" “O Brasil vai viver 50 anos em 5.” JUSCELINO KUBITSCH
O período em que
Juscelino Kubitschek governou a nação brasileira como presidente foi com
certeza único na história desse pais pela maneira como os fatos aconteceram,
afinal, a maioria deles foram novidades introduzidas a modernidade e a inserção
do país num novo contexto nacional e regional a nível de Américas. O presidente
fez reformas internas tão importantes que o pais nunca mais seria o mesmo e não
haveria mais como voltar atrás, pois suas mudanças lançariam o Brasil como
futura potencia na área industrial, técnica e comercial, bem como o novo modelo
de gestão graças a nova capital federal Brasília apoiada no promissor Plano de
Meta que prometia apagar a imagem do país como
sendo agro exportador atrasado e
oligárquico para uma nação prospera e moderna através da sua industria de base.
Enfim, Juscelino foi o ícone de uma época onde o futuro era o momento e ele
soube muito bem usar isso a seu favor através da política.
Juscelino
Kubitschek é considerado entre os presidentes do Brasil eleitos
democraticamente o mais apto a sua dinâmica governamental dentre os anos de 1946 a 1964, destacando-se
pela sua atuação publica e principiando-se na Constituição, nada além dela, além
do ser responsável pelo avanço tecnológico e econômico, onde faria em cinco
anos o que não fizeram em cinqüenta. Nesse bojo de idéias e diretrizes, Juscelino
Kubitschek integrou o país, graças aos antigos ideais lusos, bem como o
desbravamento das florestas e aberturas de estradas para que o projeto desse
certo, desde a Amazônia até as chapadas do Oeste, das cidades litorâneas até a
nova capital brasileira no Planalto Central: Brasília. Foi um período de
movimentos, idéias e ações desenvolmentistas, tudo graças ao ímpeto de JK,
pois, as transformações tomaram corpo e agora eram vistas e se faziam presentes
em todos os cantos do território, focando sempre nos seus habitantes.
O
período de seu governo (1956 – 1961) foi considerado como o que mais prosperou nas
áreas sociais da democracia. A administração de Dutra, por exemplo: “Gozou de
estabilidade política, mas, comparada à de JK, foi bem menos expressiva no
campo do desenvolvimento econômico. As demais padecera sob o influxo de crises
políticas e institucionais e nenhum dos presidentes em questão completou seu
respectivo mandato”. Essa comparação se deu pelo fato dos outros presidentes
até então não terem conseguido tal façanha, ou foram interrompidos pelos mais
diversos acasos: Getulio Vargas se suicidou, Janio Quadros renunciou, João
Goulart foi deposto pelo golpe militar, Juscelino Kubitschek foi uma
casualidade singular, dentre seus feitos, intensificou o processo capitalista e
industrial a ponto de seu governo ser reconhecido como o período “dourado” por
defender um modelo político defensor da ordem democrática e capitalista. Seus
projetos baseavam-se nas relações social, nacional e de desenvolvimento além de
simpatizar como a oposição em relação à atuação política mesmo sendo
considerados ruralistas conservadores e autoritários, o nacionalismo econômico
crescia sob essa égide claramente popular, assim JK procurou resgatar a
dinâmica política do Brasil.
O nacional desenvolvimentismo.
A
trajetória de JK remonta ao tempo de prefeito da capital mineira e
posteriormente ao governo do estado, finalizou com a presidência da Republica,
tida como a mais bem administrada e com o desenvolvimento nunca visto até então
no Brasil; sua forma de governar através dos projetos políticos e sociais foram
bastante relevantes para a intensificação da economia e do desenvolvimento
industrial baseados no capitalismo. Durante o período em que ainda não era
presidente, estudou as estatísticas de produção elétrica e de transportes,
sendo esses dois setores a sua meta a curto prazo bem como a sua ampliação
visando acelerar o desenvolvimento nacional, por isso o compromisso de fazer em
cinco anos o que muitos presidentes não fizeram desde a criação da república. Esses
ideários eram representados, por exemplo, para José Joffily como: “o processo
industrial, urbanístico e democrático que demandavam do país adaptações
partidárias frente as demandas sociais”. Seu governo assumiu publicamente a
linguagem do desenvolvimento econômico através do pacote denominado Planos de
Meta baseado na democracia, sendo que ele era dividido em setores que
representavam a nação brasileira nos seguintes campos: energia, transporte,
alimentação, indústria de base e educação; Brasília foi um detalhe a parte do
Plano de Metas que remetia a campanha presidencial onde logo se tornaria a sua maior
prioridade.
