da
republica paralelo ao novo poder econômico em que a nação propiciava. O desaparecimento desse personagem foi lento, progressivo e
irregular, sendo que na metade do século XX quase não existiam mais coronéis
para os mandos e desmandos a seu bell prazer, ou seja, já foram tarde.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de.
"O Coronelismo numa Interpretação Sociológica", in B. Fausto
(org.), História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III, vol. 1. São
Paulo, Difel, 1975. Pp. 155-190.
Olá, gostaria de saber se este é o artigo da Maria Isaura Pereira de Queiroz, original, ou uma produção de texto a partir dele?
ResponderExcluirOlá, leitor, esse texto foi uma produção a partir de um dos textos dela, o restante das colocações foram apresentadas através da coletanea de varios interpretes.
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