Esses
elementos representavam a grande meta de integração nacional através da sua
forma de administrar, pois o resultado final desejado era um Brasil industrial aonde
os investimentos viriam da iniciativa privada nacional e externa visando
ampliar o parque industrial da época, trabalharia ainda os setores considerados
cruciais para retomar a economia a partir de seus pontos de estrangulamento. O
que ocorria era que os problemas estruturais representados impediam o crescimento
industrial por causa dos investimentos nacionais. Quando Juscelino Kubitschek
colocou em pratica o seu Plano de Metas, na época ele foi considerado visionário
a frente de seu tempo, um ambicioso que ofereceria ao país seu tão sonhado
projeto glorioso. O foco foram os transportes e a energia,
considerados como infra estruturas indispensáveis a população juntamente com a
indústria, possibilitando a ele resultados notáveis, nesse mesmo tempo o
asfaltamento das estradas seguia adiante nas rodovias e construções. No
campo energético a intenção era aumentar praticamente o dobro de watts
produzidos pelas usinas, bem como a modernização do parque industrial
automobilístico e de caminhões de transportes; toda essa dinâmica
empreendedora gerou milhares de postos de trabalhos urbanos, proporcionando
novas chances à classe média através de produtos até então não acessíveis a
ela, pois a maioria eram produtos de importação.
O que JK fez na verdade, além
de proporcionar ao país um desenvolvimento nunca visto antes, foi uma maneira
de se lançar e tirar vantagens no meio político através do seu Plano de Metas. Era
freqüentemente visto nos canteiros de obras, ia pessoalmente as inaugurações de
hidrelétricas e novas estradas de rodagem, se misturava ao povo, dirigindo os
modelos agora produzidos aqui, mas a “grande jogada de mestre” foi à
inauguração da nova capital federal em Brasília, no Planalto Central em 21 de
abril de 1960, o fato inédito disso foi à passagem da faixa presidencial de seu
mandato a Janio Quadros na capital com conceitos modernos de arquitetura, essa
empreitada foi considerada quase impossível para um presidente realizar no
período estipulado de construção. Os planos de JK não passaram despercebidos,
fato esse registrado pelo IBOPE de 1961 que: “ confirmou a aceitação
da população onde 80% concordavam na sua meta de acelerar o desenvolvimento do
país”.
Brasília, 21 de abril de 1960 |
Muitos
o consideravam como o precursor da revolução industrial no Brasil, fato
evidenciado pela não exclusividade do capital aqui investido ser privado e na
sua maioria ser estrangeiro, não sendo novidade para o período, pois, muitos já
o haviam feito antes disso, isso ocorria desde o Estado Novo com Getulio Vargas.
Essa façanha também foi possível graças ao apoio do Estado que demonstrava
interesse em industrializar-se internamente, freando a quantidade de produtos
importados, a ponto de seu modelo de gestão para o período ser chamando de
industrial substitutivo dos importados. Assim,
JK era visto como um presidente ativo pela sua administração direta e
especifica, defendendo a todo custo o desenvolvimento nacional juntamente com
seus interesses através das forças nacionais de integração; para conseguir esse
êxito, foi necessário que fizesse alianças políticas junto a movimentos
nacionais que garantiriam a sua plataforma política nacionalista. O idealizador
desses projetos contou ainda com o apoio do ISEB, sendo este ligado
ao Ministério da Educação, considerado um dos principais centros de produção e
difusão dos ideários nacionalistas no período democrático da época.
Esta
instituição possuía como membros vários intelectuais de prestígios que se
destacavam pela publicação de livros com publicações polêmicas, afinal, funcionava
como um espaço de socialização de políticos, intelectuais e estudantes. A
proposta do ISEB era nitidamente capitalista, porém, eles enfrentavam certos
empecilhos para colocarem suas propostas em execução, tais dificuldades eram
representadas pelas classes sociais arcaicas frente ao processo de
industrialização e modernização do país. Esta classe considerada arcaica
remontava ao contexto agroexportador presente no Brasil desde o período pré
colonial e que durou até os anos trinta do século XX, era uma classe composta
por grandes latifundiários ligados aos setores do comercio exportador e das
classes médias tradicionais. Frente
a esse “entrave”, o ISEB tentava industrializar o país com uma revolução
democrática burguesa, através de alianças com a burguesia, o proletariado,
camponeses e a nova classe média emergente que respondia a uma nova burguesia
nacional para enfrentar essa outra classe “ultrapassada” (Moreira, 1998b, p.
335). Juscelino teve que usar de sua sagacidade para costurar uma possível
aliança em pleno período democrático, sendo este caracterizado pelo voto
popular que elegiam seus representantes legalmente, o fato pesava sobre esse sistema
democrático brasileiro ser considerado frágil, e em alguns casos, dependiam dos
auxilio dos militares. Foi através dessas dificuldades que o ISEB tentava
proclamar as políticas das ideologias desenvolvimentistas nacionais, por isso a
necessidade de alianças com esses representantes da sociedade considerados
ultrapassados e antigos.
Helio Jaguaribe |
De
fato essa classe política era considerada um desafio de relevância significativa,
pois a ascensão das camadas populares passaria por eles, esse era o desafio que
os intelectuais do instituto deveriam trabalhar em nome de um projeto muito
maior que responderia ao desenvolvimento da nação. Assim, era imprescindível
que JK trabalhasse continuamente e arduamente a idéia de industrializar através
do capitalismo para conquistar o apoio emocional das mentes contemporâneas; o
resultado final seria o desenvolvimento comum a todos, onde o Brasil ganharia o
mundo das nações dominantes, modernas e detentoras do bem estar social.
Os progressistas e o movimento nacionalista.
O
poderio político de JK baseava-se na sustentação entre as alianças do PSD de Juscelino e o PTB de seu vice João Goulart, o PDS tinha um
perfil conservador, nitidamente ruralista, já o PTB era voltado à defesa dos
trabalhadores ao meio urbano; essa aliança deu um novo impulso à administração
de Juscelino, visto agora como um governo de “centro”, afinal, sua agenda
política apresentava várias convergências e diversidades. Para fazer frente a
essa aliança, a UDN, combatia todo tipo de idéia getulista que fosse o carro
chefe da aliança de JK.
A
bandeira trabalhista se fazia presente nas camadas populares urbanas e no
campo, na cidade a presença se intensificada a cada dia, no campo isso era um
incomodo as classes tradicionais. Juscelino contava com o apoio de grupos
progressistas, ligados ao PTB, que se organizavam num grupo compacto, cujo
desejo era reunir os nacionalistas convertidos. É interessante destacar que
dentro do partido de Juscelino seus integrantes de base maioria rural, era o
partido de até então oposição a UDN, destacando-se os progressistas
compositores da “Ala das Moças” e os da “Bossa Nova”, tendiam a
ser mais radicais do que dissidentes do partido, sua reforma baseava-se na
defesa das modificações sociais e políticas com o intuito de aproximar mais os
parlamentares dos trabalhistas.
Desejava-se
agregar o pedido das classes baixa, bem como voto de analfabetos, reforma
agrária e ampliação social e trabalhista aos trabalhadores rurais, industriais,
além da expansão de serviços públicos e as reformas administrativas. Para os
progressistas, o Brasil sobreviveria segundo suas classes políticas graças a
democratização de 1946 e das demandas populares, assim, agiam politicamente em
blocos ao constituírem o FNP. Muito se falou do projeto industrial
de Juscelino Kubitschek, mesmo considerado deveras impreciso e
desenvolvimentista para qualificar socialmente a modernização da sociedade
através de profundas reformas nas áreas políticas, eleitorais, administrativas
agrárias, educacionais e pelas relações internacionais.
As
crises só revelaram o quanto o país ainda precisava crescer como nação, afinal,
os setores intelectuais, políticos se mostravam bastante frágeis, pois passaram
muito tempo dependendo do mercado externo, a situação seria agora
remediada através da industrialização nacional, como proposta de fortalecimento
interno. Os progressistas idealizavam o desenvolvimento industrial e os setores
agro-exportadores, e acusavam as oligarquias latifundiárias de serem
responsáveis pelo “insucesso” industrial. Esses
senhores rurais não demonstravam interesse por esse tipo de atividade, afinal,
ao mesmo tempo em que negavam o progresso industrial, não deixavam o mercado
interno crescer e se industrializar. Em suma, os progressistas se apoiavam
entre si no sentido de latifundiários, compactuando pela não divisão de terras,
por isso a indústria encontrava forte resistência para se estabelecer, embora
estivesse despontando para o mercado, ainda assim se sentia sufocada pela
ausência do mercado interno consumidor.
O
nacionalismo por sua vez, funcionava como uma ideologia presente nos principais
fatos historiográficos brasileiros, desde a Primeira Republica até os
movimentos políticos onde envolviam os integralistas quanto os comunistas, bem
como nos anos de 1930 com a revolução fortemente marcada por um nacionalismo
exacerbado com Getulio Vargas e seguido de JK e Jango que se respaldou agora
sob a égide da segurança nacional do regime militar. O
ideário nacionalista se fazia presente em praticamente todos os ambientes
progressistas, porém, isto era colocado de maneira errônea, mais confundia do
que ajudava, pois, encobria as diferenças deste nosso país continental
justamente por causa da mentalidade “nacionalista”. Essa mentalidade nos anos
50 do século passado era comparada a Independência e a Abolição da escravatura;
o papel de JK além de ideológico era de imprescindível importância política e
social para a continuidade de seu projeto.
As
mudanças ocorreram anos antes, nos idos de 1943 com a campanha de petróleo: “O
petróleo é nosso”, mobilizando a sociedade na defesa de nossos tesouros
naturais e suas explorações, agora feitas por nós e não mais por estrangeiros. A
criação da Petrobras em 1953 foi o inicio da tão falada defesa nacional, por
isso o nacionalismo nos anos sucessores passou a ser denotado como forma
imprescindível de proteger o que é nosso por direito, nem que para isso fosse
necessário o uso da força e a mudança de mentalidades, afinal elas
constituiriam: “as forças sociais e econômicas da nação”. O
pensamento de JK era o da industrialização, dos capitais estrangeiros, reforma
agrária, alianças políticas e sociais, tudo isso ocorreu em nome desse ideário
progressista e modernista; o fato era que a demanda interna ditava como essa
industrialização deveria ocorrer, sobre tudo com projetos concretos de um “bem
comum maior a todos”, mas não escapavam de criticas que por sua vez geravam
problemas pela falta de projetos sociais únicos, por isso entre os anos de 1946
– 1964 serem considerados movimentos claramente liberais, pois a idéia era de
um movimento claramente nacional com experiências democráticas.
O nacionalismo econômico.
O
nacionalismo industrial e progressista “juscelinista” foi amplamente utilizado
pelos progressistas sem criticas importantes o suficiente para que implicasse
em problemas maiores, ocorreram algumas intempéries dos radicais e reformistas,
mas seu crescimento continuou significativo até os anos de 1960 quando o
processo industrial foi abruptamente rompido pela presença do capital
estrangeiro no processo já em andamento da industrialização. Para se contra por a esse fato, criou-se o
Plano de Metas, considerado frágil e complicado no sentido de resolver as
pendências que estavam ocorrendo, a nação brasileira amargava a insegurança de
não honrar mais com seus compromissos governamentais, a política externa estava
complicando-se cada vez mais por causa da falta de empréstimo de capitais
estrangeiros causados pela sua fuga que agora considerarem o país como risco a
suas investiduras. Por
causa desses fatos, JK autorizou em seu Plano de Metas a emissão de papel moeda e a
autorização de multinacionais no estado brasileiro, essa resolução foi
catastrófica, pois elevou a inflação e aumentou o numero de companhias
estrangeiras na esfera industrial afetando significativamente nossa economia.
Juscelino
Kubitschek sentia a oposição se evidenciar cada vez mais por causa da escolha
tomada a essas medidas, gerando fortes criticas justamente de quem mais lhe
apoiava, no caso, o movimento nacionalista. A critica contra o modelo
internacional de JK a participação do capital estrangeiro era grande entre os políticos,
estudantes, sindicalistas e acusando JK de: “entregar o país ao capital
estrangeiro, vinculando-o a lógica imperialista, por isso a necessidade de
reformulação nos projetos das bases nacionais sobre a industrialização”. Ocorriam
agora alianças entre os setores sociais populares onde era evidente a defesa da
indústria e suas reformas nos setores agrários para melhorar o padrão econômico
da população em vista de propostas para melhorias na qualidade de vida desses
trabalhadores e de apoio em especial as classes rurais e urbanas. Assim, cabia
ao Estado brasileiro essa empreitada de zelar sobre esse controle e suas
conseqüências, desenvolvendo como possível resposta aos impasses surgidos uma
espécie de capitalismo estatal.
Outras possíveis
soluções foram apontadas para esses problemas como o controle sobre as remessas
de lucros, royalties e outros ganhos a fim de diminuir o impacto dos recursos
mandados para o exterior por setores importantíssimos da economia como o da
energia. O foco internacional não era mais a nossa economia, os blocos
capitalista e socialista concentravam-se em sua
industrialização baseada no bipolarismo internacional da Guerra Fria. Os
nacionalistas contrários ao ISEB desejavam a participação do capital
estrangeiro em nossa economia para reproduzir em novos termos a vinculação de
nossa economia aos países ricos e industrializados, isso colocaria em risco
todos os projetos aplicados na recuperação de nossa indústria e aplicação
econômica encima dela, correndo o risco de eliminar com as chances do tão
sonhado desenvolvimentismo sobre a satisfação dos interesses populares. O que ocorria na
realidade era de que se isso acontecesse, a economia do Brasil retornaria a
década de 30, pois era: “era baseada na agro exportação e para os compatriotas
de JK, isso seria o mesmo que retornar ao semi colonialismo significando o
retorno do modelo oligárquico e latifundiário, não sendo um possibilidade
presente na etapa da “revolução democrático-burguesa brasileira”, que visava
precisamente, segundo eles acabar com a dependência externa e, portanto, com o
caráter ainda “semi colonial” brasileiro”.
Henrique Teixeira Lott |
O projeto ruralista.
O Plano de Metas
juscelinista se baseava acima de tudo na realização do projeto do Plano Piloto
de Brasília e o cruzeiro rodoviário, após a construção e
inauguração, é que sua “condutividade” como presidente realmente se
concretizaria. Para o período, a nova capital federal era considerada uma obra
“faraônica”, mas representava a ideologia desenvolvimentista e simbólica do ideário
jusceliniano, todo esse “know how” estava ligado a sua figura, ou seja, o
“espírito de sua administração”. O fato era de
que havia pontos falhos nesse projeto de industrialização, como por exemplo, a
falta de comunicação entre os centros industriais do sudeste e as áreas produtoras
de agro produtos no interior das principais cidades, a mão de obra para essas
indústrias dependia então de uma integração nacional generalizada e não era o
que estava acontecendo. As áreas agrícolas forneciam os alimentos responsáveis
pela manutenção dessas cidades bem como a matéria prima para as indústrias que
dependiam desse setor agropecuário; se houvesse maior coesão entre esses
setores, haveria melhor condições de crescimento frente à demanda interna de
produtos, aumentando a urbanização e industrialização, se isso não acontecesse,
até mesmo a intensificação econômica, rural, industrial e territorial ficariam
comprometidas.
Brasília se
propunha através de seu Plano de metas da integração nacional, baseado no
cruzeiro rodoviário a integração tão sonhada por JK, pois, representaria o
processo de integração territorial e produtivo do Brasil. Os custos da capital
foram avaliados em torno de 250 e 300 bilhões de cruzeiros, tudo
isso estava ocorrendo de acordo com a ideologia de expandir o país através do
desenvolvimento industrial. “ seria a hora de por em pratica, pois, a
perspectiva industrial dando novo significado a novas terras para a implantação
desses projetos, pois as terras eram apropriadas para a criação pecuária,
agricultura além da riqueza do solo. Os eixos Rio – São Paulo agora eram vistos
como sinônimos de atraso, pois toda a dinâmica brasileira estava voltada para
essas duas cidades, o resto do país ficava a mercê deles, implicando em sérios
problemas sociais, econômicos, administrativos dentre outros, a nova realidade
não admitiria mais isso, então, o altiplano agora era visto como possível
solução para esses problemas”.
A agropecuária
brasileira tinha agora um novo significado, pois desde a grande crise de 1929,
sua produtividade passou a sofrer reestruturações, deixando de ser agro exportadora
para atender a demanda do mercado interno que estava voltado para a indústria
bem como sua reorganização do setor agrícola. Em meados de 1940 e início de 1950, a realidade já
percebia essas mudanças, agora a indústria era que ditava o desenvolvimento, o
setor agro industrial continuou ainda com sua relevância, pois, ele ainda
trazia divisas ao país, tudo girava em torno de comunidade, onde um setor
complementava outro. Baseado nessa nova
realidade, fosse ela amada ou odiada, o fato era de que as cidades estavam
crescendo, a imprensa esta o tempo todo encima dos acontecimentos, movimentos
sociais, democráticos, a impressão que se tinha era de que tudo estava dando
realmente certo e esse era o momento ideal para aproveitar essas oportunidades e
construir um novo período político dando as diretrizes do desenvolvimento
brasileiro articulando e harmonizando as reivindicações em nome dos interesses
nacionais e principalmente das indústrias.
O Plano de Metas
era considerado como a “revolução industrial”, em contra partida da experiência
russa e chinesa, pois o Brasil caminhava para o progresso sem um regime
comunista. Para JK essa era a hora perfeita de fazer a nossa revolução industrial
antes que o povo a fizesse; o fato era que o setor rural tinha fortes ligações
com a industria, isso se evidenciava através do aprimoramento das estradas para
escoar a produção, bem como a construíram-se silos, armazéns e frigoríficos
tudo em nome do setor agro mercantil. A manutenção dos latifúndios era vista
como uma preservação da reforma agrária, por isso a representatividade se fazia
pela proibição do voto ao analfabeto, imposto territorial, isso afetaria ainda
o Estatuto Rural direta e indiretamente os homens e mulheres que trabalhavam no
campo bem como seus direitos sociais já conquistados pelos trabalhadores
urbanos.
Industrialização e expansão do modelo
oligárquico de apropriação territorial.
De certa maneira
JK era ajudado pelos ruralistas com seu programa de desenvolvimento, a
oligarquia não era contra o progresso, o presidente também não demonstrava ser
contra os latifundiários que por sua vez apoiavam o governo, pois, contemplaria
alguns ruralistas no seu governo, a idéia de haver conflitos entre as
ideologias ruralistas e industriais não passavam de “ficção”. A construção de
Brasília evidenciou essa realidade através da demanda de alimentos, fato
registrado pela modernização desse setor agrícola, principalmente pelo uso de
fertilizantes e tratores utilizados nas lavouras. Para a oligarquia, era o
momento de expansão de seu mercado, por isso não tinha que ficar contra os
planos de melhorias de JK, já para os esquerdistas a prioridade era a reforma agrária
em setores com forte agitos de conflitos nas esferas policias, sociais e
econômicas. O presidente por sua vez, “nada fez” fato bastante criticado pela
oposição, pois, era visto como omisso em relação à reforma agrária, além de fazer
vista grossa para o capital estrangeiro que entrava no país.
Percebia-se que JK
nutria certa simpatia pela oligarquia, pois, o modelo de expansão era uma
questão de apropriação territorial e era isso que ele pretendia em relação as terras
brasileiras em direção do interior brasileiro; Brasília representava essa
corrida juntamente com seu cruzeiro rodoviário, fato que ocorreu sim, mas sem a
disciplina que a ocupação precisava, bem como a posse e formação das
propriedades rurais desapropriadas, nesse contexto, a elite rural só sairia
ganhando e se fortaleceria cada vez mais economicamente, socialmente e
politicamente, aumentando seu poder oligárquico rural, por outro lado, a
exclusão social entre homens e mulheres pobres aumentaria drasticamente.
Para JK o
representativo de progresso neste momento era a marcha para desbravar o oeste,
fato já ocorrido nos governos de Vargas, no governo JK isso se fez presente com
a construção da nova capital federal e no governo militar a colonização da
Amazônia, essa por sua vez, inspirada nos dois fatos anteriores. A intenção
desse projeto de colonizar o interior era para suprir os “vazios demográficos”
e obter êxito no combate a formação de latifúndios através de fronteiras agrícolas,
pois, o intuito era integrar o país através de Brasília e o Cruzeiro Rodoviário,
pois esses ampliariam o mercado interno, elevariam as condições sociais e
econômicas, dando a população pobre trabalho no campo, essa dinâmica não
aconteceria pela ampliação do mercado interno, mas baseada na pequena
propriedade, aproveitando a demanda já existente no interior. Como em todo o
progresso, alguém sempre sairia perdendo e nesse caso foram às populações
frágeis do N e CO, composta por posseiros, ribeirinhos e índios que ainda não
contavam com a proteção aos índios e estavam fora dos planos da grande marcha
para desbravar as terras do oeste. Houve ainda setores que também não escaparam
da maquina governamental da caminhada para o desbravamento das “terras
indômitas” como os posseiros e trabalhadores, o fato piorava quando eles não
tinham chance de adquirir novas posses nessa corrida da expansão agrícola.
Carlos Lacerda |
SPI |
Cidadania e nacional – desenvolvimentismo.
A produção
capitalista foi o principal fato ocorrido no governo JK, que por sua vez
apresentava o detalhe de não infringir as leis democráticas como havia ocorrido
no Estado Novo de Vargas e posteriormente aconteceria no período militar; mas
isso não quer dizer que não havia mazelas no governo de Juscelino, havia sim e
muitas, como por exemplo, a cidadania, os direitos sociais, políticos, jurídicos,
econômicos da população. Foram setores que não acompanharam o desenvolvimento
proposto junto da industrialização do país, a maioria da população sofria os
mesmos problemas periféricos a margem dos benefícios gerados pelo desenvolvimento
e crescimento da economia. Nesse ínterim, diante dos fatos que estavam
acontecendo, o ISEB procurava formar alianças entre os burgueses, proletários,
camponeses e a nova classe media para dar continuidade aos projetos de JK com
seu Plano de Metas fortemente presente na capital federal com a presença do
capital estrangeiro e a associação dos grandes interesses ruralistas.
Apesar da oligarquia
rural não apresentar mais o poderio da época do império e da republica, ela
ainda tinha sua representatividade política ao fatos do período jusceliniano a
ponto de fazer parte de seu projeto ruralista e industrial nos âmbitos
nacionais e internacionais num misto de toda essa sistemática. Embora toda a
dinâmica parecesse forte, a democracia sacrificou grande parte de sua
cidadania, pois a maioria de sua população vivia em zonas rurais, por isso o
período de Juscelino Kubitschek não foi todo esse esplendor não, a despeito
disso, Juscelino prometera que: “por meio de seu governo a “ aparência triste
de um invalido esmorecido, com que Euclides da Cunha pintou o retrato de nosso
sertanejo, tende a apagar-se do panorama brasileiro”. Esses fatos
ocorreram por falta de projetos como a reforma agrária baseada em pequenas
propriedades nas zonas de fronteiras agrícolas, onde visasse qualquer melhoria
de vida e qualidade de trabalho tanto para homens quanto para mulheres, a ponto
de parecer que estavam vivendo numa realidade mais para a ficção do que para a
realidade. Outro detalhe que contou contra as metas de JK foram o não
cumprimento de suas promessas de campanhas de desenvolvimento sociais
associadas ao desenvolvimento econômico, onde a população sertaneja não atingiu
melhorias na qualidade de vida, bem como na melhoria de desenvolver os níveis
em outras regiões não foram superados, principalmente as diferenças entre as
regiões NE e SE, pois a maioria dos nordestinos não tinham acesso a terra,
saúde, educação, saneamento básico, direitos políticos, proteção da legislação
social e trabalhista.
Apesar de toda a
eficácia e dinâmica proposta, os acontecimentos não eram vistos ainda como não
suficientes pelos países estrangeiros para elevar o Brasil a país desenvolvido,
assim permaneceria na pobreza da desigualdade social tão presente na sua
própria historia como nação. Embora esses problemas não fossem sanados da noite
para o dia, JK trabalhou dentro do possível de maneira plausível com o que
dispunha para a época e apesar do país passar por fases turbulentas saindo de
ditaduras, ele se saiu como um representante democrático a altura do povo com
características hábeis e astutas o suficiente para se destacar como um
estadista, pois intensificara a ocupação do território nacional por meio de obras
de engenharias que ligavam o interior ao litoral (Sevcenko, 1985, p. 140 – 141),
procurando integrar a nação num todo.
Conclusão.
Juscelino
Kubitschek foi um homem além de seu tempo em todos os sentidos, tanto político como visionário, pois, tirou Brasil de
seu atraso e projetou-o como uma potencia moderna e desenvolvimentista; coube
ao presidente mudar as políticas vigentes em relação as dinâmicas vigentes em
relação ao modo de proceder da sociedade brasileira do período, como? Mudando a
realidade industrial e comercial, criando industrias de base, capitalizando o
país com recursos internacionais, criando toda a infra estrutura necessária
para sairmos da condição de uma nação rural agro exportadora para entrarmos no
seleto grupo de nações dominantes ou pelos menos emergentes no sentido de
projetar-nos dentre os melhores. A maneira de agir de JK foi astuta e sábia,
pois, costurou antigas alianças e renovou ainda mais as novas, trabalhou o
nacionalismo de forma que os brasileiros abraçaram a idéia, sendo considerado o
idealizador dos projetos Getulio Vargas, por isso sua simpatia e aceitação do
grande publico a ponto de mudar e construir uma nova capital sob sua égide
governamental.
Coube a
Juscelino colocar em pratica o que a maioria dos presidenciáveis nunca haviam
feito e de maneira democrática, respeitando a Constituição Brasileira e seus
concidadãos. A potencia que somos hoje se deve em grande fato aos feitos deste
presidente que a mais de seis décadas sonhava em ver nosso país soberano e
prospero; como todo político pecou em algumas áreas da sociedade e em outras
acelerou e dinamizou o processo do modernismo para nos gloriarmos no que somos
atualmente, uma nação exemplar de brasileiros guerreiros e batalhadores, esse
era o ideário juscelinista.
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da experiência democrática, da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de
1964. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2003.
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